sábado, 25 de setembro de 2021


25 DE SETEMBRO DE 2021
ARTIGOS

SOCORRO, PAREM AS BICICLETAS!

A Zero Hora do dia 8/9 nos diz que "Andar de bicicleta em Porto Alegre será mais seguro somente depois de 2100", pelo aumento de ciclovias e ciclofaixas: quase 500 quilômetros (!) em 2109. Fiquei preocupado.

Não por mim, pois no atual estado da arte das ciências da saúde é difícil que uma pessoa viva 121 anos. Fiquei pesaroso pelas pessoas pedestres que virão.

Bons tempos quando nós, pessoas peregrinas, éramos oprimidas apenas por carros, ônibus e lotações. Andavam eles, soberanos, nas ruas, e raramente invadiam as calçadas. Com a gasolina a peso de ouro e os carros híbridos/elétricos inacessíveis para a maioria da população, esses meios de transporte serão cada vez mais raros.

Hoje e já há algum tempo, as bicicletas, sob o signo da proteção ambiental, tomaram pretensões hegemônicas e passaram a oprimir as pessoas que optaram pelo meio de transporte mais rudimentar: os pés.

Há uma qualificadora: as magrelas, diferentemente dos automotores, frequentam calçadas, corredores e demais espaços que, a rigor, seriam apenas para pedestres. Mesma coisa quanto a patinetes e congêneres, dos quais não falarei nestas breves linhas.

Sim, caminhar na orla do Guaíba, naquele trecho desde a Fundação Iberê Camargo, tornou-se tão perigoso quanto caminhar no Centro. Neste, o risco é ser atropelado por um automotor. Naquele, o risco é ser prensado entre bicicletas.

Pessoas ciclistas de todas as idades, gêneros, muitas sem máscara, andam na faixa de pedestres, ignorando que as pessoas peregrinas são lentas e fracas e precisam ser respeitadas no seu espaço - cada vez menor. Paradoxalmente, as pessoas ciclistas tornaram-se para as pessoas peregrinas aquilo que os automotores representam para elas: perigo.

Até 2100, caso mantida a progressão de desrespeito e falta de civilidade por parte de algumas pessoas ciclistas, com quase 500 quilômetros de ciclovias e ciclofaixas, talvez não seja mais possível sair de casa a pé. Se caminhar será cafona, não sei. Mas será extremamente arriscado.

SAMUEL SALIBA MOREIRA PINTO

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