segunda-feira, 31 de março de 2025


31 de Março de 2025
CARPINEJAR

Talco do mal

Só experimentei cabelos compridos na adolescência. Não tive chance antes. Minha infância no final dos anos 70 e início dos 80 foi marcada por surtos de piolhos. Hospedei o inseto e sua infindável família em três oportunidades. Jamais descobria o foco do contágio.

Lembro-me claramente da cena da limpeza. Eu me deitava no colo da mãe, sobre uma toalha branca estendida em suas pernas. Ela derramava álcool e ia espremendo um por um dos bichinhos com as unhas, como se fossem cravos.

O pano terminava manchado de pontos vermelhos e pretos, quase formando uma bandeira do Flamengo.

A sessão demorava horas. Quando eu saía, chegava outro irmão, até ela faxinar os fios da prole completa. Se a infestação persistia, vinha o pior: a fumaça branca do Neocid. Não tínhamos consciência dos riscos à saúde - sua base era carbanato, assim como a do "chumbinho".

Nos tempos prósperos, usávamos o talco do bem Johnson?s. Nos tempos de piolho, usávamos o talco do mal Neocid.

O desespero não lia bula. Hoje é evidente de que se trata de um veneno e que não deve ser aplicado em pessoas, mas diretamente em baratas, formigas, pulgas e percevejos. Na época, não sabíamos. Fechávamos os olhos e o nariz para não inalar. Neocid realmente matava os piolhos, a questão é que poderia levar as crianças junto.

Havia quem recorresse a uma mistura de vinagre branco e água, ou chá de arruda, ou spray de citronela, ou óleos essenciais, como o de coco ou de árvore do chá. Ninguém na turma cheirava a xampu ou a sabonete.

Ser piolhento criava um estigma, ocasionando rejeição e exclusão na escola. Representou a lepra da minha meninice. Colegas apontavam para quem estava empestado, ofendendo e se distanciando como se fosse uma doença letal, como sinônimo de falta de asseio e higiene. A má fama durava até o fim do ano, por mais que o aluno sanasse o problema com a devida urgência. Reinavam a fofoca e a quarentena mental.

Qualquer um que servia de aeroporto dos sanguessugas se sentia sujo e impróprio. Toda lacuna na lista de chamada gerava a hipótese de uma nova vítima. A ausência reincidente ligava o alarme da contaminação coletiva.

Como nos encostávamos no recreio nas disputas de polícia e ladrão, como vivíamos interligados na colmeia da sala de aula, dividindo apontador e borracha, não existia a mínima escapatória.

Preventivamente, os pais passaram a cortar os nossos cabelos. Começaram a adotar a meia cabeleira, o penteado arredondado, tesourando as franjas com o apoio de uma bacia. Às vezes, exageravam na tosa, e a testa apresentava buracos e falhas horripilantes.

Não funcionando, partiam para o estilo cadete, militar: raspavam os lados da cabeça e deixavam um murcho topete. Não funcionando ainda, ficávamos carecas, com o couro arrepiado, à semelhança de espinhos.

Nunca fomos hippies. No lugar de paz e amor, travávamos uma ensandecida luta armada contra os piolhos. 

CARPINEJAR

31 de Março de 2025
CLÁUDIA LAITANO

Sem cordas para segurar

Duas fés, duas canções. Gilberto Gil compôs Se Eu Quiser Falar com Deus atendendo a uma encomenda do supercatólico Roberto Carlos, que havia arrombado a festa 10 anos antes, em 1970, com o hit Jesus Cristo. Gil deve ter imaginado que o cantor talvez se interessasse em voltar ao tema da fé e escreveu para ele uma das mais belas canções da música popular brasileira. Mas Roberto não curtiu. Não era daquele jeito que o Rei falava com Deus.

Elis, por sua vez, não perdeu tempo. Antes que o próprio Gil gravasse sua composição no álbum Luar (1981), a cantora lançou um compacto com uma interpretação nada menos do que sublime da canção. Mas a história não terminou ali. Em 1995, Roberto decidiu gravar uma espécie de resposta à música de Gilberto Gil, intitulada Quando Eu Quero Falar com Deus.

Roberto: "Deus nos ouve, nos mostra o caminho que a ele conduz/ Deus é pai, Deus é luz".

Gil: "Se eu quiser falar com Deus/ Tenho que me aventurar/ Tenho que subir aos céus/ Sem cordas pra segurar".

Instalada há algumas décadas no estreito nicho dos 5% de brasileiros que afirmam não acreditar em Deus, não me cabe discutir a crença e suas múltiplas manifestações. Com relação à religião, meu único dever moral é lutar para que cada um tenha (ou não tenha) a sua - e que o Estado se mantenha laico para garantir a felicidade de todo mundo. Mas a fé dos outros, às vezes, me comove. Quem já visitou uma catedral, ouve música sacra ou é fã de algum escritor profundamente religioso sabe que é possível apreender a transcendência espiritual alheia, de forma indireta, através da arte. O milagre que faz da canção de Gilberto Gil uma obra-prima e relega a de Roberto ao esquecimento tem nome: chama-se poesia.

O hino Deus Cuida de Mim, do pastor Kleber Lucas, interpretado por Caetano no show em Porto Alegre, não alcançou, entre nós, a graça da transcendência. Porque o público de Caetano não acredita em Deus? Porque tem preconceito contra os evangélicos? Cada um saiu da Arena com sua própria teoria para explicar a ensurdecedora economia de aplausos. Meu palpite: Caetano poderia cantar para todos os deuses e todos os santos de todas as confissões, e seu público ainda assim aprovaria. Desde que 1) a canção fosse bonita e 2) letra e música estivessem em sintonia com o legado, a sensibilidade e até mesmo a religiosidade de Caetano Veloso. Como o público não ouviu nada disso, Deus Cuida de Mim soou apenas deslocada. E populista. _

O conteúdo desta coluna reflete a opinião do autor

CLÁUDIA LAITANO


31 de Março de 2025
OPINIÃO RBS

O refrigério da arte

A 14ª Bienal do Mercosul, aberta na quinta-feira, chega como um refrigério em meio aos dias conturbados da Capital e do Estado. A megaexposição, que se estende até o dia 1º de junho, oferece uma espécie de respiro por meio da arte à tensão e à correria do cotidiano, ao noticiário pesado e aos esforços de reconstrução de Porto Alegre e do Rio Grande do Sul após a enchente prestes a completar um ano. O evento, aliás, não pôde ser realizado em 2024 exatamente devido às consequências da cheia histórica. Assim como também teve de ser adiada em 2020, por causa da pandemia.

Nada mais apropriado e tempestivo, portanto, do que prestigiar a Bienal. Pelo deleite pessoal, pelo fortalecimento da Capital como polo cultural e de eventos internacionais e para demonstrar que o reerguimento da cidade e do Estado segue firme em curso, também pela força da arte, sintetizada pelo acervo diverso de obras que materializam as sensações e ideias de seus autores, dos mais variados cantos do mundo.

Após a edição anterior, em 2022, atrair um público de cerca de 860 mil pessoas, a meta da organização é chegar agora a 1 milhão de visitantes ao longo de mais de dois meses de portas abertas. Um dos trunfos para atingir este objetivo ousado é espalhar os espaços que receberão as exposições. Serão 18 locais, não apenas em Porto Alegre, mas desta vez também em Viamão. A entrada é gratuita em todos os ambientes.

A intenção é atrair também quem não é frequentador de eventos do gênero. Para isso, foram escolhidos locais não convencionais frequentados por diferentes públicos, como o POP Center, local de comércio popular da área central da Capital. Sempre é tempo para ser iniciado no mundo da arte ou de ser arrebatado pela mensagem que ela traz, em suas mais diferentes formas. Levá-la a mais lugares oportuniza ampliar o alcance da inspiração que pode causar e incentivar o aparecimento de novos talentos, também pelos contatos que proporciona. O curador da 14ª edição, Raphael Fonseca, cita que diversos nomes locais com obras na exposição deste ano tiveram o primeiro contato com uma exposição de artes visuais em bienais anteriores - um evento, aliás, de dimensões raras no Brasil.

Mas o que melhor sintetiza o sentido de retomada, sem dúvida, é reabertura da Usina do Gasômetro. Um dos cartões-postais da cidade, após sete anos de reformas, reabriu na sexta-feira e será um dos pontos centrais da Bienal do Mercosul. O prédio histórico estava fechado desde novembro de 2017. Uma boa pedida é visitar o evento e, na mesma oportunidade, matar a saudade da usina e apreciar um belo pôr do sol típico do outono à beira do Guaíba. O Farol Santander tradicional é outro ambiente tradicional que reabre após ficar de portas cerradas desde a cheia de maio.

A edição deste ano tem como tema "Estalo" e reúne obras de 77 criadores de diversos países do mundo. Dois terços dos artistas são internacionais. Treze são gaúchos. Se em cada obra há uma reflexão, visitar a 14º Bienal do Mercosul, ainda que em apenas um ou alguns de seus espaços, é a chance de se abrir para múltiplas novas percepções, ou a estalos, como sugere a ideia que permeia a megaexposição. 

OPINIÃO RBS

31 de Março de 2025
GPS DA ECONOMIA - Marta Sfredo

Respostas capitais

Juliana Trece

Economista do Núcleo de Contas Nacionais e coordenadora do Monitor da Atividade Econômica do FGV Ibre

"RS, que era o maior, perde, e SC ganha"

Pela primeira vez, o Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre) analisa o desempenho de economias regionais. Uma das conclusões é que o PIB de Santa Catarina cresceu 2,5% ao ano entre 2001 e 2024, único no Sul acima da média nacional. O do RS avançou 1,5% ao ano, inferior à média nacional. Juliana Trece e os colegas Claudio Considera e Isabela Kelly estimam que o RS cresceu 4,2% no ano da grande catástrofe. Mas o dado é relativizado.

Por que houve a decisão de detalhar o comportamento das economias regionais?

No Ibre, coordeno a equipe do Monitor no PIB, que procura mensurar a atividade econômica do Brasil. Para isso, precisamos entender mais o país, que é muito grande. Percebemos que faz sentido entender melhor as economias regionais. O Brasil cresceu 3,2% em 2023, mais 3,4% em 2024. A ideia é ampliar a quantidade de Estados investigados. E começamos pela Região Sul. A cada trimestre vamos apresentar atualizações.

Por que começou com a Região Sul?

Já havia a ideia de que tínhamos de analisar melhor as regiões. Precisávamos escolher, e decidimos começar pelo Sul porque houve a enchente. Isso nos ajudaria a entender melhor território e o Sul com um todo.

Existe a percepção de que o Sul é homogêneo?

Sim, partimos dessa premissa, mas constatamos que os resultados recentes são muito diferentes. A percepção vinha do equilíbrio da participação dos Estados no PIB da região. Mas é a região com maior homogeneidade, ainda mais agora que o RS, que era o maior, perde, e SC, que era o menor, ganha.

Esse tema preocupa o RS, qual o diagnóstico das causas?

Não aprofundamos o diagnóstico, mas temos indícios. Assim como o Rio de Janeiro, o Rio Grande do Sul tem situação fiscal muito complicada (alto endividamento e Regime de Recuperação Fiscal). Isso muito provavelmente influencia no desempenho da atividade econômica. A restrição fiscal não permite ao Estado adotar ações para tornar a economia mais pujante. Ao longo do tempo, o RS tem crescido abaixo da média nacional. E o Sul como um todo também, muito por causa do RS. Santa Catarina cresce acima dessa média desde 2017, e o Paraná vai em ritmo parecido.

Há outros fatores?

Um aspecto a frisar é que a agricultura pesa mais no Rio Grande do Sul do que nos outros Estados do Sul. Santa Catarina tem menos oscilação nesse setor porque a pecuária tem peso quase idêntico ao da agricultura. No PIB, os catarinenses sofrem menos com eventos climáticos. Como o RS é mais dependente, pesa mais a questão climática que, como sabemos, tem tendência de aumentar. Isso tende a afetar mais uma economia mais dependente da agricultura, que é muito sensível a questões climáticas. É um fator a ser considerado. Como o RS também tem um agronegócio muito desenvolvido, com a transformação dos insumos agrários e a fabricação de alimentos, um dos setores industriais mais importantes do Estado, também essa cadeia tende a ser mais afetada pela questão do clima.

Estão claros os motivos pelos quais Santa Catarina deslanchou a partir de 2017?

É desde quando cresce acima da média nacional. Tanto a indústria quanto os serviços estão indo muito bem. O grande destaque são os serviços, especialmente os de informação, tecnologia, inovação. Esses segmentos estão muito fortes em SC, e estão ajudando o Estado a ter bom desempenho. Quando a inovação é forte, a indústria se beneficia. Em Santa Catarina, os segmentos de transporte e da indústria metalúrgica vão muito bem. É o Estado que vemos com crescimento mais disseminado.

Como o estudo pode ajudar a entender por que, no ano da grande catástrofe, o crescimento do RS foi tão forte?

É difícil enfrentar as perdas, e repará-las. O que dizer para as pessoas que ainda sofrem as consequências? Mas temos de explicar nossa previsão de crescimento de 4,2%. Metade vem da agropecuária. Conforme o IBGE, 90% da safra de verão do RS foi colhida entre janeiro e abril. E a produção de soja cresceu 69,2%, segundo o Levantamento Sistemático da Produção Agrícola. Quando vem a chuva, em maio, e paralisa o Estado, já estava garantido crescimento de dois pontos percentuais.

E os outros dois pontos?

A indústria teve um crescimento que estimamos em 0,7%. Foi muito afetada, houve perda de máquinas, de capacidade de produção. Como vinha de queda no ano anterior, a base de comparação é fraca e o resultado não parece tão ruim. Quando se olha por dentro, para cada setor, fica mais claro. Os fabricantes de máquinas e equipamentos e de veículos foram muito impactados. Mas houve pequeno crescimento porque a produção de biocombustíveis subiu 17%. Não sei se é análise ou torcida, mas seria ótimo se fosse resposta à preocupação climática. O segmento metalúrgico também cresceu, deve ter sido para ajudar na reconstrução de máquinas, para remontar o Estado.

Nos serviços, o melhor desempenho foi do varejo?

Os serviços do RS cresceram 3,15% na nossa estimativa em 2024, depois de subir só 1,8% em 2023. Não surpreende porque, como houve muitas perdas materiais, o comércio foi beneficiado pela necessidade das pessoas de readquirirem roupas, eletrodomésticos, mobiliário. Até a indústria de vestuário, em que o Estado tem perdido participação, ficou mais forte. Quando houve a enchente, em maio, até o início de junho, sem muitos dados, as expectativas eram muito mais pessimistas. Mas já prevíamos que, quando baixasse, as pessoas iam voltar à vida normal e a reconstrução movimentaria a atividade econômica. Mesmo assim, crescer 4,2% com uma enchente do tamanho que foi, nunca no país houve uma tragédia ambiental desse tamanho, é difícil de explicar. Mas nos números, o agro e setor de serviços explicam.

O que mais chamou atenção no estudo?

O fato de haver um movimento tão diferente entre Estados que têm renda per capita mais ou menos parecida. Não achei que seria tão grande. De positivo, o fato de SC estar entrando nesse mundo mais digital, com mais inovação. E negativo, o de o RS estar perdendo participação no PIB nacional, com dificuldades nos três setores. A dependência da questão climática acaba sendo algo a ser destacado, embora negativamente.

Que recados o estudo dá para o RS?

Não se pode depender tanto de uma só atividade. A experiência de SC ensina muito porque a economia é diversificada. A preocupação com as questões climáticas não se relaciona só à economia. Há perdas de vidas, psicológica. É preciso ter medidas de maior resiliência às mudanças climáticas, que já estão acontecendo e tendem a se agravar. Como carioca, sei que estamos competindo terrivelmente, porque o Rio também está muito mal. É importante ter prevenção para evitar novas tragédias. _

GPS DA ECONOMIA

31 de Março de 2025
ACERTO DE CONTAS - Giane Guerra

Nós estamos ao seu lado. O Canadá não é Estado de ninguém. É uma nação independente. Bem-vindos, amigos canadenses - disse no discurso, que pediu expansão do comércio com países como o Canadá, que tem matérias-primas fornecidas pela Rússia, com a vantagem de ser uma democracia. - Sabemos que o livre comércio mundial, que criou tanta prosperidade, está em risco. Não estamos indefesos. A Europa é aberta, mas não somos ingênuos - continuou, prometendo reagir ao tarifaço dos Estados Unidos.

Político representante do Canadá, Stéphane Dion defendeu uma relação de "ganha-ganha", com respeito, cooperação, previsibilidade e parceria confiável, termos que apareceram em outros discursos. O posicionamento agressivo e defensivo aqui na feira de Hannover contra Trump era esperado e não surpreende. O aplauso mais longo foi para a fala: "O Canadá é um país independente e o seu povo decidirá o que quer para o futuro. Ninguém mais."

Há também uma ânsia por mostrar a força tecnológica da Alemanha, que tem enfrentado a competitividade galopante de países como a China.

- A Europa não é um museu. Tem alta tecnologia - bradou o presidente da Associação Alemã de Fabricantes de Máquinas e Instalações Industriais (VDMA), Bertram Kawlath - E respeitamos nossos vizinhos - também em um recado a Trump. _

* A coluna viajou a Hannover a convite da Fiergs.

O RS em Hannover

Realizada ao longo de toda a semana, a Hannover Messe terá 4 mil expositores em 1,4 quilômetro quadrado e espera 130 mil visitantes. A cidade de Hannover, no Estado da Baixa Saxônia, aumenta sua população em cerca de 20% durante o evento.

O Brasil vem com uma missão de 75 empresários, sendo 53 do RS. A comitiva é liderada pelo presidente da Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs), Claudio Bier, que assumiu a entidade neste ano e vem pela primeira vez à feira.

- Minha expectativa é ver o avanço do evento, que começou com máquinas e hoje é um evento de tecnologia industrial.

O principal tema da feira é energia para uma indústria sustentável. A Alemanha está cada vez mais interessada em hidrogênio verde que o Brasil venha a produzir, o que a coluna aprofundará ao longo da semana. _

A cidade dos aviões

Será reapresentado hoje no Palácio Piratini o complexo de R$ 3 bilhões com fábrica de aviões e aeroporto que a Aeromot pretende construir em Guaíba, no terreno que era da Ford. Lei aprovada no final de 2024 cedeu o terreno à empresa para a AeroCITI.

O CEO Guilherme Cunha explicou à coluna que a enchente exigiu adaptações no empreendimento, que fez novo pedido à Fepam de licença de instalação, que autoriza início da obra.

- Tivemos um alagamento na parte da pista das aeronaves. O Arroio do Conde é a divisão do nosso terreno. Só vai existir um nível de investimento maior, algumas precauções - disse.

Cunha disse que o aeroporto pode ser um dos "backups" para eventuais problemas no Salgado Filho, de Porto Alegre. A estrutura prevê uma pista de 1,8 mil metros. _

Lazer no Park

O mais conhecido da Região Metropolitana, o ParkShopping Canoas investiu R$ 3,4 milhões em nova área de lazer externa de 1,66 mil metros quadrados. A ser inaugurado em julho, o espaço ao ar livre de acesso gratuito terá brinquedos para crianças e local para animais de estimação (pets).

A quadra de areia será renovada para esportes como vôlei, beach tennis e futevôlei. _

Entrevista -  Luís Vilarinho - Superintendente do ParkShopping Canoas

"Vamos atender toda a família, das crianças aos avós e pets"

Qual o objetivo da área de lazer?

Fortalecer o empreendimento como centro de lazer e entretenimento de toda a região. Vamos atender toda a família, das crianças aos avós e pets.

Atrair clientes é desafio dos shoppings com o avanço do comércio online, com lazer e serviços de saúde.

Acreditamos muito nisso. É um pilar forte na Multiplan. Outro segmento nesta ideia é o da gastronomia. Inauguramos em 2024 o Park Gourmet, com sete novas operações.

Em 2024, o shopping teve movimentação diferenciada ao servir de apoio à Base Aérea de Canoas, quando o aeroporto de Porto Alegre fechou na enchente. O ganho permaneceu?

O shopping cresceu 11% em vendas totais em 2024. Chegamos ao valor de venda geral de R$ 830 milhões, ajudou muito o shopping a ficar conhecido em toda a Região Metropolitana e na Capital.

Ele puxou todo o crescimento de uma região de Canoas...

Correto. Em três anos, terão novos 19 empreendimentos residenciais em até 10 minutos do shopping. São 4 mil residências, com todos os públicos. O metro quadrado custa de R$ 5 mil a R$ 18 mil. Um crescimento pujante e acelerado.

Quem frequenta o shopping?

Nossas campanhas são um bom termômetro. O público de Canoas representa entre 50% e 55%, região norte de Porto Alegre de 15% a 20% - uma grata surpresa - e os demais têm origem pulverizada. Influencia tíquete médio (gasto do consumidor), frequência de pessoas e a tomada de decisão. _

Cruzeiros de luxo

Os portos do Rio Grande do Sul trabalham para entrar na rota de cruzeiros de luxo, que são menores e não precisam de calado tão profundo. Executivos da Ponant, operadora francês destes navios de turismo, estiveram em Rio Grande. Haveria ainda a possibilidade de estas embarcações entrarem pelos portos de Pelotas e de Porto Alegre, explica Cristiano Klinger, da Portos RS. Além de ser ponto de parada, Klinger sugere às empresas que sejam locais de embarque e desembarque para os passeios, potencializando ainda mais o turismo nestas áreas.

ACERTO DE CONTAS

31 de Março de 2025
POLÍTICA E PODER - Rosane de Oliveira

Leite deveria comprar jatinho sem usar dinheiro do Funrigs

É fácil para quem não precisa de votos defender medidas que contrariam o senso comum. Se você quiser ser popular, critique o governador Eduardo Leite por ter pensado em comprar um jatinho de R$ 90 milhões com dinheiro do Fundo de Reconstrução. Se não se importar com cliques e com críticas de redes sociais, pense no que significa para um Estado do sul do Brasil ter um avião para usar em emergências da saúde ou da segurança pública, por exemplo.

Leite deveria comprar o avião, mas não com recursos do Fundo de Reconstrução do Rio Grande do Sul, o Funrigs. Deveria comprar com dinheiro do Tesouro mesmo e se sujeitar a perder votos se for candidato na próxima eleição. Porque é certo que a oposição seguirá na confortável posição de atacá-lo sem aprofundar o debate.

Assim como esta coluna defendeu a compra do Airbus pelo presidente Lula, para substituir o chamado Sucatão, que não tinha nem autorização para pousar em certos aeroportos da Europa, defende agora a aquisição do jatinho - usado - para viagens a Brasília e outros Estados pelo sucessor de Leite. Porque ele, se comprar, dificilmente fará alguma viagem, já que deve renunciar para concorrer no início de abril de 2026. Não será o AeroLeite, como não é o AeroLula. É um bem público para ser usado a serviço do Rio Grande do Sul.

Avião ajudaria a salvar vidas

O argumento mais convincente vem da secretária da Saúde, Arita Bergmann: o RS poderia fazer mais transplantes se tivesse um meio mais rápido de buscar órgãos quando aparece um doador.

Arita conversou com dois craques da área de transplantes para assumir a defesa da compra do avião: José de Jesus Camargo, da Santa Casa, referência mundial em transplante de pulmão, e Nadine Clausel, que criou o serviço no Clínicas e para lá voltou quando deixou a presidência.

Hoje, o governo utiliza o Caravan e o King Air, que transporta o governador e secretários, e tem um contrato com a Uniair para transporte de pacientes em estado grave, que precisam ser transferidos de regiões distantes, ou para buscar órgãos disponíveis para o transporte. _

Em ato minguado contra a anistia, esquerda pede prisão de Bolsonaro

Foi fraco o ato convocado pelos partidos de esquerda contra o projeto de anistia aos condenados pelos atos violentos do 8 de Janeiro e aos que ainda serão julgados por tentativa de golpe.

O Monitor Político, mesmo instituto que calculou 18 mil pessoas na manifestação realizada no Rio de Janeiro, com a presença de Jair Bolsonaro, concluiu que a de ontem, na Avenida Paulista, teve um terço do público.

O deputado Guilherme Boulos (PSOL) foi um dos líderes da manifestação ao lado de Linbergh Farias (PT-RJ) e chegou a dizer que havia mais gente do que no ato do Rio, o que as imagens desmentem.

Os manifestantes pediram a prisão de Bolsonaro.

Atos como o de Copacabana ou da Paulista não devem ter qualquer influência na decisão dos ministros do STF nem no Congresso, já que nenhum dos lados deu demonstração de força. _

Prefeito de Santa Maria vai aos bairros ouvir moradores

Seguindo um exemplo que deu certo em diferentes cidades, o prefeito de Santa Maria, Rodrigo Decimo, inaugurou no sábado o projeto Prefeitura nos Bairros, que se estenderá por todas as regiões do município. O objetivo é aproximar a prefeitura da população que mora mais afastada da área central.

Das 9h ao meio-dia, o prefeito e os secretários se instalaram no bairro João Luiz Pozzobon e atenderam centenas de moradores que apresentaram suas queixas ou tiveram acesso facilitado a serviços da prefeitura, além de apoio e entretenimento.

A previsão é realizar a ação a cada dois meses, com a presença de todos os secretários. _

Mais um privilégio para o MP e o TJ

Começou a valer no início de março no Ministério Público e no Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul a mais nova barbadinha para promotores, procuradores de Justiça, juízes e desembargadores.

A nova benesse atende pelo nome de "licença compensatória". Em tese, magistrados e membros do MP que estiverem sobrecarregados de processos terão direito a uma "licença compensatória" de um dia a cada três trabalhados. Isso, naturalmente, sem prejuízo dos dois meses de férias e do recesso de fim de ano. Quem não quiser a folga, pode receber o valor em dinheiro, o que dá um acréscimo de 1/3 na remuneração.

A licença compensatória substitui o chamado "adicional de acervo". _

Sem desconto de Imposto de Renda

O que muda agora para juízes e membros do MP com a licença compensatória? O adicional de acervo era considerado "remuneração" e, portanto, deveria ficar dentro do teto. Além disso, sobre ele incidia Imposto de Renda.

A licença compensatória, para quem optar por receber em dinheiro, entra no contracheque como "verba indenizatória". Sobre ela não incide Imposto de Renda nem é preciso ficar dentro do teto. _

mirante

A Corregedoria do Conselho Nacional de Justiça criou uma espécie de "teto alternativo" ao limitar os penduricalhos a R$ 46,3 mil. Na prática significa que o teto dos magistrados será de R$ 92,6 mil, somando subsídio com verbas indenizatórias, que incluem a venda de férias.

O procurador-geral de Justiça. Alexandre Saltz, se licencia do cargo hoje para disputar a eleição interna do Ministério Público, que indicará a lista tríplice para o governador Eduardo Leite escolher o próximo chefe da instituição.

POLÍTICA E PODER

31 de Março de 2025
INFORME ESPECIAL -  Rodrigo Lopes

O mapa das startups no South Summit

Um dos maiores eventos de inovação do mundo, o South Summit Brazil tem início na próxima semana. Dentro da programação da terceira edição da conferência, que ocorre em Porto Alegre entre os dias 9 e 11 de abril, destaca-se a Competição de Startups, cujo objetivo principal é promover iniciativas inovadoras, oferecendo a oportunidade de fechar negócios por meio de reuniões individuais com investidores e corporações em busca de novidades.

Segundo a Secretaria de Inovação, Ciência e Tecnologia (SICT) do Rio Grande do Sul, a edição deste ano recebeu 2.129 inscrições de 79 países. Entre elas, 50 iniciativas de 11 países avançaram para a fase final.

Panorama das nacionalidades

Em 2024, 15 países contavam com startups finalistas, número que caiu para 11 em 2025. O Brasil segue como o país com maior representatividade - aumentou de 25 para 28 startups em relação ao último ano. O Chile também apresentou um crescimento, passando de três para seis. Israel, que participou em 2024, não estará presente este ano. Por outro lado, novos países ingressaram na competição, como Indonésia e Polônia.

Sendo assim, das 50 finalistas, 56% (28 startups) são brasileiras. Em seguida, aparece o Chile com 12% (6); Argentina e México com 6% (3); Uruguai, Estados Unidos e Espanha com 4% (2); e Portugal, Polônia, Alemanha e Indonésia, que juntos somam 8% (1 startup cada).

Balanço do RS

Do Rio Grande do Sul, o número de finalistas subiu de cinco, em 2024, para 11 neste ano, ou seja, mais do que dobrou. A Secretaria ressalta, porém, que a maior mudança está na diversificação de setores. Embora a saúde e a biotecnologia continuem representadas, há um aumento significativo de startups nos setores de tecnologia digital, legaltech (serviços tecnológicos para o setor jurídico), fintech, smart cities e indústria 5.0, o que reflete um ecossistema mais adaptado às necessidades globais e locais.

- Ocupamos o primeiro lugar em inovação no Brasil e este holofote que o South Summit coloca no RS nos projeta como protagonistas no cenário latino-americano. Outro ponto importante é o fortalecimento do ecossistema gaúcho de inovação com este aumento de empresas gaúchas na final da competição de startups - destaca Simone Stülp, secretária da SICT. _

Medalha a Felipe Neto

O youtuber Felipe Neto recebeu, na sexta-feira, a Medalha da 56ª Legislatura do Parlamento Gaúcho. A homenagem foi proposta pelo deputado Leonel Radde (PT) em razão da atuação do influenciador na enchente no RS.

- Em momentos de tragédia, é obrigação daqueles que detêm o poder, seja ele financeiro ou político, agir em função daqueles que precisam de ajuda - disse.

Por questões de segurança e ameaças, ele não veio ao RS. _

Entrevista - Márcio Tavares - Secretário-executivo do Ministério da Cultura

"Nosso povo gosta de cultura, mas às vezes o que falta é acesso"

Em março de 2025, o Ministério da Cultura completa 40 anos de existência. Sobre a data, a história, o recente Oscar do filme Ainda Estou Aqui e a atuação da ministra Margareth Menezes, a coluna conversou com o secretário-executivo do Ministério da Cultura, o gaúcho Márcio Tavares.

Qual avaliação dos 40 anos?

Muito positiva. O tempo de existência do ministério se confunde com o tempo da redemocratização do Brasil, com a saída da ditadura militar, a aprovação da nova Constituição, documento que consagrou os direitos culturais como um direito de cidadania e o órgão como um agente articulador da promoção desses direitos. Nesses 40 anos, o ministério chegou a ser extinto três vezes: uma vez no governo do presidente (Fernando) Collor, outra no governo (Michel) Temer, e depois no governo anterior (de Jair Bolsonaro). 

Fora isso, temos um tempo de acúmulo de políticas culturais, como a Lei Sarney na década de 1980, que em 1991 vira a Lei Rouanet, o instrumento de incentivo fiscal de fomento mais antigo que temos. Mas instituiu também o Fundo Nacional de Cultura, que existe até hoje. Na década de 1990 a retomada do cinema brasileiro, nos anos 2000, com (então ministro) Gilberto Gil, veio a ampliação do conceito de cultura, a era da política de cultura viva e dos pontos de cultura, até chegar hoje, nesse momento que temos políticas altamente capilarizadas. Hoje, o ministério se consolidou como um vetor articulador que responde por uma dinâmica importantíssima da vida brasileira.

Em 2023, na retomada da pasta, como a encontraram?

As descontinuidades das políticas culturais do ministério são sempre muito prejudiciais para a instituição. O que encontramos era um ministério que estava organizado para descontinuar as políticas de cultura, então foi um esforço desses dois primeiros anos para recuperar a institucionalidade, a moral dos servidores, a capacidade de trabalho e, nesse mesmo período, executar as leis da cultura, o maior volume de investimentos do fundo setorial do audiovisual da história.

O Oscar de Ainda Estou Aqui eleva a cultura do país? Em algum momento o fomento à cultura poderá dispensar, de alguma forma, o apoio estatal?

Acho que (o Oscar) é uma chancela importante de um trabalho que vem sendo desenvolvido há muito tempo. O audiovisual brasileiro tem qualidade. E a cultura brasileira é o maior ativo de representação que o Brasil tem no futuro. Quando saímos do Brasil, a partir da nossa arte, oferecemos uma representação positiva do país. Acho que sempre haverá necessidade do financiamento público. Ele é complementar. Precisamos ter o Estado e o mercado funcionando de forma articulada.

Há o discurso de parte da população que diz que a cultura do país não tem relevância. Como mudar isso?

A primeira coisa, (dizer) que o povo brasileiro não gosta do audiovisual brasileiro, acho isso muito relativo. As pessoas gostam das obras brasileiras, do audiovisual brasileiro. Com relação à música, nem se fala. A diversidade que o Brasil tem em termos regionais, étnico-raciais, forma uma possibilidade única de ter um manancial de histórias, de ritmos, de formação de iniciativas culturais inovadoras. Quando demonstramos os números e a fluência, demonstramos que o nosso povo gosta muito da nossa cultura e, às vezes, o que falta é acesso, estar mais próximo. Temos que cada vez mais valorizar, cada vez mais dar conhecimento. O Brasil tem um futuro gigante através do apoio à cultura.

A oposição diz que a ministra Margareth Menezes utiliza a estrutura da pasta para autopromoção. Como avalia isso?

Acho que a ministra é uma artista já consagrada no Brasil e internacionalmente. Não precisa de autopromoção para ser mais conhecida. A oposição deveria se preocupar com coisas mais concretas no nosso país que estão precisando realmente de cuidado e não ficar buscando tratar de picuinha. Acho que esse tipo de ilação não tem sentido nenhum. _

INFORME ESPECIAL

sábado, 29 de março de 2025

28/03/2025 - 15h56min
Martha Medeiros

A pergunta que ressoa durante os quatro dilacerantes episódios da série "Adolescência"

Somos todos frutos do meio, claro, mas ninguém discutia o poder do legado familiar

O diálogo na mesa de jantar não existe mais, a família unida no sofá também não. Há uma tela entre nós.

Gilmar Fraga / Agencia RBS

Parecia tão romântico: os filhos não são nossos filhos, e sim filhos da vida, flechas que voam enquanto o arco se mantém estável e aquela coisa toda. Éramos projetores de almas que, depois de acarinhadas e protegidas entre quatro paredes, iriam transmitir lá fora o seu aprendizado e seu potencial afetivo.

Somos todos frutos do meio, claro, mas ninguém discutia o poder do legado familiar. Se em nosso destino estava ganhar o Nobel ou cometer um crime, era aos pais que deveríamos agradecer ou culpar. A ligação de causa e efeito era imediata: filhos largados, desgraceira à vista. Filhos amados, futuro a salvo. 

Que angústia quando não saía como o combinado. Se toda a prole foi amada do mesmo jeito, por que a caçula se formou em Medicina com louvor enquanto seu irmão se droga e fica três dias sem aparecer em casa? Por quê? Por quê?

É a pergunta que ressoa durante os quatro dilacerantes episódios da série Adolescência, da Netflix. Espera-se uma explicação convincente para os fatos, e a resposta é aflitivamente inexata. 

Ora, porque cada ser humano tem sua complexidade, porque não há quem seja apto o suficiente para preencher a carência do outro, porque estamos submetidos a julgamentos diários e injustos, porque já não existem paredes que nos protejam do olhar indiscreto e insaciável da sociedade, porque buscamos validação constante e nos atacar é a diversão de estranhos, porque a facilidade de acesso à intimidade alheia induz a uma comparação que nos consome, porque nunca seremos tão belos, desejáveis, ricos, inteligentes e merecedores daquilo que os outros aparentam ter e ser. E mais cinco dezenas de porquês.

Outro dia me perguntaram, ao final de um talk show, o que ainda me fazia acreditar na humanidade. Travei. Não queria terminar um encontro agradável ofertando a palavra “nada” para a plateia. Busquei um subterfúgio, acabei falando em filhos: eles costumam ser a nossa versão melhorada (ao menos, é para isso que nos empenhamos em sua educação). No mínimo, eles estarão em seu auge intelectual quando estivermos apatetados, e saberão lidar melhor com os desafios da vida, ao contrário de seus pais idosos, esgotados de tanto tentar se adaptar às mudanças.

Só que a mudança, agora, é violenta para todos. Os adolescentes hoje consomem irrealidade, boatos, maldades. Estão inseguros em seus quartos e têm dificuldade de identificar emoções genuínas. O diálogo na mesa de jantar não existe mais, a família unida no sofá também não. Há uma tela entre nós. 

Um outro tipo de Deus, nada misericordioso. Só mesmo o amor para amenizar o estrago – sobrou para ele, de novo. Amor de olhos abertos, amor com beijo, abraço e escuta. E seja o que esse outro Deus quiser.

Atualizada em 28/03/2025 - 16h03min
Sara Bodowsky 

Passeios, vinícola e comida na brasa: três dicas para celebrar Porto Alegre 

Na semana do aniversário da cidade, coluna traz opções de caminhadas por diferentes bairros, brinde na Zona Sul e restaurante para desfrutar dos sabores e sensações

Viva+POA / Divulgação

Os guias e professores de Turismo Tamara e Evandro.

Viva+POA / Divulgação

Que tal turistar por Porto Alegre com olhos de primeira vez? A dica é conhecer os passeios cheios de história do pessoal da Viva+POA.

Tem caminhadas por vários bairros, onde os prédios e paisagens vão sendo explicados e contextualizados, tem trajetos temáticos como o da história negra na cidade, a Revolução Farroupilha e tours literários. E tem dois que fiz na última semana – e que vocês podem conferir no meu Instagram (@SaraBodowsky): o Histórias e Cervejas do 4º Distrito, que passa por bares cervejeiros enquanto explica a arquitetura e a linha de tempo da região, e o Lendas Urbanas de Porto Alegre – que é à noite, sai da Praça da Matriz e conta, através de passeio guiado e teatro, os mistérios do nosso Centro Histórico.

Minha vida mudou depois que apliquei técnicas de Feng shui em casa e os resultados começaram a fluir

Os tours têm à frente a Tamara e o Evandro, guias de turismo e também professores de cursos técnicos na área de turismo.

O site para você conhecer o trabalho e escolher o seu passeio é o vivamaispoa.com.br. Ou acesse pelo Instagram @vivamais.poa.

Vinícola na cidade: um brinde no coração da Zona Sul

Cave Poseidon / divulgação

Experiência harmoniza com produtos do bairro Vila Assunção.

Cave Poseidon / divulgação

E a coluna comemora o aniversário de Porto Alegre com mais uma dica muito bacana e até inesperada: a vinícola urbana Cave Poseidon, no coração da Vila Assunção, na zona sul de Porto Alegre.

O Carlo de Léo se apaixonou pela ideia de ter uma vinícola dentro da cidade. As uvas vêm de várias regiões do Estado – de acordo com a qualidade e a característica de cada terroir de produção. Ele vinifica em casa, em uma verdadeira minivinícola – muito bem aparelhada e com vinhos surpreendentes!

O casarão histórico é lindíssimo e tem inclusive histórias de ter recebido visitantes ilustres como nosso Erico Verissimo e o escritor francês Saint-Exupéry.

As experiências incluem a harmonização das bebidas com produtos do próprio bairro: chocolates, pães, queijos e charcutarias. É preciso reservar previamente as visitas e experiências pelo WhatsApp (51) 99106-9033. O perfil no Instagram é o @caveposeidon.

Comida de brasa: o equilíbrio entre o clássico e o criativo

EVE6D / Divulgação

O cardápio do Fogo sempre apresenta novidades, tanto nas carnes quantos nos drinks autorais.

EVE6D / Divulgação

E a gente sempre tem aqueles lugares que parecem um evento quando vamos, não é mesmo? Para mim, o Fogo é um deles. 

O balcão em torno do fogo mesmo, as comidas na brasa, a carta de drinks e de vinhos, tudo te traz exatamente para o momento presente, para o desfrutar dos sabores e sensações. 

O cardápio sempre tem novidades com assados especiais, carnes maturadas, texturas diferentes e drinks autorais. E a proposta do restaurante, que já passou dos dois anos, se divide com equilíbrio entre os pratos clássicos da parrilla e pratos mais criativos, sempre tendo o fogo como elemento principal. 

O Fogo fica na Rua Marquês do Pombal, 1.127, Moinhos de Vento. Funciona no almoço de sábados a domingos e no jantar, de terça a sábado. Informações também pelo Instagram @fogo.poa ou pelo WhatsApp (51) 3015-6939. 



29 de Março de 2025
CARPINEJAR

Rei na barriga

Era início dos anos 2000, o bibliófilo paulista radicado em Porto Alegre Waldemar Torres inaugurava o espaço Engenho e Arte, oferecendo ao público sua biblioteca de 5 mil volumes de edições raras.

Existia uma efervescência cultural na capital gaúcha. Minha mãe, Maria Carpi, foi convidada para o coquetel de abertura do acervo. Ela gostava muito da companhia de Waldemar, homem culto, atencioso, preocupado com a rotina dos escritores, influente no círculo artístico.

Enquanto ela dirigia do bairro Petrópolis ao Menino Deus, ia escutando e cantando os clássicos românticos do italiano Sergio Endrigo, vencedor do Festival de Sanremo de 1968.

Rodava o CD com as melhores canções dele: Lontano Dagli Occhi, Lo Che Amo Solo Te, Canzone per Te, Ci Vuole un Fiore, Era d?Estate, L?arca di Noè, Chiedi al tuo Cuore, Nuove Canzoni d?Amore e Il Treno che Viene dal Sud?

Fantasiava como seria conversar um dia com seu ídolo distante. Ele deveria se portar de modo sensível e metafórico, cortês e apaixonante. Quando ecoava sua música predileta, Elisa Elisa - até porque Elisa é seu segundo nome -, chegava a chorar de alegria. Sentia que a composição havia sido criada para ela, pois traduzia seus anelos mais profundos.¶

Elisa Elisa,

Di tanto cielo attraversato,

(De tanto céu atravessado,)

Di tante notti ad occhi aperti

(De tantas noites de olhos abertos)

Sono rimaste poche stelle

(Permaneceram poucas estrelas)

E stan cadendo ad una ad una.

(E estão caindo uma por uma.)

Ela se detinha na beleza das estrofes: estrelas caindo uma por uma. Só alguém muito especial seria capaz de dizer isso.

É necessário entender que a minha mãe é filha de italiano. Então, o idioma entra em sua corrente sanguínea sem mediação racional, com os torvelinhos da nostalgia.

Ela localizou uma vaga na frente do casarão, nem precisou gastar gasolina à toa. Tentou disfarçar a voz embargada, a emoção da cantoria, e se recompor de tanta entrega.

O encontro transcorreu na mais absoluta normalidade da alegria. Ela se divertiu com poetas amigos, aplaudiu concerto de violino e interagiu com os demais presentes até o anoitecer.

Ao ir embora, pacificada, viu o seu carro obstruído por um Porsche, que estava literalmente atravessado na frente de todos os quatro veículos na calçada. Ninguém iria conseguir sair dali.

De repente, começou a chamar os encarregados da segurança:

- Alguém me fechou, pode me ajudar?

Depois de 30 minutos, apareceu um senhor esbaforido, de topete grisalho e testa longa. Ela o conhecia de algum lugar, mas não lembrava.

Já saiu reclamando. Quem você pensa que é? Acha que a rua é sua?

Ele apenas falou: - Sorry! Ela insistiu com o sermão. Ficou realmente irritada com a soberba e falta de educação.

- Tem um rei na barriga? Não dá para agir como se estivesse sozinho no mundo.

Assim que sua ré se mostrou novamente liberada, partiu queimando os pneus, cheia de raiva da pouca empatia daquele cidadão metido a besta.

Na manhã seguinte, abrindo a Zero Hora, ela lê na capa:

"Sergio Endrigo faz show em Porto Alegre".

Olha o rosto dele, empalidece e reconhece o motorista que bloqueou a sua passagem.

A vida nunca é como imaginamos. _

CARPINEJAR


29 de Março de 2025
ANDRESSA XAVIER

Sociedade doente

O escritor israelense Yuval Noah Harari diz, no seu livro Sapiens, uma Breve História da Humanidade, que a grande revolução do Homo sapiens foi sua capacidade de criar realidades compartilhadas, como religiões, sistemas políticos e códigos morais. Foram essas abstrações que permitiram a coesão social e a construção de civilizações. No entanto, o mesmo mecanismo que uniu pessoas em sociedades também foi usado para justificar barbáries ao longo da história. Guerras, genocídios e atos individuais de violência extrema são contradições, mas também partem desse desenvolvimento ao longo dos séculos.

Temos visto uma série de acontecimentos que devem nos fazer refletir sobre a humanidade e seu rumo. Uma sociedade que não fica indignada com brutalidades, é uma instituição que faliu moralmente e como parte de uma civilização. Nessa semana o Rio Grande do Sul assistiu, atônito, a um homem que se diz pai e que jogou o filho vivo de uma ponte para atingir a ex-mulher. Assistiu também a um funcionário que colocou soda cáustica no bebedouro da empresa para fazer mal aos colegas. Como se não bastasse, em outro caso, o chefe torturou o empregado por mais de oito horas. Não precisei nem usar a memória, são todos casos desses últimos dias.

A crueldade humana, ainda que apareça em casos específicos, é assustadora. Na história se descreve o humano como um ser capaz de ter empatia e raciocinar, mas que também pode cometer atos brutais como esses. A sociedade, desde sempre, precisa ser analisada sob vários aspectos, como transtornos mentais, repetição de padrões e ciclos de violência que não são quebrados. Além disso, ocorre o prevalecimento dos mais fortes em relação aos mais vulneráveis. 

Ouvia no Timeline, da Gaúcha, o psicólogo e psicanalista Julio Walz. Em uma analogia bem simples, ele dizia que o homem que atirou a criança de cinco anos da ponte não atacaria um cachorro feroz. Simplesmente porque seria atacado de volta, e com mais força. É por isso que a criança, frágil e pequena, vira presa fácil de criaturas como essa. Criança precisa ser defendida. Quem tinha que fazer isso neste caso fez exatamente o contrário, e de forma covarde e monstruosa.

Tentando entender o que acontece nesses casos, também ouvimos na Gaúcha a promotora de Justiça do Ministério Público do Rio Grande do Norte Érica Canuto, especialista em relações familiares. Ela chamou atenção para o quanto a saúde mental é subestimada e até causa de vergonha. Prestar atenção no seu comportamento e no do outro é imprescindível para evitar novos crimes. Doença mental não tratada é bomba-relógio e pode explodir a qualquer momento.

Diante desse cenário, o desafio da civilização é fortalecer as bases familiares, éticas, de sanidade. Educação emocional, suporte psicológico e políticas públicas eficazes são fundamentais para acertarmos os ponteiros. _

ANDRESSA XAVIER

 29 de Março de 2025
MARCELO RECH

A cultura da irresponsabilidade

Certa feita, em uma viagem pelo Japão, notei que o motorista do ônibus, ao parar em vias com mínima inclinação, descia e imediatamente dispunha um calço na roda. Sem o calço, o ônibus ia deslizar? Muito provavelmente, não. Mas havia uma chance, por menor que fosse, e por isso a cautela de não confiar apenas nos freios de estacionamento ou motor.

A lei de trânsito brasileira determina que todo veículo com mais de 3,5 toneladas deve ter a roda calçada quando estaciona em declive ou aclive. Um ônibus médio pesa 16 toneladas. Motoristas e cidadãos não precisariam de lei e punição para prevenir acidentes, mas a regra não é essa no Brasil. Mesmo com todo o arsenal de legislações e normas, há um traço cultural na irresponsabilidade que governa nossas vidas, e muitas vezes as encerra.

Converse com qualquer europeu que tenha vivenciado o trânsito brasileiro e se terá uma visão mais nítida desse traço cultural. Para eles foge a qualquer compreensão que um motorista não respeite a faixa de segurança ou que um pedestre ignore a passarela e ponha a vida na corda bamba ao atravessar seis pistas de alta velocidade separadas por uma mureta - o que ocorre a todo momento na BR-116, entre Novo Hamburgo e Porto Alegre, por sinal.

MARCELO RECH

29 de Março de 2025
OPINIÃO DA RBS

Tempos de perversidades

É desconcertante a sequência recente de episódios chocantes no Estado que envolvem violência, perversidades e desatinos. O noticiário dos últimos meses, semanas e dias está repleto de casos de pais que matam filhos, mães que cometem filicídio, feminicídios, parricídios, envenenamentos e outros assassinatos cruéis, como o consumado pela mulher que tirou a vida de uma grávida para roubar o bebê que ainda estava em seu ventre. Foi também perturbadora a tortura perpetrada por um patrão em um empregado, em Canoas. Os métodos e requintes de sadismo são terrificantes

A sucessão de acontecimentos, em que estão presentes maldade, desespero e problemas de saúde mental, juntos ou não, merece uma reflexão da sociedade para buscar compreender o que está acontecendo e tratar de soluções e medidas preventivas. São muitas ocorrências estarrecedoras concentradas em pouco tempo. É temerário considerá-las apenas coincidências soturnas que não tenham uma razão de fundo.

São crimes, mas não têm relação direta com o que se convencionou chamar de criminalidade. Não são situações cujas respostas estão na ação policial, no endurecimento de legislação penal ou em uma maior rigidez da Justiça. Talvez esses pontos até façam parte das reações, junto à atenção a outras dimensões, como os já mencionados distúrbios mentais, o aperfeiçoamento da rede de proteção a públicos vulneráveis e seus protocolos e um cuidado mais acurado do sistema de justiça com desentendimentos familiares, violência doméstica e disputa por guarda de filhos.

Também devem ser incluídos neste debate a importância de uma educação voltada a combater a cultura do machismo e, outra vez, os riscos da circulação sem controle de conteúdos tóxicos em redes sociais e no submundo da internet. A série Adolescência, lançada neste mês na Netflix, alimenta essa discussão contemporânea, ao abordar o ciberbullying e como movimentos misóginos encontram no ambiente virtual terreno fértil para influenciar jovens, com consequências dramáticas. A trama, que vem chamando atenção e estimulando análises, trata do assassinato de uma menina cometido por um colega de 13 anos.

A saúde mental é um dos aspectos que merecem especial interesse. Um relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS) de 2023 mostrou que o número de pessoas com sofrimentos do gênero cresce no mundo e o Brasil é o país com a maior prevalência de depressão na América Latina, quadro agravado pela dificuldade de acesso a tratamento na rede pública. Dados do Ministério da Previdência Social apontam que ansiedade e depressão levaram a mais de 470 mil afastamentos do trabalho no ano passado, número nunca visto e 68% superior a 2023. As angústias vividas ao longo da pandemia estão entre as causas apontadas. No Rio Grande do Sul, mostram outras pesquisas, há ainda o estresse pós-traumático das enchentes.

Trata-se de um fenômeno difuso, que requer o envolvimento de diversas áreas do conhecimento para entender as causas e tratar de ações para frear essa onda de atrocidades. Ser complexo não significa não ter solução. Como exemplo podem ser citadas as medidas que contiveram o surto de ataques a escolas no país entre 2022 e 2023. 


 29 de Março de 2025
GPS DA ECONOMIA - Marta Sfredo

"Susto do emprego": contradições da desaceleração

Dados apresentados na sexta-feira reforçam as contradições sobre a desaceleração da economia, que o Banco Central (BC) tenta induzir à custa de juro alto e aumento da dívida.

No Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho houve novo recorde no saldo positivo: 432 mil empregos com carteira assinada a mais em fevereiro de 2025. Foi o maior resultado mensal da nova série histórica iniciada em 2020, 40,5% acima de fevereiro de 2024. Representou grande surpresa, porque as expectativas do mercado estavam por volta de 220 mil, quase a metade do efetivamente registrado.

Já o IBGE anunciou que a taxa de desemprego subiu de 6,1% para 6,8% no trimestre móvel encerrado em fevereiro em relação ao período anterior. É uma desaceleração.

Mas a massa de rendimentos, possível combustível de inflação, alcançou novo recorde, de R$ 342 bilhões. Teve variação positiva de 0,1% em relação ao trimestre anterior, o que equivale à estabilidade estatística, mas segue na máxima e com sinal positivo.

Deterioração significativa

No mesmo dia, pesquisa publicada pelo próprio BC apontou que a maioria das empresas do setor produtivo vê "deterioração significativa" na situação econômica entre novembro do ano passado e fevereiro deste ano. É um novo levantamento do Banco Central, chamado Firmus, que está na quarta edição-piloto.

Conforme o BC, foram ouvidas 156 empresas para captar "a percepção de empresas não financeiras quanto à situação de seus negócios e às variáveis econômicas que podem influenciar suas decisões".

Essas contradições são típicas de início de ciclo de aperto monetário - leia-se juro levado às alturas. Embora existam sinais diferentes, é importante que o BC avalie os que estão no cenário para graduar a próxima decisão, no dia 7 de maio. Está prevista nova alta, desta vez sem martelo batido sobre o tamanho. Será o melhor momento para lembrar da máxima que a diferença entre remédio e veneno é a dose. _

Ninguém espera que um ministro da Fazenda diga algo como "o presidente faz tudo errado". Mas daí a Fernando Haddad atribuir a queda de popularidade de Lula ao cenário global, como fez em entrevista à Bloomberg...

Chancela de gigante

Desde a sua criação, em 2017, quando o foco ainda estava em startups em estágio inicial, a Gramado Summit vem mudando para agregar empresas maiores.

Neste ano, o evento terá a Magalu Cloud, divisão de tecnologia em nuvem da gigante nacional, como apresentadora oficial, maior cota de patrocínio. Luiza Helena Trajano, uma das líderes mais influentes do varejo, será palestrante. A Gramado Summit prevê crescer o faturamento em 50% neste ano, de R$ 8 milhões para R$ 12 milhões. _

Emprego cresce, dólar estaciona

Havia risco de o dólar saltar, na sexta-feira, com o recorde na geração de vagas formais, segundo o Caged. No entanto, a moeda americana ficou estável, com variação para cima de 0,13%, para R$ 5,76, a terceira sucessiva na semana.

Na quinta-feira, havia circulado a informação de que viria um "Cagedão", o que fez com que operadores de câmbio se antecipassem - o dólar avançou 0,38%. Segundo o economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini, houve diminuição do risco embutido na especulação da véspera. _

Parceria gaúcha com a Receita

A partir de quinta-feira, a Faqi passará a operar como braço estendido da Receita Federal: vai começar a prestar atendimento gratuito de assistência contábil e fiscal em Gravataí, onde fica a sua sede.

Vale para quem tem dúvidas sobre declaração de Imposto de Renda e obrigações fiscais de pequenos produtores rurais, pequenas empresas e microempreendedores individuais (MEIs). E também para quem precisa de instrução para encomendas internacionais ou simplesmente busca esclarecimentos sobre tributos.

O acordo da Faqi com a Receita Federal é de cooperação com o Núcleo de Apoio Contábil e Fiscal (NAF), projeto que a autarquia desenvolve com instituições de ensino. A Faqi vai disponibilizar infraestrutura e professores para atendimentos, que também poderão ser acompanhados por supervisores e alunos. Conforme diretora-geral da instituição, Fabiane Klein, a parceria marca os 20 anos da Faqi.

- A Faqi tem raízes fortes em Gravataí. Agora, vamos apoiar a comunidade em outras situações. A expectativa é positiva.

É preciso agendar atendimento pelo telefone (51) 3014-0014. A assistência fiscal será prestada em Gravataí todas as quintas-feiras, das 19h às 21h. No contraturno, a proposta é oferecer serviço online, em dois dias por semana que ainda serão definidos. _

GPS DA ECONOMIA

 
29 de Março de 2025
ACERTO DAS TUAS CONTAS - Giane Guerra

Dívida longa demais

Pelo último balanço enviado pelo Ministério do Trabalho à coluna, o novo crédito consignado para trabalhadores CLT tem gerado empréstimos aqui no Rio Grande do Sul com, em média, 23 parcelas. O gaúcho fica aproximadamente 68 meses no emprego, média formada por variações de setores, que vão de 35 meses para trabalhadores da construção civil até 136 meses para quem atua na administração pública.

Ou seja, parece um período bastante longo que os gaúchos estão comprometendo com um empréstimo (que não deveria, mas sabemos que em muitos casos se soma a outros créditos tomados). A parcela média tem ficado em aproximadamente R$ 340, que é mais de 20% de um salário mínimo. Estes são mais alguns pontos que preocupam a coluna sobre a necessidade de maiores travas para evitar que esta ferramenta superendivide ainda mais as famílias.

Está certo provocar a concorrência de bancos e financeiras para oferecerem taxas menores, pois o crédito para CLT antes ficava restrito apenas à instituição que a empregadora tinha convênio. Agora abriu a todas. Mas sem limites, não sei se o mercado se ajustará sem educação financeira do tomador do empréstimo. A margem consignável de 35% (limite do salário para comprometer com o desconto na folha de pagamento) historicamente não é cumprida.

Casos de demissão

Importantíssimo: o que acontece em caso de demissão do trabalhador que tem o empréstimo? O valor restante da dívida será descontado das verbas rescisórias, observado o limite legal de 10% do saldo do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e 100% da multa rescisória (os 40% que a empresa paga quando é demissão sem justa causa). Se esse dinheiro for insuficiente, o pagamento das parcelas é interrompido e será retomado quando o trabalhador conseguir outro emprego CLT. Ainda mais importante: o valor das prestações aumentará no período, pois tem o juro e a correção monetária. O trabalhador até poderá procurar o banco para acertar uma nova forma de pagamento, mas sem garantia de que terá boas condições para este acerto. _

Dúvida do leitor

Quanto demora a liberação do consignado para o trabalhador? O Ministério do Trabalho diz que depende do banco, variando entre um e dois dias. Mas há casos de liberação imediata. Após a simulação, deve-se esperar 24 horas pelas propostas. Não esqueça de analisar as demais cobranças, pedindo o Custo Efetivo Total (CET), que reúne todos os custos que o tomador terá.

GNV pisa no freio

Seguindo uma tendência, o RS registrou queda - ainda que pequena - nas adaptações de veículos para gás natural veicular (GNV) em 2024. Levantamento do Departamento Estadual de Trânsito (Detran-RS) para a coluna apontou 5.449 conversões de janeiro a dezembro, 213 a menos que em 2023 - redução de 3,76%. A quantidade foi a menor desde 2020 (3.280) - ano da pandemia. Lembrando que o gás bombou em 2021 e 2022, quando o preço da gasolina disparou a picos históricos no país todo.

Quem quiser adaptar o veículo para GNV precisa desembolsar entre R$ 2,5 mil e R$ 3 mil, conforme pesquisa da coluna em oficinas da capital e Região Metropolitana. O valor corresponde ao kit novo com cilindros seminovos. Para um completamente novo, o valor vai de R$ 3,5 mil a R$ 6 mil. Também há vistorias e taxas do Detran-RS. A mudança precisa ser autorizada e passar por revisão depois.

A vantagem do GNV é para quem roda mais, enfatiza o consultor energético Anderson de Paulo, alertando que inclusive o seguro fica mais caro.

- Para o frotista, o gás precisa estar abaixo do preço da gasolina. Para um motorista usual, tem que ser 50% mais barato - diz.

Pela média da pesquisa da Agência Nacional do Petróleo (ANP), a gasolina está custando R$ 6,38 no RS, enquanto o custo médio do GNV está em R$ 4,66. _

conversões

2020 3.280

2021 9.979

2022 7.266

2023 5.662

2024 5.449

Gás não é verde

O gás natural veicular (GNV) é posto muitas vezes em estratégias de marketing como um combustível sustentável. Ele realmente é menos poluidor e tem baixo nível de resíduos, o que aumenta a vida útil do veículo. Porém, não é "verde", porque é derivado de petróleo, ou seja, tem origem fóssil.

O combustível renovável mesmo que temos à disposição é o etanol, que é feito principalmente de cana-de-açúcar, mas também tem sido produzido de milho e triticale. A vantagem sobre o GNV é que os carros flex já o aceitam, sem precisar da adaptação do gás. Porém, o preço do álcool combustível no Rio Grande do Sul é muito alto, pois não produzimos e precisamos trazer de usinas do Sudeste. _

O recorde do ouro

Compra ouro? A cotação do metal está batendo recordes com as tensões comerciais provocadas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. A última foi taxar carros importados, que mexem no orçamento dos norte-americanos. A medida gera temor de inflação, com alta de juro e desaceleração econômica. Com o receio, o mercado coloca recursos em ouro, considerado seguro. Diante da inflação, o ouro mantém o valor do dinheiro.

O ruim disso é que vai para o ouro dinheiro que poderia estar em bolsas de valores, títulos de empresas e mesmo de governos, financiando crescimento de negócios e políticas públicas.

Na última semana, o preço do ouro bateu o recorde de US$ 3.086,50 por onça troy, medida universal usada para o metal. _

ACERTO DAS TUAS CONTAS