sábado, 23 de outubro de 2021


23 DE OUTUBRO DE 2021
DAVID COIMBRA

Os mais ferozes entre os leões

Você já ouviu falar nos terríveis Leões Mapogos? Os Leões Mapogos eram uma coalizão de seis leões machos que viviam na reserva de Sabi Sands, na África do Sul. Eram cinco irmãos e um estranho que veio não se sabe de onde, não se sabe por quê. Atingiram um nível de brutalidade e de crueldade jamais visto no mundo animal. Para conquistar território, matavam leões machos e seus filhotes, e tomavam o bando de fêmeas. Se as fêmeas não se submetessem, matavam-nas também.

O objetivo dos Mapogos era formar uma grande descendência, por isso matavam os filhotes alheios - quando o filhote morre, a leoa mãe entra no cio novamente. Assim, os Mapogos asseguravam que todos os filhotes do território fossem seus e não de outros leões mais fracos. Os cientistas da reserva calculam que eles mataram mais de cem leões, leoas e filhotes.

Se fossem pessoas, os Mapogos seriam Gengis Khan, que teve centenas de filhos, tem mais de um milhão de descendentes e vivia repetindo:

- A felicidade do homem é vencer o inimigo, pô-lo de joelhos a sua frente, cavalgar seus cavalos e violar suas mulheres e filhas.

Só que com todos os homens e bichos acontece o mesmo: se eles ficam vivos por muito tempo, acabam envelhecendo. Gengis Khan, ao chegar aos 65 anos, não suportou os efeitos de uma bebedeira e morreu em sua tenda mongol. Já a média de vida de um leão na selva é menor: cerca de 12 anos. Os Mapogos alcançaram essa idade e, assim, se tornaram um bando de velhinhos. Leões, sim, mas velhinhos. Isso encorajou um bando de leões jovens e arrojados a atacá-los e lhes tomar territórios e leoas. Alguns Mapogos morreram em combate, outros foram embora com o rabo entre as pernas e sumiram sem jamais voltar a dar notícia.

O que significa toda essa história animal? Que não há paz na natureza nem para o majestoso leão, aquele que os humanos nomearam O Rei da Selva. Até os invencíveis Mapogos um dia foram vencidos. Ou seja: os momentos de paz e tranquilidade têm de ser sorvidos até o último segundo.

Um pátio ensolarado com uma rede pendurada entre duas árvores. Uma noite de frio que você passa em frente à lareira acesa ou de chuva que você passa entre os cobertores da sua cama confortável. As gargalhadas dos amigos na mesa do bar. O sorriso da mulher amada. O beijo do filho.

Esses pequenos momentos em que não há glória nem tragédia, em que o dia escorre devagar e suavemente, em que há concordância entre os seres humanos, esses pequenos momentos devem ser bebidos como se fossem o néctar da vida. E são. Na verdade, são.

DAVID COIMBRA

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