03 de Março de 2025
GPS DA ECONOMIA - Alexandre Gehlen
Respostas capitais
CEO e fundador da rede gaúcha ICH Administração de Hotéis, dona das marcas Intercity, Yoo2, Cityhome by Intercity Hotels e Tru by Hilton no Brasil
"O brasileiro aprendeu que é legal viajar pelo Brasil"
A rede gaúcha ICH, que tem 43 hotéis no país, deve finalizar um projeto "emblemático" em Porto Alegre neste ano: um empreendimento dentro do Country Club. A expansão para os próximos anos, no entanto, não tem o Rio Grande do Sul em sua base, diz o CEO e fundador da ICH, Alexandre Gehlen. Após "um dos melhores anos da história", a empresa prevê crescer no Brasil, porque não há motivos para "sair enquanto temos um campo enorme de mercado".
O que o Estado de origem da ICH representa para operação atual da empresa?
Nascemos em 1999. Os primeiros investimentos foram todos no RS, que estava crescendo muito na época, com a implantação da GM (General Motors), da Ford. Naquele contexto, era o Estado que estava recebendo toda a atenção. Ao longo dos anos, viramos uma empresa nacional. Dos nossos 7 mil quartos, 23% estão no RS.
Como a empresa avalia 2024?
A empresa faturou cerca de R$ 700 milhões em 2024. O nosso ciclo está muito vinculado às características macroeconômicas, microeconômicas e até de superoferta. O melhor ano da hotelaria brasileira foi 2012. Depois, tivemos anos de queda. Batemos o pior momento em 2017. Em 2020, veio a pandemia. Apostávamos que o novo normal seria viajar, e em 2022, as pessoas realmente voltaram a viajar com mais frequência. O ano de 2023 foi espetacular, e 2024, ainda acima. Ouso dizer que 2024 foi um dos melhores anos da história da ICH.
Por quê?
Fomos beneficiados pelo Perse, que é um programa do governo que isenta empresas da nossa indústria de alguns tributos. Fez com que pudéssemos devolver esse tributo para o caixa, para investidores, usar para reforma. Também tivemos uma indústria de shows, eventos e entretenimento muito pujante em 2024. Neste ano, o tributo volta, e estamos projetando um 2025 de mais estabilidade, com crescimento perto de 9%.
O que explica a projeção?
Tem uma inflação que não dá para desconsiderar. Mas, se nós olharmos o pós-pandemia, a primeira resposta seria: o brasileiro aprendeu que é legal viajar pelo Brasil. Temos um câmbio que desfavorece viagem internacional e um país que merece se destacar para um público interno. E não temos superoferta hoteleira no horizonte de curto e médio prazos. Olho o nosso orçamento de 2025 como um otimista cauteloso, um realista.
Tem efeito do câmbio?
Quando o dólar era R$ 2, tínhamos muitos brasileiros viajando para fora e poucos estrangeiros vindo para o Brasil. Há 30 anos, o país recebe 6 milhões de turistas estrangeiros por ano. Quando tem uma ruptura e o dólar vai a R$ 6, o setor sofre impactos como a chegada de vizinhos argentinos e uruguaios em viagens de até 5 horas. Tivemos uma ocupação muito importante no RS, em SC e até no RJ, mas é momentâneo. Depois das férias, volta à normalidade. A longo prazo, com um câmbio nesse patamar, a tendência é que a gente receba mais estrangeiros em cidades turísticas, como é o caso de Rio de Janeiro, Recife, Salvador.
Teve impacto no resultado?
Tivemos um incremento importante. Em Florianópolis, por exemplo, cerca de 30% dos clientes vieram do Chile, porque tem uma rota aérea ligando Santiago e Florianópolis.
E no Rio Grande do Sul?
Tenho a impressão de que foi entre 10% e 20%, no máximo, principalmente de argentinos e uruguaios. Não foi tão expressivo quanto Florianópolis. O Litoral tem mais importância para esse turista do que a Capital.
Como está o projeto de expansão da ICH?
Começamos construindo os nossos hotéis. Em 2004, migramos para prestação de serviços. Emprestamos o nome, o know-how (fórmula de negócio) e tecnologia para investidores. Esse modelo depende muito do anseio de fazer novos negócios. A próxima abertura é em Chapecó (SC), um hotel Tru by Hilton. Temos um acordo com a rede Hilton e trouxemos para o Brasil a marca Tru by Hilton, de hotéis econômicos. Temos obras em Marechal Cândido Rondon (PR), Teresina (PI). Também temos uma unidade Tru by Hilton importante na região de Tatuapé, o nono endereço em São Paulo, e um Intercity, de hotelaria urbana média, em Cascavel (PR). Mas um dos projetos mais emblemáticos será o do hotel que estamos iniciando a construção agora, no Terminal 3 do Aeroporto Internacional de Guarulhos.
Qual será a bandeira?
Vai ser uma marca internacional que está sendo negociada ainda, e a operação é da ICH. Ainda tem o hotel de Porto Alegre, com a CFL, que vai trazer um outro patamar de hotelaria para capital gaúcha. Será um hotel dentro do Country Club, com 84 apartamentos, todos voltados para o campo. Já neste final de ano, início do ano que vem, vai abrir as portas. Vamos ter dois papéis, de operador e de investidor. A CFL é incorporadora e sócia do empreendimento. Ainda estamos tratando a marca, mas garanto que é uma hotelaria padrão superior. Nas próximas semanas, devemos ter algo para comentar.
Há outro projeto em andamento no mercado gaúcho?
Os novos hotéis estão fora do Estado. Mas, depois da enchente, renovamos o hotel do aeroporto Salgado Filho. Estamos fazendo o mesmo padrão de reforma em Florianópolis e, assim que concluir lá, vamos vir para Caxias do Sul.
Por que os planos de expansão são fora do Estado?
São oportunidades e ofertas que surgem. São mais de 3,8 mil investidores que nos chamam a todo momento para ver estudos vocacionais, e esses investidores muitas vezes não estão no RS. Atendemos a uma demanda existente. Criar demanda já é um pouco mais difícil. Mas tem cidades gaúchas que merecem atenção, especialmente as secundárias, como Passo Fundo, Santa Maria, Santa Cruz do Sul.
O que faria o Estado ser mais atrativo?
O crescimento vem da origem, das pessoas que vivem naquele local. Talvez a cidade que mais se destacou nos últimos 20, 30 anos em termos de saber fazer turismo é Gramado. Na cola, vem uma nova cidade que está buscando o seu espaço no mercado nacional, que é Bento Gonçalves. O nosso Litoral poderia ter esse viés. E Porto Alegre é o centro disso tudo, onde as pessoas chegam e saem. Cabe a nós, porto-alegrenses, saber fazer com que os turistas fiquem um pedaço do tempo deles.
A ICH tinha uma operação em Montevidéu. Há novos planos para o Exterior?
Montevidéu foi uma experiência enriquecedora. Com a superoferta, os investidores locais entenderam que era o momento de migrar para outro tipo de negócio, e nós ficamos na gaveta. Focamos no mercado brasileiro, mas não significa que não possamos mirar Uruguai, Argentina, Chile, Paraguai. Não temos nada no horizonte hoje. Sair do Brasil enquanto temos um campo enorme de mercado seria dividir forças. _
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