terça-feira, 31 de agosto de 2021


31 DE AGOSTO DE 2021
DAVID COIMBRA

O melhor bar da história de Porto Alegre

Para que serve o bar? Os mais conservadores responderão, não sem certo tom de censura, que serve para beber. Trata-se de uma redução. Na verdade, as pessoas vão ao bar para se encontrar. Elas querem ver outras pessoas, conversar com outras pessoas, talvez até, se tudo der certo, amar outras pessoas.

Então, o bar é basicamente um lugar de confraternização, um lugar para o exercício da amizade, do amor, do companheirismo. Em resumo, um lugar do bem. É claro que podem ocorrer desavenças no bar, brigas sérias e casos de polícia. Claro. Os seres humanos são assim, quando se reúnem, porque estão sempre disputando espaço. No entanto, a ideia do bar é o congraçamento, e não a disputa.

Talvez o melhor filme já feito sobre o bar tenha sido Bar Esperança, o Último que Fecha, do começo dos anos 1980, com Hugo Carvana, Marília Pêra, Betty Faria, Paulo César Pereio, entre outros craques. A alegre anarquia que se procura em um bar foi capturada por esse filme. Um bar tem de ser como o Esperança: libertário e, ao mesmo tempo, aconchegante.

Qual foi o melhor bar da história de Porto Alegre?

O jornalista Paulo César Teixeira, o "Foguinho", está lançando um livro acerca de um dos candidatos, o antigo Bar Escaler, que ficava nas franjas da Redenção. O livro é o depoimento que Foguinho colheu do fundador do bar, o Toninho do Escaler. Toninho narra, em primeira pessoa, tudo o que aconteceu naquele pedaço de Porto Alegre nos feéricos anos 1980, quando o Escaler chegou a conquistar o título de maior vendedor de cerveja do Brasil.

Fui poucas vezes ao Escaler. Naquela época, estava morando em Santa Catarina e frequentava outros bares. Mas tenho a impressão de que o espírito do Escaler era o mesmo em diversas partes do país, um espírito de liberdade, de crença no futuro e até de alguma ingenuidade nas relações humanas. Tudo isso foi muito típico dos anos 1980.

Não estou fazendo essa afirmação por nostalgia, aquela coisa de "no meu tempo era muito melhor". Não. Os anos 1980, no Brasil, foram diferentes devido às circunstâncias históricas. O Brasil estava se redescobrindo, saindo da ditadura, recebendo de volta os exilados, na expectativa de enfim votar para presidente. Havia novidades palpitantes na literatura e no jornalismo, e na música estouravam Chico, Caetano, Roberto, Belchior, Paulinho da Viola, Milton, Gil, João Bosco, além do novíssimo rock brasileiro. Quer mais?

Assim, os bons bares incorporaram esse espírito. Havia muitos bares Esperança no Brasil. Um deles, o Escaler. Um livro como esse do Foguinho é fundamental, porque registra um naco da história afetiva da cidade. Deveríamos produzir mais narrativas como essa. Deveríamos tentar responder, afinal: qual foi o melhor bar da história de Porto Alegre?

DAVID COIMBRA

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