terça-feira, 18 de junho de 2013


18 de junho de 2013 | N° 17465
DAVID COIMBRA

A carioquice de Robinho

Robinho é o apelido do rapaz da banca de jornais aqui perto do meu apartamento de Copacabana. O Rio é uma cidade de banca de jornais, porque o Rio é uma cidade em que se caminha nas ruas. Uma cidade só realmente é das pessoas se é feita a pé.

Mas o guri (no Rio diz-se “garoto”). Pois o garoto, esse Robinho, não é muito parecido com o Robinho da pedalada. É um mulato claro, o Robinho de Copacabana, tem o cabelo pintado de laranja e vive a vida com uma parcimônia de dar inveja. Nunca tem pressa, o Robinho da banca de jornais.

Seus movimentos são pastosos, seu olhar baço, ele pensa muito antes de dar o troco ou de alcançar um gibi. Você fica esperando e pensa que ele desistiu de esticar o braço. Aí o braço vai esticando, esticando. Robinho vive no gerúndio. Alguém fala com ele e ele responde Á.

– Valeu, Robinho – agradece um gordo que trocou uma nota de R$ 50 por algumas de R$ 10 e outras de R$ 5.

– Á. – Acho que não chove amanhã, Robinho – comenta uma senhora de bermuda, enquanto folheia uma revista de novela. - Á.

– Até amanhã – despede-se um senhor que leva o jornal do dia sob o braço.– Á.

A tranquilidade de Robinho me fez ficar um pouco mais dentro da banca. Estava intrigado. Seria ele sempre assim, tão indiferente às demandas do mundo exterior?

Graças à minha curiosidade, deparei com o jornal “Meia Hora de Notícias”. Que nome sugestivo de jornal. Está dito ali que você vai consumi-lo em meia hora, e pronto. Irresistível. Por dever de ofício até sabia existir, esse Meia Hora, mas, por preconceito intelectual, jamais havia lido e nem sequer feito considerações a respeito. É um desses tabletes populares. A manchete era:

“Taradão mostra o bimbinho pra miss Brasil e se dá mal”. E uma foto da miss Brasil 2010, Débora Lyra, de biquíni e faixa.

Comecei a folhear o jornal. Tudo muito divertido, inclusive certos anúncios como o do “Império da Doutora Sete Catacumbas”, uma feiticeira que apregoa fazer 42 tipos de bruxarias, desde “trazer seu amor preso, desejando somente você”, até torná-lo, cruz credo, impotente para as outras, além de vodus, magias, encantamentos, amarrações, frieza sexual, destruição e outros fins.

As cariocas são mesmo mulheres perigosas.

Na seção internacional, a matéria de abertura escorria sob a cartola “Era um canhão”. E o título: “Achou ‘prima’ feia e chamou a polícia”. Li o texto. Um inglês ligou para uma telentrega de garota de programa. Quando a moça chegou, ele a achou “muito feia”, revoltou-se e procurou as autoridades para reclamar de propaganda enganosa.

Dei uma risada baixa. Robinho esticou um olhar cansado para o jornal que eu tinha nas mãos. Mostrei-lhe a página.

– Viu essa, Robinho? Ele respirou fundo e comentou:

– Á. Imaginei que diria algo assim. O governo do Rio importou dos Estados Unidos um moderníssimo robô antibombas para a Copa das Confederações. Trata-se de uma máquina operada por controle remoto. Se, por exemplo, uma mala suspeita é encontrada abandonada, o local onde ela está é evacuado e quem se aproxima é o robô, rodando em suas esteiras metálicas.

Ele, então, faz uma radiografia da mala e envia as imagens por computador a uma central de segurança. Se for detectado algum explosivo no interior da mala, o robô aciona um jato d’água para evitar a detonação.

O aparelho custou R$ 700 mil.


Havia tempo que não via uma seleção mexicana tão frágil como essa que foi amassada tecnicamente pela Itália no Maracanã, domingo passado. Amanhã vou escrever mais sobre, mas hoje deixo uma previsão: o Brasil vai golear, na quarta-feira.

Nenhum comentário: