sexta-feira, 3 de julho de 2020


03 DE JULHO DE 2020
INFORME ESPECIAL

Propósitos

Um dos momentos mais interessantes do Jornal Nacional, desde que a pandemia começou, é aquele em que são destacadas as ações de empresas solidárias. Modéstia à parte, o Informe Especial foi pioneiro em dar visibilidade a essas iniciativas. A seção Do bem já registrou centenas de iniciativas. Mas não era esse o meu tema. Gosto dessa parte do Jornal Nacional porque descobri que essas grandes empresas têm rostos humanos. São presidentes e diretores que falam, que ficam nervosos diante da lente e que às vezes estão com as roupas amassadas. 

Confesso que passei a gostar mais de algumas empresas depois que vi seus representantes expostos em rede nacional, falando das suas casas, sem superproduções, sem cenários espetaculares e sem as proteções impostas pela liturgia de seus cargos. Homens e mulheres falando sobre o que estão fazendo. Com sinal ruim de internet, sem maquiagem, com a barba meio crescida, sem briefing do marketing e sem blá-blá-blá.

Simples, barato e eficiente. Isso também é estar perto do cliente.

O Facebook acabou

O boicote cresce e com ele morre um sonho. A praça virtual onde todos se encontram sem mediação e sem leis era remédio. Virou veneno. Dezenas de empresas mundo afora estão cancelando anúncios no Facebook. Milhões de pessoas estão parando de postar e ler. E aqueles que continuam, o fazem sem o mesmo entusiasmo de antes - sou um deles. A plataforma parou de servir aos propósitos das marcas quando uma onda planetária contra o discurso de ódio ganhou dimensões gigantescas.

Era uma utopia bonita: a autorregulação popular, sem autoridade e sem filtro. Uma festa open bar sem porteiro e sem precisar de convite, na qual cada um era responsável pelos seus atos. Acabou em porre coletivo. Porre de racismo, de ódio, de terrorismo, de desinformação, de manipulação eleitoral, de mentiras, de ignorância e de práticas comerciais mentirosas. O Facebook diz que entrega conteúdos de graça, mas na verdade ganha dinheiro retirando informações de seus usuários sem que eles entendam direito como.

Mas o naufrágio do Facebook nos deixa uma lição. Nós, seres humanos, precisamos de regras. E de autoridade. Regra não é ditadura. Ao contrário. Disciplina é liberdade, vocês devem lembrar da música. Autoridade não é autoritarismo. É a segurança de que a democracia vale para todos.

Para sobreviver, o Facebook só tem agora um caminho. Se voltar cada vez mais para aquilo que, primeiro ingenuamente e depois com propósitos econômicos, se propunha a combater: regras editoriais, responsabilidade sobre o que publica e, principalmente, nomes e sobrenomes verdadeiros e públicos.

TULIO MILMAN

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