Entrelacos

25 de setembro de 2012 | N° 17203

PAULO SANT’ANA

Sendo o Brás tesoureiro...

Gosto muito do verso de um samba: “Se o Brás é tesoureiro, a gente ajeita no final”.

Este verso serve para tudo. Eu, por exemplo, tenho imensa curiosidade de como será a minha morte.

Mas me consolo: “Se o Brás é tesoureiro, a gente ajeita no final”.

Até sobre o Juízo Final, anunciado pela Bíblia, me consolo sobre o que acontecerá comigo nessa solenidade: “Se o Brás é tesoureiro, a gente ajeita no final”.

Quando vou a um restaurante jantar com amigos, ficam dúvidas sobre como será a divisão das despesas.

Acontece que alguns de nós bebemos refrigerantes, outros bebem vinhos caros, é injusto que os que bebem refrigerantes paguem o mesmo rateio do que os que bebem vinhos caros.

Então, alguém diz algo que tranquiliza a todos: “Se o Brás é tesoureiro, a gente ajeita no final”.

Às vezes, contraímos dívidas a crédito e nos apertamos e não podemos pagá-las. Procuramos o credor e logo com ele fica acertado o seguinte: “Se o Brás é tesoureiro, a gente ajeita no final”.

Para tudo serve esse ditado. Ele simboliza o jeitinho que o brasileiro dá para tudo, a maneira de não radicalizar ao resolver as encrencas.

Serve até para solucionar as separações entre casais, quando ferve a partilha. Quem é que vai ficar com o imóvel tal? Os filhos ficarão com a mãe ou como o pai?

Aí, também, se o Brás é tesoureiro, a gente ajeita no final.

Esse tal de Brás que o samba elege como personagem deve ter sido um grande malandro que organizava os eventos de uma escola de samba. Devia ter grandes habilidades para consertar os acertos das despesas, um grande vaselinão das contas devidas quando elas desaguavam nos ajustes finais.

Eu não sei como será o final do julgamento do mensalão.

O que mais interessa no julgamento é a sorte do ex-deputado e ministro José Dirceu, que foi considerado pelo procurador-geral da República como “o chefe da quadrilha do mensalão”.

Ele será condenado ou absolvido?

A impressão que tenho é de que todos serão condenados, menos José Dirceu.

A resposta-resumo enfim será a seguinte: “Se o Brás é tesoureiro, a gente ajeita no final”.