quinta-feira, 16 de junho de 2022


16 DE JUNHO DE 2022
ZÉ VICTOR CASTIEL

A marca Brasil está desgastada

O desaparecimento do indigenista Bruno Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips na Amazônia se desdobra em inúmeros significados, alguns concretos, outros simbólicos. O primeiro aspecto a ser lamentado é o drama humano, seja de Dom e Bruno, seja de seus familiares e amigos. Não há nada que relativize ou minimize a angústia e a dor. Não há espaço aqui para o, infelizmente, "nós e eles", naturalizado em um país dividido e polarizado. Essa lógica emburrecida nos empurra a desumanizar o "outro lado", como se realmente estivéssemos em uma competição autofágica em busca de uma verdade monolítica e inquestionável.

Há um outro aspecto, talvez invisível a quem vive nas bolhas que se alimentam do autoaplauso e da ânsia incontrolável de ter razão. A marca Brasil está desgastada mundo afora. E isso é ruim para o Brasil e para os brasileiros.

Nosso país já foi conhecido pela sua alegria e pela sua pluralidade. Até os sisudos guardas de fronteira sorriam diante do nosso passaporte verde, cor da bandeira que celebra a nossa riqueza vegetal.

Hoje, a palavra Brasil é associada, mundo afora, com atributos bem menos luminosos. O principal deles tem a ver com a percepção de que descuidamos da Amazônia. Os dados mostram que é verdade. Os níveis de desmatamento são alarmantes. E aqui não se trata de militância ideológica, o primeiro pseudoargumento usado para desqualificar não o argumento, mas o interlocutor. Mas mesmo que não fosse verdade, chama a atenção a incompetência oficial para desfazer essa percepção.

Cuidar dos povos da floresta, das árvores, dos pássaros e do ar é um compromisso de toda a humanidade. Mas a questão ambiental vai além. Quando a marca Brasil perde valor, nosso produtos e serviços também perdem. Isso significa, numa visão estritamente econômica, menos empregos, menos riqueza, mais pobreza.

Há muito já se provou que é plenamente possível unir sustentabilidade e desenvolvimento econômico. Há tecnologia para isso. Energia limpa, técnicas de manejo bem mais eficazes, fontes renováveis de alimentação. O que não há é vontade política, em nome de interesses obscuros e setoriais. José Lutzenberger, gaúcho pioneiro do ambientalismo mundial, já usava uma metáfora para defender uma espécie de direito universal sobre a Amazônia: "Se a casa do vizinho está pegando fogo, esse não é um problema apenas do vizinho, porque a fumaça se espalha e o fogo também". Não compreender essa verdade simples: isso sim é uma aventura não recomendada.

ZÉ VICTOR CASTIEL

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