sábado, 8 de junho de 2024


08 DE JUNHO DE 2024
HISTÓRIA

HISTÓRIA

Por séculos, o Rio Grande do Sul foi disputado pelas coroas ibéricas, mantendo fronteiras indefinidas e uma população dispersa e marginal. A ocupação efetiva do território gaúcho só teve início no século 18. No começo da década de 1820, a província tinha cinco municípios e apenas 67 mil habitantes, dos quais 9 mil eram indígenas e 20 mil, escravizados africanos. Algumas estimativas da época falam em uma população total próxima a 92 mil pessoas.

O povoamento europeu da região de Porto Alegre havia se iniciado no começo dos anos 1750, com a chegada de casais açorianos trazidos pelo governo português. Em 1772, o então "Porto dos Casais" foi elevado à categoria de freguesia, tendo no ano seguinte recebido o nome de Nossa Senhora da Madre de Deus de Porto Alegre. Em melhor posição geográfica e estratégica do que Viamão, a freguesia foi transformada em capital da província. Em 1822, ganhou o foro de cidade. Segundo dados oficiais, nessa época Porto Alegre contava com uma população de cerca de 6 mil pessoas - ou 12 mil, conforme os cálculos de alguns viajantes europeus.

Entre eles estava o botânico francês Auguste de Saint-Hilaire, que visitou o Rio Grande do Sul em 1820. Observador atento, ele escreveu sobre tudo o que viu. A capital gaúcha o impressionou tanto pelo número de casas novas e de dois andares quanto pela sujeira: "Depois do Rio de Janeiro, ainda não tinha visto uma cidade tão imunda". As habitações eram construídas de pedra e tijolos e os telhados, pintados de branco. Porto Alegre possuía então diversas ruelas e pelo menos três grandes ruas calçadas, entre as quais a "extremamente movimentada" Rua da Praia.

Saint-Hilaire descreveu as várzeas e os campos cultivados com plantações de mandioca e cana de açúcar que cercavam a cidade. Elogiou o clima ameno da província, que diferia do calor escaldante do Rio e Salvador. Achou que a atmosfera lembrava a França. Em julho, durante sua estadia, houve geada "quase todas as noites" - segundo ele, o suficiente para se colher gelo para fazer sorvetes.

Contudo, para espanto do francês, os gaúchos não aqueciam as casas, como faziam os europeus. Segundo ele, os porto-alegrenses se protegiam do frio vestindo "um espesso capote que lhes embaraça os movimentos e os impede de tremer de frio". Ele também escreveu sobre o hábito do chimarrão, servido em uma pequena cuia cuidadosamente esculpida com desenhos variados e uma bomba de prata, e "o ligeiro perfume misturado de amargor" da bebida. "Logo que um estranho entre na casa, oferecem-lhe mate imediatamente", observou.

Outro estrangeiro que deixou observações sobre o Rio Grande do Sul dessa época foi o alferes Carl Seidler. Agenciado por Schaeffer, o jovem alemão chegou ao Rio de Janeiro em 1825, para servir no Exército imperial, dentro do projeto de imigração criado por José Bonifácio. Seidler não escondeu sua preferência pela capital gaúcha em detrimento das demais cidades brasileiras por onde passou. Em seu livro de memórias afirmou que Porto Alegre era "bonita e romântica quando olhada da lagoa dos Patos" e "certamente a mais agradável estada que o Brasil pode oferecer aos alemães". 

Como seu contemporâneo francês, notou o clima ameno e a paisagem característica, as ruas regularmente calçadas, alguns edifícios notáveis (como o Palácio do Governo, concluído em 1789 e demolido no final do século 19 para construção do Piratini) e as belas igrejas (como a antiga Matriz, que mais tarde daria lugar à Catedral Metropolitana). Naquele tempo, os limites urbanos de Porto Alegre mal passavam da Rua da Igreja, a atual Duque de Caxias. Seidler também descreveu o hábito do chimarrão, a "bebida aromática" que era servida numa cuia com "um canudo fino, provido de peneira numa ponta".

Foi para o despovoado Rio Grande do Sul que d. Pedro I decidiu enviar os imigrantes alemães que começavam a chegar ao Rio de Janeiro em 1824. Eles seriam recebidos na pequena e pitoresca Porto Alegre, antes de serem enviados para seu destino final: a colônia de São Leopoldo.

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