A trombose é uma doença que acomete o sistema circulatório humano, ocasionando a formação de coágulos e obstruções em artérias e veias. Na maioria dos casos, os vasos prejudicados são os das pernas e coxas, e esse bloqueio do fluxo de sangue pode causar dor e inchaço na região. O quadro fica mais grave quando um coágulo se desprende e passa a se movimentar na corrente sanguínea, em um processo chamado de embolia, podendo se alojar no cérebro, nos pulmões, no coração e em outras áreas, levando a lesões graves e até mesmo à morte - um a cada quatro óbitos está relacionado à doença, segundo a Sociedade Internacional de Trombose e Hemostasia (ISTH). Com o surgimento do coronavírus, a trombose passou a ser mais um dos muitos fatores que colocam em xeque a vida dos pacientes graves de covid-19.
As principais causas
De acordo com o chefe do serviço de Cirurgia Vascular Periférica do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, Marco Aurélio Grudtner, a incidência de trombose é alta, pois há inúmeros fatores e condições que aumentam os riscos de desenvolver a doença. Alguns deles são tabagismo, doenças cardíacas, câncer, varizes, obesidade, sedentarismo, uso de anticoncepcionais, idade avançada e predisposição genética. Pacientes que sofreram traumatismos graves (acidentes), passaram por cirurgia e precisaram ficar imobilizados também têm risco. Grudtner acrescenta:
- Existem alterações hereditárias, chamadas trombofilias, que fazem com que algumas pessoas tenham mais chances de formar coágulos do que outras. O anticoncepcional também é um fator a mais para estimular a trombose em pacientes mulheres que já têm predisposição. Por isso, é importante o ginecologista analisar histórico familiar, para saber se é adequado o uso de determinado anticoncepcional.
A trombose pode acometer especialmente as mulheres durante a gravidez e o puerpério (período de cerca de 40 dias após o parto), explica Marcelo Melzer Teruchkin, cirurgião vascular do Hospital Moinhos de Vento:
- A gestação e o puerpério são fases em que os hormônios se elevam para o desenvolvimento do bebê e para que haja a lactação. Esses hormônios, porém, deixam o sangue mais grosso, mais viscoso. Também a compressão do útero sobre as veias abdominais deixa o fluxo de sangue mais lento.
Lendo os sinais
Há casos em que a trombose é assintomática, daí a importância da prevenção e do acompanhamento médico. Os sinais podem vir na forma de dor nos membros inferiores, vermelhidão, edema (inchaço), dor no tórax e desconforto para respirar.
- O quadro clínico de trombose arterial pode provocar uma dor súbita, sem causa aparente, e o esfriamento e palidez do pé ou da mão. A dor é unilateral, em um só membro. O trombo arterial normalmente ocorre em um vaso que já tem tem doença prévia, como placas de colesterol que tornam o local propenso a agregação plaquetária - aponta Grudtner.
As varizes grandes também aumentam as chances de tromboses nas veias mais superficiais, porque tornam mais lento o fluxo sanguíneo, facilitando o agrupamento de plaquetas e coagulação no local. É importante prestar atenção especial ao aparecimento de nódulos endurecidos nas varizes, que se tornam vermelhas e dolorosas. A depender da região afetada, exames de sangue, ecografia, ressonância magnética e angiotomografia podem confirmar o diagnóstico de trombose.
O fator covid-19
Na pandemia, a ciência observa grande incidência de trombose, tanto a venosa quanto a arterial, entre os pacientes hospitalizados por covid-19, principalmente os que desenvolveram quadros graves. Conforme a Sociedade Brasileira de Trombose e Hemostasia (SBTH), até 30% dos internados em Unidades de Terapia Intensiva (UTI) acabam tendo um quadro tromboembólico. Nos leitos de enfermaria, a taxa fica entre 5% e 10%. O risco para quem já está se recuperando em casa é menor, mas existe.
- O vírus causa uma lesão na camada interna dos vasos, o endotélio, responsável por evitar que o sangue coagule. Quando o endotélio é lesado, o vaso fica mais propenso a formar trombos ali dentro - explica Teruchkin.
O coronavírus é um vírus respiratório que entra no organismo por nariz, boca ou mucosa ocular. Daí, percorre o sistema circulatório e pode causar inflamação na parede interna dos vasos sanguíneos. O impacto desencadeia uma cascata inflamatória, que é uma agregação descontrolada de plaquetas, levando à formação de coágulos e à obstrução da circulação. Esse agrupamento ocorre de forma anormal, dificultando o reparo do dano ao endotélio. Vários setores podem ser afetados, diz Grudtner:
- Há pacientes que desenvolvem o problema no pulmão, causando embolia pulmonar. Outros desenvolvem nas pernas, fazendo trombose venosa profunda. De uma trombose venosa profunda, se o coágulo se desprender e subir até o pulmão, também pode causar embolia pulmonar. Os pacientes graves também têm risco maior de infarto, que são trombos dentro das artérias coronárias. Coágulos também podem ocorrer no cérebro, sendo uma das causas do acidente vascular cerebral (AVC).
Já o risco de trombocitopenia trombótica, a imunotrombose que foi observada em alguns pacientes que receberam vacinas de vetor viral, é muito menor, diz Teruchkin:
- A trombose relacionada a vacinas é muito rara. Geralmente ocorre em vasos cerebrais ou em órgãos abdominais. Estatísticas apontam para um caso em 125 mil até um caso em 1 milhão de vacinados. Dado que um paciente de covid-19 tem de 5% a 30% de chance de ter trombose conforme a gravidade da doença, percebe-se como o coronavírus é mais perigoso do que a vacina.