quinta-feira, 30 de setembro de 2021


30 DE SETEMBRO DE 2021
DAVID COIMBRA

Acordei rico

Ontem acordei me sentindo rico. Foi uma sensação agradável. Em primeiro lugar, porque ricos dormem bem. O sono deles é restaurador e macio, eles ronronam feito gatinhos debaixo de edredons brancos e acordam quando tênues raios de sol se esgueiram pela janela. Ricos, já percebi, não gostam de dormir com o quarto totalmente escuro, como gosto. Eles querem sentir a manhã despertar, querem ouvir o canto dos pássaros e tudo mais.

Talvez seja por isso, por desfrutarem de noites de sono perfeitas, que a pele dos ricos é tão boa. Ontem, minha pele estava impecável, graças a minha súbita riqueza.

Tenho a impressão de que sei qual é a origem dessa minha afortunada sensação. Foi um vídeo da Camila Coelho que vi no Instagram. A Camila Coelho morava em Boston na época em que morei lá. Ela é modelo internacional. É morena, pequena e magrinha. Tem uns lábios carnudos e uns grandes olhos negros muito expressivos. E é rica. Sabe como ela enricou? Tornando-se uma das primeiras youtubers de moda do Brasil. A partir daí, o mundo fashion se abriu para ela e os dólares jorraram para dentro de suas bolsas Louis Vuitton.

Neste vídeo que assisti, Camila fala do final de semana que passou em Como, no norte da Itália. Ela começou mostrando a mesa do seu desjejum. Omeletes. Frutas da estação. Aquela coisa. Depois, cenas de um passeio de lancha pelo lago. Na ponta do lago, há uma doce cascata que se derrama entre morros e mansões. Por fim, lá está ela de roupão branco, contando como passou dias trabalhosos em Nova York e Milão e, por isso, decidiu relaxar em Como. Porque é preciso descansar, ensinou. Senão a gente se estressa e não faz as coisas direito. Camila se preparava para uma semana de desfiles em Paris, cidade que a-do-ra, e por isso tinha de estar bem recomposta.

Concordei com Camila e, como estava me sentindo tão rico quanto ela, estendi-me numa espreguiçadeira a fim de tomar um pouco de sol depois do café da manhã. Aprendi que o dia do rico tem de ser assim, ponteado de pausas para relaxamento. Gostei disso. É uma ótima ideia.

Mas tinha de trabalhar, paciência, fui para meu "home office" suspirando e pensando que há ricos que trabalham. Então, aconteceu: vi uma mosca. Ela estava parada no vidro da janela, tentando inutilmente passar para o outro lado. Aquela cena me fez mal. Não há moscas na vida dos ricos. Tudo é limpo, tudo é imaculado, insetos não são bem-vindos em lugares habitados por ricos.

Aquela mosca me fez desabar no solo duro da realidade. Foi como se alguém me sacudisse e gritasse:

- Você não é rico! Você gosta de massa com sardinha!

Voltei, assim, a ser quem sou: um homem sem dólares, sem roupão branco, sem finais de semana à beira do Lago Como.

Aquilo me chateou e até senti minha pele piorar. Mas daí a Marcinha veio da cozinha, e trazia nas mãos uma xícara de café e uma fatia de bolo de canela. Sorri. Provei o café e o bolo. Estavam ótimos. Virei-me para ela, agradeci e murmurei:

- Sou mesmo um homem rico.

DAVID COIMBRA

30 DE SETEMBRO DE 2021
OPINIÃO DA RBS

O PARADOXO DO EMPREGO

Uma das iniciativas aprovadas no âmbito do Pacto Alegre, o projeto Cidade Educadora, que teve a largada na terça-feira, tem relação direta com a solução de um dos grandes problemas que afetam o país. O objetivo é preparar a Capital para os desafios do futuro, tendo o ensino como base, preparando jovens e a população em geral para uma nova realidade, em que o conhecimento digital, por exemplo, será um dos diferenciais para o desenvolvimento. Graças a esse movimento, Porto Alegre voltou a integrar a Rede Internacional das Cidades Educadoras.

A formação adequada, incluindo a necessidade de preparar crianças e adolescentes para a vida profissional, é hoje um dos principais gargalos da economia, notadamente de alguns setores promissores, não apenas em Porto Alegre, mas no Estado. Parece paradoxal, mas enquanto o país vive um período de desemprego elevadíssimo, existem milhares de vagas que não são preenchidas porque as empresas não encontram mão de obra com a qualificação exigida. Isso ocorre na área de TI e outras correlatas ligadas a inovação, por exemplo. Reportagem publicada no início do mês por Zero Hora mostrou que a Associação das Empresas Brasileiras de Tecnologia da Informação no Estado (Assespro-RS) calculava que, apenas no Rio Grande do Sul, existiam cerca de 6 mil postos de trabalho abertos. Em alguns empregos, há salários oferecidos de até R$ 15 mil.

As empresas gaúchas ligadas à TI cresceram 10% no ano passado, em meio à crise da pandemia, e projetam manter o ritmo de evolução na casa de dois dígitos em 2021 e 2022. A falta de capital humano na quantidade adequada, no entanto, se torna um empecilho para um avanço potencialmente ainda maior. A alta procura por mão de obra capacitada não é uma exclusividade do Rio Grande do Sul. Em todo o país, serão necessários cerca de 400 mil profissionais até 2024, estima a Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom), dando uma dimensão da carência.

Diante da escassez de pessoal, há iniciativas das próprias empresas e do Instituto Caldeira que buscam captar jovens interessados, capacitá-los e, com isso, criar um banco de talentos capaz de ofertar o capital humano demandado. O esforço para evitar esse verdadeiro apagão, no entanto, tem de ser conjunto, unindo capital privado, poder público, academia e sociedade civil. Enquanto o país padece com mais de 14 milhões de desempregados, constata-se que existe procura firme por mão de obra qualificada. Mas ainda se peca na formação. Toda a base, no entanto, tem de estar na escola, garantindo a crianças e adolescentes as capacidades mínimas para explorarem as oportunidades existentes e se desenvolverem profissionalmente. Aptas, ajudarão no crescimento de setores portadores de futuro e contribuirão para o fortalecimento da economia gaúcha.



30 DE SETEMBRO DE 2021
ACERTO DE CONTAS GIANE GUERRA

Cerveja ficará mais cara

Vem chegando o calor e, de lambuja, um aumento no preço da cerveja. Dona de marcas como Skol, Brahma, Antarctica, Bohemia e Stella Artois, a gigante Ambev comunicou reajustes aos clientes. À coluna, a empresa disse que muda, periodicamente, os preços de seus produtos tendo como base a região, o canal de venda e a embalagem. No setor da alimentação, a informação é de que o reajuste fica em cerca de 10%, o que é inflação acumulada ao consumidor no último ano. Pela pesquisa do IBGE, a cerveja subiu 9,32% na região metropolitana de Porto Alegre em 12 meses. O vinho aumentou um pouco mais, 9,57%. Empresário gaúcho da RH Bebidas, Ricardo Holz foi informado na semana passada por um vendedor de que ocorreria o aumento das bebidas alcoólicas da empresa. As demais já foram reajustadas na metade de setembro.

- Todos os anos tem (aumento dos preços). Faz parte do jogo. Vai subir em torno de R$ 6 a caixa - diz ele.

Segundo Holz, as bebidas que usam embalagens descartáveis já haviam aumentado em 2021. Faltou alumínio para latinhas e vidro para garrafas, o que elevou o preço e afetou entregas, até fixando limites por estabelecimento. Não foi uma peculiaridade da Ambev, que concentra 60% do mercado de cerveja. Outras marcas, como Heineken, apresentaram o problema ainda na metade do ano passado. Além disso, o custo da energia e do transporte pesa no caixa das empresas.

Energia a partir da sobra do calçado

Com 11 fábricas, a Calçados Beira Rio construirá uma usina-piloto para destinar suas 500 toneladas de resíduos mensais. Hoje, parte vai para fabricação de novos produtos, mas a ideia é gerar energia com o restante por meio da tecnologia pirólise. Após três anos de estudos, foi liberada pela Fepam a licença para a unidade, que ficará em Taquara, junto da fornecedora Ambiente Verde. Quem acompanhou a tramitação foi o deputado estadual Dalciso Oliveira (PSB), também calçadista e entusiasta da tecnologia. Segundo o diretor industrial da Beira Rio, João Henrich, o projeto tem potencial de gerar 200 empregos e demandará até R$ 15 milhões, com retorno previsto em até cinco anos.

Para análise de impacto, a usina consumirá, inicialmente, três toneladas de sobras de calçados por dia. Elas serão aquecidas em fornos, gerando gás de síntese e carvão rico em hidrogênio, usado em geradores elétricos para fornecer energia. Já o carvão residual será reaproveitado para componentes de calçados.

- Após os testes, está prevista a construção de uma usina que consumirá 400 toneladas mensais de resíduos, gerando 1,4 MW (megawatts) de energia - conta Henrich.

A pirólise ainda é pouco usada no país. No início do ano, um empresário de SC chamou a atenção do presidente Jair Bolsonaro no Palácio do Planalto ao prometer investir em 200 usinas caso o setor tivesse regulamentação. Depois, a tecnologia entrou no Programa Combustível do Futuro, proposto pelo Ministério de Minas e Energia.

GIANE GUERRA

30 DE SETEMBRO DE 2021
+ ECONOMIA

O lado gaúcho do crescimento verde

Tem foco no Programa de Crescimento Verde a visita que o ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, faz hoje à unidade de produção de biodiesel da BSBios, em Passo Fundo (foto). É a principal peça que o governo Bolsonaro quer levar à COP26, em Glasgow, para tentar colocar em prática o compromisso de neutralizar as emissões de gases de efeito estufa até 2050. A visita e seus objetivos foram confirmados à coluna pelo diretor-presidente da BSBios, Erasmo Battistella:

- É a primeira visita de um ministro do Meio Ambiente a uma empresa produtora de biodiesel. Os biocombustíveis estão cada vez mais ligados à área ambiental e menos à energética. Com as mudanças climáticas, esse tema assumiu protagonismo, não só no Brasil, mas em todo o mundo.

Além de duas unidades de produção no Brasil, Battistella tem um ousado projeto de produção de biocombustíveis avançados no Paraguai, com contratos bilionários fechados com gigantes globais.

- Nosso compromisso de tornar a BSBios neutra em carbono até 2030 chamou a atenção do ministro, porque é a primeira empresa de biodiesel que fixa prazo tão curto. Vamos discutir como pode virar prática para muitas outras empresas.

Com essa chancela, Battistella avalia: 

- O Brasil precisa fazer mais, entrar no mercado de biocombustíveis avançados, com diesel verde, bioquerosene para avião. O Brasil não tem só queimada, tem muita coisa boa que não consegue mostrar lá fora.

Há outro tema em pauta: a redução de 13% para 10% do percentual de biodiesel na mistura do diesel, decidida sob alegação de redução de custo.

- O Ministério do Meio Ambiente já se colocou contrário à redução, e certamente vamos conversar sobre isso, mostrar a importância do programa - pondera.

MARTA SFREDO

30 DE SETEMBRO DE 2021
L.F. VERISSIMO

Inimaginável

Como já contei mais de uma vez, eu estava em Nova York quando mataram o John Lennon, em 1980. Anos depois, estava em Nova York quando a cidade fechou para enfrentar a fúria de um furacão que, mesmo chamado "Hugo", prometia ser o mais destrutivo de todos os tempos. Nos recolhemos ao nosso quarto de hotel com um bom sortimento de água mineral, preparados para o pior.

"Hugo" chegou com vento e chuva fortes e, que se saiba, não derrubou uma árvore ou carregou uma velhinha, mas durante um dia inteiro manteve a cidade acuada. E estávamos no mesmo hotel quando destruíram as torres do World Trade Center.

Não, não estou recontando isto para recomendar que, por precaução, nunca vá a Nova York quando eu estiver lá. É que, no recente aniversário do 11 de Setembro, me lembrei de que uma das músicas cantadas num concerto em benefício das famílias das vítimas logo depois dos atentados foi Imagine, do John Lennon. Justamente a música em que ele pede à sua geração que imagine um mundo sem países e sem religião, ou sem nada pelo qual lutar e morrer. Cantar Imagine foi uma maneira de evocar outra tragédia da cidade, o assassinato de Lennon, um nova-iorquino por adoção, anos antes.

Mas não foi exatamente uma escolha adequada. O fanatismo religioso era responsável pela loucura suicida dos que atacaram o World Trade Center, e o patriotismo ultrajado moveu a reação americana que culminou com o ataque igualmente irracional ao Iraque.

Não lembro como o público reagiu à música. O tamanho do ultraje não deixava muito lugar para o racionalismo idealizado por Lennon. A maioria dos jovens presentes na cerimônia estava disposta a lutar, matar e morrer imediatamente para vingar o ataque às torres. E os anos que se seguiram viram uma escalada da violência no Oriente Médio e em outras partes do mundo, quase sempre provocada pela religião e por questões étnicas. 

O islamismo radical ostentando suas atrocidades, a reação não menos insensata do Ocidente, o drama reincidente de refugiados tentando romper fronteiras impiedosas para sobreviver, tudo tornou a exortação de Lennon a sua geração uma amarga ironia. O mundo destribalizado ou transformado numa única tribo solidária e sensata sonhado por ele ficou inimaginável. E Imagine transformou-se, com o tempo, de um hino a uma utopia possível em um réquiem para a ingenuidade.

Luis Fernando Verissimo está em licença médica.

Esta coluna foi publicada originalmente em 20 de setembro de 2015.

L.F. VERISSIMO

30 DE SETEMBRO DE 2021
INFORME ESPECIAL

DO BEM

Em campanha pelo Outubro Rosa, a rede de franquias Bella Gula transformou a tradicional torta red velvet em pink velvet, em alusão à cor que representa a luta contra o câncer de mama. Parte das vendas do produto realizadas até o fim do mês será doada ao Instituto de Mama do RS. Um material informativo também será distribuído, ensinando a fazer o autorreconhecimento das mamas.

Empatia

Para quem gosta de andar com as magrelas pela cidade, passar ao lado de um ônibus pode ser um verdadeiro pesadelo. Pensando em proporcionar uma experiência real, a Coleurb, empresa de transporte coletivo urbano que atende Passo Fundo, instalou bicicletas fixas no pátio para que motoristas e cobradores tenham uma vivência diferente da qual estão acostumados no cotidiano. A iniciativa faz parte das ações da Semana Nacional do Trânsito.

Nota 10

O papai pop Marcos Piangers é a atração principal de um evento online e gratuito promovido pelo Sebrae para os professores gaúchos.

O objetivo é compartilhar reflexões e informações sobre saúde emocional e autocuidado com os mestres, que enfrentam os desafios da adaptação às novas plataformas de ensino e às tendências educacionais em transformação.

Inscrições: https://gzh.rs/3A3nxFv

Prestação de serviço

A Justiça do Trabalho gaúcha inaugura, até 15 de outubro, as novas instalações dos foros de Estrela e Novo Hamburgo e das varas de São Borja, Alegrete e Arroio Grande.

Os prédios atendem aos parâmetros de sustentabilidade, acessibilidade, funcionalidade, economia e adequação ao interesse público definidos pelo Conselho Superior da Justiça do Trabalho.

Medicina de ponta

O gaúcho Rafael Roesler foi eleito membro do Subcomitê de Educação da British Neuro-Oncology Society. Vai participar da elaboração de programas e atividades de educação e treinamento dos neuro-oncologistas e neurocirurgiões residentes e estudantes do Reino Unido. "Nesse caminho, trabalharei para identificar avanços que possamos usar no Brasil e estimular o intercâmbio com o Reino Unido", projeta. Roesler é professor titular do Departamento de Farmacologia da UFRGS, atualmente atuando como diretor técnico-científico da FAPERGS.

O médico Marcelo de Abreu é um dos convidados a palestrar em Davos, na Suíça, em um encontro sobre radiologia diagnóstica, área em que atua no Hospital Mãe de Deus. O debate abordará o livro Musculoskeletal Diseases 2021-2024: Diagnostic Imaging, da editora Springer, que conta com a participação de Abreu em um capítulo sobre ressonância da coluna vertebral em conjunto com o médico inglês David Wilson, da Universidade de Oxford.

Ecossistemas

O governador Eduardo Leite anuncia hoje, a partir das 14h, o maior investimento público estadual em inovação dos últimos 20 anos. O programa Avançar na Inovação conta com R$ 112,3 milhões, contemplando a Secretaria de Inovação, Ciência e Tecnologia, a Universidade Estadual do Rio Grande do Sul e a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul.

O evento, em formato híbrido, será transmitido ao vivo, do Instituto Caldeira, nas redes do governo e da secretaria.

Fica ou não fica?

Os leitores continuam se posicionando sobre a ideia de mudar o Laçador de lugar depois da restauração (https://gzh.rs/3ieRc8k). Abaixo, mais opiniões:

Tempos atrás estive em Posadas, na Argentina, e me chamou atenção uma grande estátua em um ponto avançado sobre o rio Paraná, junto a uma avenida beira-rio. Trata-se de uma homenagem a um líder guarani de nome Andrés Guacurari. Acho que podemos seguir essa ideia, colocando o nosso Laçador em um ponto avançado sobre o Guaíba, junto à orla revitalizada.

Jaime Ramos

Volta o Laçador para onde é o lugar dele, na porta da Farrapos, lugar onde, tu te lembras disso, esteve desde que tu te conheces por porto-alegrense. Que tirar selfie o que... O Laçador é na porta da Farrapos, sempre foi. Chê, tem coisas que não se pode mudar. Viu? Mudaram e não deu certo.

Rodrigo Arus

Nosso Laçador deve ficar onde as pessoas vão. Ali no Gasômetro, onde esteve o monumento ao Descobrimento, seria um belo local. E Paixão Cortes ficaria eternamente grato de assistir o pôr do sol do Guaíba e ser visto diariamente por milhares de pessoas.

Rolnei Corrêa Pinto

TULIO MILMAN

quarta-feira, 29 de setembro de 2021

 

Trevor Nasser - Al Lê Die Berge Nog So Blou  

À meia noite ao luar (Legendado)  

Sonja Herholdt Al lê die berge nog so blou

Fui a lenha para me aquecer

29 DE SETEMBRO DE 2021
DAVID COIMBRA

Não é bonito não saber

Não sinto orgulho das minhas ignorâncias. Aquela história de, ao estar diante de algo novo, a pessoa com desdém:

- Nunca ouvi falar.

A intenção é diminuir a importância da novidade. Em alguns raros casos, pode até funcionar. No ótimo seriado The Crown, eles contam uma história deliciosa sobre o casal Charles e Diana: ele, Charles, estava de aniversário e, para comemorar, os dois foram ao teatro. Só que ela preparara uma surpresa. Em meio à apresentação dos atores, cochichou no ouvido do príncipe que precisava ir ao banheiro, saiu e não voltou mais. Quando ele estava ficando preocupado, ela reapareceu no palco, dentro de outro vestido, junto com um dançarino. Os dois dançaram Uptown Girl, de Billy Joel, em homenagem ao perplexo aniversariante. No seriado, é um Charles sombrio que a vê rodopiando no palco, obviamente devastado pela inveja da própria mulher, que faiscava diante de grande parte da alta sociedade londrina.

No dia seguinte, a performance de Lady Di foi festejada pelos jornais. Lendo um deles no café da manhã, a rainha Elizabeth comentou:

- Billy Joel? Ao que o príncipe Philip, espantado, reagiu:

- Você não sabe quem é Billy Joel?

Para Billy Joel, deve ter sido chato não ser conhecido pela rainha da Inglaterra. Ele constatou que não é tão famoso assim. Mas acontece que provavelmente você não é a rainha da Inglaterra. Então, quando você confessa não saber de algo, está confessando apenas a sua falta de conhecimento, e não diminuindo a relevância deste algo.

Enfrento esse dilema quase todos os dias, ao participar do programa Timeline, da Gaúcha. Nós temos um grupo de WhatsApp em que tratamos das pautas do programa. Não raro, o pessoal da produção apresenta uma sugestão de entrevistado de forma entusiasmada e eu, ao ler aquele nome, vejo-me obrigado a perguntar: "Quem é essa pessoa?"

Fico com raiva de mim mesmo quando isso se repete, porque mostra como conheço cada vez menos coisas do mundo. Porém, ah, porém, sou obrigado a admitir que criei um mecanismo para me proteger. Uma espécie de autoindulgência justificada. É que, sério, são muitas informações para absorver. Os caminhos da internet, por exemplo, são tortuosos. Às vezes, uma aparentemente simples inscrição em um canal para assistir a um seriado me rouba horas do dia e esmigalha minha paciência. Só que a internet é obrigatória. Hoje, a gente vive através da internet.

Assim, minha opção é descartar certas novidades. Faço uma edição, como se estivesse no jornal: escolho o que acho melhor e o que resta vai para o lixo. Pronto. Acabou. Não penso mais naquilo. Tem sido esse o destino de muito do que dizem os políticos brasileiros. Faço uma triagem: se é vanglória ou agressão, descarto. Nem leio, não me dou o trabalho de ver o vídeo ou ouvir o áudio. Só presto atenção ao que dizem os normais, os que não prometem salvar a pátria, os que não amam políticos. Há coisas demais no mundo. Não tenho tempo a perder com fanfarrões.

DAVID COIMBRA


29 DE SETEMBRO DE 2021
OPINIÃO DA RBS

ALERTA ECONÔMICO SOBRE O AMBIENTE

São inúmeros e concretos os riscos que o Brasil corre em virtude das mudanças climáticas e da percepção predominante existente no mundo de uma inação do país quanto a fazer a sua parte em proteger seus biomas, especialmente a Amazônia. Esta preocupação crescente forçou um grupo de empresas a fazer um novo alerta ao governo federal quanto à necessidade de levar metas ambiciosas para a próxima Conferência sobre o Clima (COP26), marcada para Glasgow, na Escócia, em novembro. Com a aproximação da nova cúpula das nações e o senso global de urgência sobre o tema, o mínimo a se esperar é que a delegação brasileira leve ao evento objetivos arrojados e seja convincente quanto à forma e à intenção de atingi-los.

O documento Empresários pelo Clima reuniu um grupo de 107 companhias e 10 entidades setoriais que também reivindicam que o Brasil assuma um papel de protagonismo nas negociações e assuma as suas responsabilidades na tarefa de fazer a transição para uma economia de baixo carbono. "Devemos construir uma trajetória orientada para um futuro de claros objetivos climáticos, sob pena de sermos excluídos de uma nova ordem climático-econômica que se consolida diante dos nossos olhos, o que seria injustificável para um país como o Brasil", diz um trecho do documento. Há ainda um contundente aviso de que, mantida a atual postura, há risco de "enorme prejuízo ao setor produtivo e à sociedade brasileira".

Os efeitos da crise climática não se configuram em uma ameaça futura. Já são palpáveis no país, como mostram os diversos eventos extremos que o Brasil tem experimentado, como a grave seca que, além da crise hídrica, contribuiu para fenômenos que causam espanto, como as colunas de poeira que varreram municípios de São Paulo e de Minas Gerais do fim de semana. A devastação da Amazônica ameaça o regime de chuvas, pondo em perigo o agronegócio brasileiro. Há, ao mesmo tempo, inquietação quanto à possibilidade de produtos e serviços nacionais sofrerem boicote devido à negação governamental da crise e a insistência em tratar a consternação mundial como uma conspiração internacional contra o Brasil.

A nova mobilização empresarial é mais uma prova de que a grande preocupação também tem de ser, em primeiro lugar, brasileira. Preservação e progresso deixaram há muito de ser vistos como excludentes. Pelo contrário, as imensas oportunidades que se descortinam apontam para a conciliação entre conservação do ambiente e desenvolvimento, com incentivo a inovação e novas tecnologias. A grande biodiversidade e as abundantes riquezas naturais, que podem ser exploradas de maneira racional e inclusiva, são ativos estratégicos e diferenciais competitivos do país. Nunca é tarde para despertar. 

O documento, articulado pelo Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), também será levado para a COP26. Propõe, entre outras medidas, o apoio à criação de um mercado de carbono regulado no país. Urge agir para evitar que o aquecimento global ultrapasse 1,5ºC em relação à era pré-industrial. Há, no setor produtivo, diversos esforços para ajudar a atingir esses objetivos. Em seu discurso na Assembleia Geral da ONU, o presidente Jair Bolsonaro reafirmou o compromisso de zerar o desmatamento ilegal e a intenção de antecipar a neutralidade climática de 2060 para 2050. Resta, de forma cristalina, dizer como. 


29 DE SETEMBRO DE 2021
+ ECONOMIA

RS cai uma posição no ranking de inovação nos Estados

O Rio Grande do Sul desceu do segundo para o terceiro lugar no ranking dos mais inovadores. Os dados são do Índice de Inovação dos Estados. São Paulo lidera, seguido de Santa Catarina. Segundo os organizadores, o resultado indica que o Rio Grande do Sul tem capacidade "promotora de inovação que se reverte em resultados promissores."

Os dados foram divulgados ontem pelo Observatório da Indústria, da Federação da Indústria do Estado do Ceará (Fiec) com apoio da Associação Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI). Para quem, como a coluna, lembrava que o Estado estava em quarto lugar no ano passado, uma explicação: mudou a metodologia do indicador. Como recomenda a boa estatística, a partir disso, toda a série foi recalculada.

Na avaliação de Guilherme Muchale, gerente do Observatório da Indústria, o estudo ajuda a identificar atividades inovadoras que se desenvolvem com fluidez, além de pontos de melhoria. Espírito Santo e Maranhão aparecem como os Estados que mais cresceram no ranking. Para a construção do estudo, são avaliados uma série de aspectos envolvidos no processo de inovação divididos em dois grandes grupos: Capacidade, que avalia o ambiente inovador, e Resultados, avaliações sobre a inovação em si.

O primeiro analisa investimento público em ciência e tecnologia, capital humano, inserção de mestres e doutores, instituições, infraestrutura e cooperação. O segundo, competitividade global, intensidade tecnológica, propriedade intelectual, produção científica e empreendedorismo inovador. Há pontos de atenção consideráveis: o Estado saiu da 8ª para a 6ª posição em infraestrutura, e da 16ª para a 18ª em "instituições". Segundo os avaliadores, isso demonstra "dificuldade do Estado em manter bom ambiente institucional." As posições por área O Rio Grande do Sul vai do primeiro ao 18º lugar nos pontos avaliados pelo estudo

Cooperação: 1º

Produção científica: 3º

Capital humano - pós-graduação: 3º

Empreendedorismo: 4º

Intensidade tecnológica: 4º

Propriedade intelectual: 4º

Capital humano - graduação: 5º

Competitividade global: 5º

Infraestrutura: 6º

Investimento público em ciência e tecnologia: 8º

Instituições: 18º

MARTA SFREDO

29 DE SETEMBRO DE 2021
MÁRIO CORSO

Insônia

Tostines vende mais porque é fresquinho, ou é fresquinho porque vende mais? Esta questão, conhecida entre os cientistas de boteco como paradoxo Tostines, traz um grande enigma para a humanidade. Entre quem trabalha com saúde mental temos algo parecido: o sujeito está deprimido porque dorme mal, ou dorme mal porque está deprimido?

É uma brincadeira, a gênese da depressão é mais complexa do que problemas noturnos. Porém, há muita verdade nessa frase. Por muito tempo demos pouca atenção ao sono ruim e suas consequências nefastas. Geralmente quem está deprimido dorme mal, criando um ciclo infernal que se retroalimenta.

Não podemos prescindir de um sono satisfatório. Nosso cérebro necessita dele para o bom funcionamento. O exemplo mais claro, no qual vários experimentos já convergiram, é quanto à fixação de memórias: você só aprende e registra se dorme bem.

Do outro lado, se você for torturar alguém - não recomendo -, a maneira mais fácil é privando o supliciado do sono. O sofrimento é garantido e, em pouco tempo, como bônus desse tratamento ao limite do desumano, você obterá um louco.

Essas considerações são só para introduzir um conselho aos insones. Aliás, de insone para insone, eu tendo ao mau sono. É necessário entender que quem está desperto, durante a hora costumeira de dormir, está em um estado alterado de consciência.

Classifica-se a insônia em três tipos: a "inicial", quando demoramos para pegar no sono; a de "manutenção", quando despertamos no meio da noite e custamos a voltar a dormir, e a "terminal", quando acordamos cedo demais. Essa alteração de consciência vale para as três. Ponha um mantra na sua cabeça: durante a insônia você não está completamente acordado; é um estado desperto, mas que compartilha de algumas características do sono.

Não reconhecer esse estado misto, entre acordado e dormindo, dificulta o combate à insônia. A sensação do insone é de hiper-realidade, como se ele estivesse pensando de uma maneira mais aguda, como se fizesse sínteses mais profundas de seus problemas. Por esta razão o insone presta atenção em seus supostos "insights" noturnos. Mas a verdade é outra, seu cérebro está operando com um fundo da lógica dos sonhos: a hipérbole. Tudo nos sonhos é exagerado, levado ao extremo, e isso é replicado na insônia.

Quando o sol chega, o sujeito percebe que seus problemas não são tão grandes e assustadores como pareciam. Portanto, caros insones, não acreditem no que vocês pensam durante a noite. Não é falso, mas é profundamente alterado. Você não está tendo uma revelação, apenas está chapado de sono e se torturando. A lógica não está afetada, mas a trilha sonora anímica é de um pesadelo. A melhor maneira é dizer a si mesmo: pensarei nisso amanhã, agora não tenho clareza. A madrugada é uma péssima conselheira.

MÁRIO CORSO


29 DE SETEMBRO DE 2021
INFORME ESPECIAL

Um mais muitos

Uma parceria entre a Corsan e o professor Leandro Karnal vai estimular a reflexão sobre ética. O projeto inclui um livro infantil ilustrado pelos filhos dos funcionários da empresa e uma websérie, produzidos por Karnal. "Vamos lançar mão de uma linguagem simples e do conhecimento e habilidade do professor Karnal para ajudar a pensar nas várias oportunidades que temos de agir de forma ética no nosso dia a dia", explica o presidente Roberto Barbuti. "Ensinar as crianças sobre ética é construir um futuro ético", complementa o gaúcho de São Leopoldo Karnal.

A seguir

Um espetáculo para poucos, mas com uma mensagem universal. A atriz Fera Carvalho Leite e o diretor Bob Bahlis andam empolgados e ocupados com os retoques finais do monólogo Velha D+. De acordo com os criadores, "a peça trata de questões da mulher relacionadas ao preconceito de idade - o idadismo, a vida profissional x maternidade e tantas outras pressões que as mulheres sofrem ao amadurecer numa sociedade machista e idadista".

Tudo acontecerá a partir de 11 de novembro, no Espaço Livre, Bairro Floresta, na Capital.

Só cabem, no máximo, 16 pessoas de cada vez e todas precisam provar que se vacinaram.

Um detalhe pra lá de bacaninha. A produção definiu três tipos de ingressos:

Bom, que custa 50 pila.

Ótimo, 100.

Excelente, 150.

A diferença é quanto o comprador quer e pode pagar.

Reservas: (51) 9192-9572.

Aula das aulas

A democracia não está restrita à democracia política e representativa. Ela é mais ampla, pois se refere à convivência social. Esse foi um dos pontos centrais da videoconferência do ex-presidente do STF e do TSE José Néri da Silveira, promovida pela Escola Judiciária Eleitoral Ministro Paulo Brossard de Souza Pinto. Além do palestrante, também integraram a mesa virtual: o presidente do TRE-RS, Arminio Lima da Rosa, o vice-presidente e corregedor da instituição, Francisco Moesch, o ex-presidente do tribunal e atual diretor da EJERS, Jorge Luís Dall?Agnol, e o desembargador eleitoral Silvio Ronaldo Santos de Moraes.

TULIO MILMAN

terça-feira, 28 de setembro de 2021


28 DE SETEMBRO DE 2021
DAVID COIMBRA

O que queremos nós, os normais

Angela Merkel, essa líder histórica que está deixando o poder na Alemanha e, com sua saída, abalando toda a Europa, o mais espetacular a respeito dela é que ela não é nada espetacular.

Angela Merkel é uma senhora meio encurvada, de olhar triste, que nunca bate no peito para dizer que é a melhor, que jamais é grandiloquente, que em tudo é uma pessoa comum. Podia ser a tia distante de qualquer um de nós, ou a diretora do colégio. Lembra-me, a propósito, dona Eunice, a diretora do Costinha, nos fundos do Parque Minuano, onde fiz o primeiro grau.

Angela Merkel não tem graça nenhuma e essa é sua maior graça. Porque ela é a antipopulista, ela é a antidemagoga. Angela Merkel nunca dirá algo para agradar ao ouvinte. Dela se espera a verdade dura, não a mentira alegre. Ela apresenta os problemas da realidade e busca soluções para resolvê-los. Sem dramas. Sem heroísmos. Sem lágrimas de júbilo ou de desespero. Não. Angela Merkel está ali para fazer seu trabalho da melhor maneira possível, ela é uma funcionária dedicada, nada mais do que isso. Mas o que poderia ser maior do que isso?

É de uma Angela Merkel que precisamos, nós, pobres brasileiros. Mas será que teríamos maturidade para eleger alguém assim? Será que seríamos capazes de não nos deixar seduzir pelas promessas vãs? Será que resistiríamos à tentação de ungir salvadores da pátria?

A paixão que os brasileiros sentem por Lula e Bolsonaro me diz que não. Não estamos prontos para administradores eficientes, porém sóbrios. Ainda ansiamos pelo super-homem, ainda esperamos por alguém que resolva por nós os nossos problemas.

Mas, ao mesmo tempo, sinto que essa situação está se transformando. Talvez minha percepção seja equivocada, mas vejo aumentar, a cada dia, o número de "pessoas normais", que não estão cegas de amor por um candidato e que observam o que ocorre no país com parcimônia.

Seria a chance da chamada terceira via. Só que, para dar certo, a terceira via não pode ser como os polos entre os quais ela habita. Não pode ser vistosa, ruidosa ou radiante. Nada disso. Nós, os normais, precisamos de gente sem carisma. De funcionários tão competentes quanto discretos, que não contam piadas, que não fazem gracinhas, que não usam a linguagem do futebol para falar de economia, que saibam conversar mais do que discursar.

Nós, os normais, queremos um governo que trabalhe em silêncio e que entenda que a melhor política é a boa administração. Nós, os normais, não queremos que o governo lute contra inimigos, mas que apenas cumpra bem as suas tarefas. Nós, os normais, queremos paz.

DAVID COIMBRA

28 DE SETEMBRO DE 2021
ARTIGOS

VALORIZAR NOSSA CULTURA E TRADIÇÃO GAÚCHA

Neste mês farroupilha, em que reafirmamos ideais, culminando com o 20 de Setembro, destaco dois projetos de lei que protocolamos na Assembleia Legislativa. Como gaúchos, buscamos preservar nossa tradição e identidade, vinculada às lutas históricas do povo forjado no pampa. Por isso entendi ser importante estimular a manutenção de nossa cultura farroupilha, expressa em invernadas artísticas de CTGs com atividades de inclusão social, permitindo que possam ser enquadradas no programa Nota Fiscal Gaúcha, para que tenham condições de se manter e perpetuar nossa riqueza cultural, em sugestão que recebi da Frente Parlamentar de Vereadores em Defesa da Cultura e Tradição Gaúcha.

Como conselheiro honorário do MTG, desde meu primeiro mandato apoio entidades que se dedicam à preservação de nossas tradições. Promover a inclusão social através das invernadas artísticas mantidas nos CTGs é incentivar crianças e jovens para que tenham oportunidade de manter vivas nossa cultura e tradição. O tradicionalismo envolve milhares de pessoas, em um ambiente de família que preserva princípios, valores, respeito, disciplina, hierarquia e promove a interação de gerações, o que irá estimular a solicitação da nota fiscal após as compras, permitindo também o fortalecimento do programa estadual e das invernadas artísticas.

Outra iniciativa é dos Caminhos dos Farroupilhas. Esta proposta prevê a implementação de uma rede de rotas históricas em locais significativos da Revolução Farroupilha, para incentivar o turismo regional, a exemplo de rotas como Uva e Vinho e das Oliveiras. Mapear os fatos, batalhas, líderes, cidades históricas e capitais dos farrapos, são importantes para a ampliação da identidade cultural gaúcha além-fronteiras. A capacidade turística que envolve os Caminhos Farroupilhas é enorme e despertará o interesse de turistas de fora do RS, além de fomentar nossa economia.

Reafirmar ideais farroupilhas, por meio de propostas viáveis no parlamento gaúcho, é algo que pode contribuir com a ampliação de nosso entendimento do que fomos e somos, valorizando aspectos culturais que, ao longo de gerações, são mantidos e devem seguir vivos. Nossas tradições e a história da Revolução Farroupilha ainda têm muito para ser conhecido, para que possam ser lembradas não apenas no 20 de Setembro.

ERNANI POLO

28 DE SETEMBRO DE 2021
OPINIÃO DA RBS

RESPIRO NO MERCADO DE TRABALHO

O início da temporada de contratação de trabalhadores temporários, ao lado do progresso da vacinação contra a covid-19, cria esperanças renovadas de que o final do ano possa trazer surpresas positivas para a economia, em meio a um cenário ainda imerso em incertezas. Ao contrário do mesmo período de 2020, quando a pandemia também atravessava um momento não tão grave quanto nos meses anteriores e no início de 2021, agora o avanço da imunização permite prever uma circulação maior de pessoas pelo comércio e mesmo uma demanda mais aquecida na área de serviços, um dos setores que mais sofreram com as restrições voltadas a combater a disseminação do vírus.

Diante da perspectiva de aumento das vendas de Natal, entidades empresariais projetam uma elevação de cerca de 20% nas contratações temporárias no varejo tanto no Estado quanto no país. Assim, chegariam até níveis que superariam os números de 2019, antes da chegada do novo coronavírus. Trata-se de uma estimativa promissora diante de um quadro de mercado de trabalho ainda fraco no Rio Grande do Sul e no Brasil como um todo. Em nível nacional, a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) espera a criação de 94,2 mil postos, a maior quantidade em oito anos. No Estado, seriam 7,1 mil vagas.

Sabe-se que grande parte dos trabalhadores temporários é dispensada ao fim do auge da temporada de vendas do comércio, mas sempre há um contingente que acaba efetivado. Diante de perspectivas mais palpáveis de controle da pandemia e do retorno a certa normalidade, mesmo que ainda seja preciso manter cuidados pessoais, não é exagero esperar que, agora, uma parcela maior possa permanecer no emprego. O presidente do Sindicato dos Lojistas do Comércio de Porto Alegre (Sindilojas), Paulo Kruse, lembra bem que, atualmente, o número de colaboradores no varejo é inferior ao usual. A CNC projeta que as vendas relacionadas ao Natal no país crescerão 3,8% e estima que a efetivação dos temporários poderá passar de 12%, o maior índice dos últimos cinco anos.

Caso se confirme essa expectativa otimista, seria um movimento que colaboraria para a retomada da atividade econômica, elevando a massa salarial e diminuindo a taxa de desemprego. Seria mitigado ao menos em parte o drama vivido por milhões de brasileiros em busca de trabalho e castigados pela inflação. Com a vacinação evoluindo, resta esperar que as turbulências políticas e institucionais arrefeçam, criando um clima menos tenso, que permita dar nova injeção de ânimo e confiança nos agentes da economia, à espera da continuidade da recuperação em 2022. 


28 DE SETEMBRO DE 2021
OBRAS NA BR-386

Saiba quando os primeiros trechos serão entregues

A duplicação de novo trecho da BR-386 vai completar três meses na sexta-feira. As obras, sob responsabilidade da CCR ViaSul, estão ocorrendo entre Marques de Souza e Lajeado.

Aproximadamente 600 pessoas trabalham em 20 pontos diferentes. Retirada de vegetação, terraplenagem, escavação e detonação de rochas, drenagem e construção de peças pré-moldadas são algumas das atividades que estão sendo realizadas.

- Estamos avançando, recuperando o tempo perdido. Estamos colocando mais esforços, apesar da chuva atrapalhar bastante -destaca o diretor-presidente da concessionária, Fausto Camilotti.

O início poderia ter sido em fevereiro. Porém, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) concedeu a Autorização de Supressão Vegetal (ASV) três meses depois do prazo estabelecido pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT).

Apesar das dificuldades, Camilotti confirma que a CCR ViaSul segue com o compromisso de entregar a obra em fevereiro de 2023. E, a partir do segundo semestre do ano que vem, já deverá ser possível entregar trechos da duplicação.

Possíveis liberações de tráfego só devem ocorrer com segurança aos usuários. Também não poderá atrapalhar o avanço das obras. Dessa forma, entregas serão possíveis desde que envolvam longo trecho pronto. Chegou a ser cogitada a liberação de 10 quilômetros, em fevereiro de 2022, mas o atraso na autorização para início e as chuvas impediram.

Além da duplicação, serão construídos 13 quilômetros de ruas, quatro passarelas de pedestres, seis novas pontes, seis alargamentos de pontes existentes, entre outras obras. Ao todo estão sendo investidos R$ 300 milhões na duplicação deste primeiro trecho. A empresa Eurovias é a responsável pela obra.

A CCR ViaSul já começa a planejar a próxima obra que sairá do papel na BR-386. A ANTT autorizou o início do processo de desapropriação em cinco quilômetros da rodovia, de Lajeado a Estrela.

Na região, será construída uma faixa adicional de tráfego, que já é duplicada. As obras estão autorizadas para iniciarem em fevereiro de 2022. Elas deverão ser executadas ao longo de 12 meses.

 JOCIMAR FARINA


28 DE SETEMBRO DE 2021
RBS TALKS

Projeções do consumidor gaúcho em discussão

Com o avanço da vacinação em todo o país, a retomada econômica ganha forças e dá sinais de um novo cenário para o último trimestre de 2021. É neste contexto que, na próxima quinta-feira, o Grupo RBS promove a segunda edição de 2021 do RBS Talks, que terá como tema o "Panorama do Amanhã". Com a participação de Marta Sfredo, colunista de Economia, e de Vanessa Carini, especialista em Consumer Insights & Analytics do Grupo RBS, o evento abordará, a partir de uma pesquisa exclusiva realizada pela empresa, o que os consumidores gaúchos esperam para o restante do ano.

O debate começa com Marta Sfredo contextualizando o cenário econômico. Da chegada da pandemia no Brasil até o avanço da vacinação, a jornalista analisa as projeções para o Produto Interno Bruto (PIB) de 2021, a retomada econômica do Rio Grande do Sul e os desafios que a área tem pela frente.

Tópicos

Para entender melhor essas expectativas para o último trimestre, Vanessa Carini apresentará no RBS Talks a pesquisa "Panorama do Amanhã", que ouviu 406 usuários de GZH, todos do Rio Grande do Sul, entre 22 de julho e 2 de agosto. O impacto econômico trazido pela pandemia, expectativa de retomada à normalidade, planos a médio e longo prazos e hábitos que vieram para ficar são alguns dos tópicos que pautaram o estudo e que serão respondidos no RBS Talks.

Reforçando o posicionamento do Grupo RBS como parceiro de negócios de seus clientes, Rodrigo Adams e Sara Bodowsky, comunicadores das rádios de Entretenimento do Grupo RBS, participam do evento apresentando soluções comerciais da RBS que se conectam com o tema do encontro.

O RBS Talks será transmitido de forma online e é aberto ao público mediante inscrição prévia. O link será enviado aos inscritos e o conteúdo ficará disponibilizado após a transmissão.


28 DE SETEMBRO DE 2021
COMBUSTÍVEIS

Petrobras indica reajuste à frente

A Petrobras admite que os seus preços estão defasados em comparação com o mercado internacional. Por isso, a empresa avalia reajustar os valores dos seus derivados de petróleo, informou o presidente da empresa, Joaquim Silva e Luna. Ele não detalhou, no entanto, de quanto é a defasagem e a qual produto se referia.

- O patamar elevado do brent (petróleo negociado na Europa) nos indica necessidade de fazer algum movimento (de preço) - disse o general, em coletiva de imprensa. - A gente está olhando com carinho a possibilidade de reajuste de preço dos combustíveis. Pontualmente, os preços de alguns derivados estão defasados - acrescentou o diretor de Comercialização e Logística, Claudio Mastella.

Cerca de cinco horas antes da entrevista dos integrantes da Petrobras, o presidente Jair Bolsonaro havia dito que discutia maneiras de diminuir o preço dos combustíveis. Pela manhã, Bolsonaro se encontrou com o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, para tratar do assunto e ver "o que podemos fazer para melhorar, diminuir o preço na ponta da linha". E, em evento no Palácio do Planalto, durante discurso, comentou:

- Alguém acha que eu não queria a gasolina a R$ 4? Ou menos? O dólar R$ 4,50 ou menos? Não é maldade da nossa parte. É uma realidade. E tem um ditado que diz: ?Nada não está tão ruim que não possa piorar?. Não queremos isso.

Botijão

Já o presidente da estatal reiterou a manutenção da atual política de preços de combustíveis da estatal. E por meio de um vídeo, a companhia enfatizou que "tudo o que excede R$ 2 (no preço de gasolina) não é responsabilidade da Petrobras". Durante a entrevista, Silva e Luna disse que a empresa é responsável por produção e refino do combustíveis. Depois disso, "ela não se manifesta mais". E reforçou que, sobre aumento de preços, "está com o governo, Ministério de Minas e Energia, (Ministério da) Economia e com a Casa Civil".

Segundo Mastella, não é possível prever se o preço do litro da gasolina vai permanecer acima dos R$ 7, como acontece em alguns mercados, atualmente. Isso porque os valores cobrados pela empresa seguem as variações do mercado internacional e do câmbio, disse:

- O que existe de estrutural hoje e acontece todos os anos é o crescimento sazonal do óleo diesel no hemisfério norte e isso faz com que o preço da commodity suba.

No ano, a gasolina na refinaria já subiu cerca de 51% e o diesel avançou em torno de 40%.

Silva e Luna afirmou ainda que não cabe à Petrobras subsidiar o preço do GLP, o gás de cozinha, e que esse seria "tema de governo", embora a empresa participe do debate sobre possíveis soluções para o problema. O botijão de 13 quilos, largamente consumido pela população de baixa renda, chega a custar mais de R$ 100 em algumas cidades.

De acordo com Luna e Silva, a contribuição social e econômica da empresa vem de seus programas internos, da geração de emprego e da distribuição de royalties e dividendos. Ele argumentou ainda que a Petrobras é uma empresa de economia mista - apesar do controle estatal, possui ações em bolsa.

Já em evento em Brasília, o ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou que o plano de 10 anos do governo federal é continuar com as privatizações, e que Petrobras e Banco do Brasil estão nessa fila:

- Tudo mundo entrando na fila, sendo vendido e isso sendo transformado em dividendos sociais - comentou, ao defender as privatizações das estatais.


28 DE SETEMBRO DE 2021
NÍLSON SOUZA

Acendedores e cobradores

Peguei bonde e elevador com ascensorista nesta cidade que se aproxima dos 250 anos com esquinas ocupadas por malabaristas mambembes, vendedores de quinquilharias e portadores de cartazes dramáticos na ortografia e no significado. Dos acendedores de lampiões apenas ouvi falar. Claro, conheço as fotografias antigas e o belo poema de Jorge de Lima que compara o extinto trabalhador da iluminação pública a pregadores de crenças e ideologias. Um e outros, na visão do poeta, vão acendendo suas luzes artificiais para o bem e para o mal.

Assim é, também, a tecnologia do nosso mundo digital. Ao mesmo tempo em que facilita e prolonga a vida humana, cria e destrói profissões (veja-se a luta desesperada dos cobradores de ônibus), além de possibilitar a disseminação descontrolada de ideias diversas, nem sempre construtivas. Acendedores de multidões não precisam de escadas e hastes para exercer suas atividades incendiárias. Bastam alguns cliques.

Pena que esse imenso potencial mobilizador venha sendo usado mais para acirrar disputas pelo poder do que para melhorar a vida das pessoas. Observe-se, por exemplo, o contraste dos cartazes ostentados nas ruas: uns, escritos até em inglês, pedem soluções autoritárias para o país; outros, rabiscados a carvão, pedem comida, emprego, qualquer tipo de ajuda.

Ora, a ajuda que a tecnologia e seus dominadores poderiam dar, se os governantes pensassem mais no país do que na própria reeleição, é melhor educação e mais saúde para todos, formação adequada e oportunidades para os brasileiros ameaçados pela crise econômica, pela desigualdade social e pela inexorável transformação digital.

Os cobradores de ônibus, com esse crachá, dificilmente sobreviverão às mudanças vertiginosas por que todos estamos passando nestes tempos pandêmicos, mas o desejável é que saiam do ofício anacrônico preparados para uma atividade melhor, que lhes permita sobreviver com dignidade, sem ter que ir para os semáforos com cartazes de humilhação.

NÍLSON SOUZA