terça-feira, 4 de março de 2025


04 de Março de 2025
POLÍTICA -Rosane de Oliveira

Oscar é vitória contra o esquecimento

Do ponto de vista emocional, é difícil para os brasileiros aceitarem que Fernanda Torres tenha perdido o Oscar de melhor atriz para Mikey Madison. Estávamos todos convencidos de que a grande adversária de Fernanda seria Demi Moore, mas os eleitores da Academia optaram pela jovem protagonista de Anora. Fernanda é uma vencedora. Porque, sem a sua atuação magistral, Walter Salles dificilmente ganharia o Oscar de melhor filme internacional.

Do ponto de vista político, o Oscar recebido por Ainda Estou Aqui é mais importante, porque é simbólico. Premiou-se não só a direção de Walter Salles, mas também a atuação dos atores, dos técnicos, dos roteiristas e, por óbvio, o livro de Marcelo Rubens Paiva, filho de Rubens e Eunice. Marcelo contou a trajetória da mãe - esteio da família depois da morte do ex-deputado - e nela sintetizou o que esta coluna tem chamado de "uma página infeliz da nossa história", copiando Chico Buarque em Vai Passar.

Quem assistir ao filme vai saber um pouquinho de como funcionava a máquina da repressão na ditadura. É um recorte, com foco na mulher que vai do conforto de uma vida tranquila em frente ao mar do Leblon para o pesadelo de uma prisão injusta e sem sentido.

Apesar de a cena mais destacada do filme ser aquela da foto para a revista Manchete, em que ela diz "nós vamos sorrir, sorriam", a mais impactante é a do banho depois de sair da prisão. É como se aquela bucha que Eunice esfrega no corpo magro e nos pés sujos limpasse e mandasse para o ralo a dor, a humilhação e o desespero, para renascer no dia seguinte como a mãe que terá de criar cinco filhos sem o marido e sem um atestado de óbito que confirme sua morte.

Nós, jornalistas, temos orgulho de saber que o desfecho da história de Rubens Paiva foi contado nos veículos do Grupo RBS pelo trabalho de colegas que encontraram muitas das respostas para as perguntas da família na papelada guardada pelo coronel Molina Dias, assassinado no bairro Três Figueiras, em Porto Alegre. Humberto Trezzi, José Luis Costa e Nilson Mariano apresentaram as provas de que Rubens Paiva esteve preso no Departamento de Operações e Informações - Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi) no Rio de Janeiro, um dos mais temidos aparelhos de tortura do país. _

Prefeito do Rio decide transformar casa de "Ainda Estou Aqui" em museu

Após a vitória histórica de Ainda Estou Aqui no Oscar, o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, decidiu comprar a casa onde o filme foi gravado. A ideia, anunciada pelas redes sociais ontem, é transformar o local na Casa do Cinema Brasileiro.

Localizada na Urca, a casa está à venda desde que se encerraram as gravações, por R$ 25 milhões.

"Vamos tornar público e abrir para visitação o espaço que trouxe o primeiro Oscar do Brasil em quase cem anos da premiação. Faremos da casa onde foi gravado o filme um lugar de memória permanente da história de Eunice Paiva e sua família, da democracia e ainda uma homenagem às duas grandes mulheres que orgulham o Brasil e deram vida a ela - Fernanda Torres e Fernanda Montenegro", escreveu o prefeito carioca. _

Gaúcho prepara biografia de amigo de Rubens Paiva

Autor de sucessos como O que não tem censura nem nunca terá e Rato de redação; Sig e a história do Pasquim, o jornalista gaúcho Márcio Pinheiro está escrevendo a biografia de Fernando Gasparian, o amigo de Rubens Paiva que percebe risco de permanecer no Brasil e parte para o exílio em Londres.

No filme Ainda Estou Aqui, Gasparian (interpretado pelo ator Charles Fricks) tenta convencer Paiva a viajar também, mas o ex-deputado argumenta que não vê motivo para deixar o país.

Gasparian era intelectual, político e empresário do setor têxtil. Ele e Paiva foram sócios no antigo Jornal de Debates. Na vigência do AI-5, fundou o Opinião, jornal semanal de resistência à ditadura.

Foi dono da editora Paz e Terra e sua mulher, Dalva, fundou a Livraria Argumento, até hoje um dos pontos culturais mais atrativos do Leblon, no Rio de Janeiro. _

Campanha da Fraternidade foca no clima

A preocupação com as mudanças climáticas não é só dos governos que precisam socorrer a população em caso de desastres ambientais. Pela emergência que o planeta está vivendo, preservação ambiental será o tema da Campanha da Fraternidade deste ano.

Com o título "Fraternidade e Ecologia Integral", a campanha será lançada amanhã no RS, em ato com a presença do presidente da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Jaime Spengler.

O lançamento da campanha será num lugar simbólico: o salão da Paróquia Sagrado Coração de Jesus (Rua Marechal Mallet, 112, no bairro Harmonia, em Canoas). O local foi alagado na enchente de 2024 e, na sequência, serviu de ponto de socorro à população afetada. _

Que água é essa?

O conceito de água incolor, insípida e inodora passa longe do produto consumido pela maioria dos porto-alegrenses. Lá se vão quase três meses que a água distribuída pelo Dmae está com gosto e cheiro insuportáveis de lodo.

Em outros tempos, a culpa era das algas que proliferavam no Guaíba no verão. Agora, a justificativa do Dmae é que a enchente aumentou a camada de lodo no leito do Guaíba e que as bombas de captação acabam sugando parte desses resíduos.

No bairro Moinhos de Vento, onde fica uma das principais estações de tratamento de água, até o cafezinho tornou-se uma experiência desagradável, exceto nas cafeterias que tomam o cuidado de utilizar água mineral. O mesmo vale para os restaurantes: o arroz feito com água da torneira fica com gosto de barro. 

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