sábado, 29 de junho de 2024

 Executivas de Turismo lançam campanha pela abertura do Aeroporto Salgado Filho

Evento aconteceu na sedade da Abav

A Associação Federativa de Empresárias e Executivas de Turismo do Brasil (Afeet/RS) lançou, nesta sexta-feira (14), a campanha “RSDeNovoNoAr”, em defesa da reativação do Aeroporto Internacional Salgado Filho. A solenidade na sede da Associação Brasileira de Agência de Viagens (Abav/RS) contou com a presença de lideranças de diversos setores de turismo e negócios em geral. "O evento foi um marco para a retomada do desenvolvimento da economia gaúcha. A presença de tantas pessoas engajadas em prol da reativação do aeroporto demonstra a importância da união para superarmos os desafios", afirmou Rosane Ávila, vice-presidente da Afeet.

De acordo com Rosane, que fez o chamamento para essa campanha, que deverá ocupar espaços na cidade e nas redes sociais, Porto Alegre não pode ficar tanto tempo desprovida de um aeroporto de acordo com a sua capacidade e importância, conforme as previsões que indicam a reabertura somente em dezembro. “O aeroporto é muito mais do que um ponto de partida para viagens. É o coração pulsante da nossa região, nos conectando ao mundo e impulsionando o turismo, a indústria, o comércio, a saúde, a educação e o esporte”, defendeu.

A entidade acompanha as pesquisas que indicam uma utilização de apenas 14% da demanda normal do Salgado Filho, o que é um indicativo de que a Capital e o Estado estão perdendo espaço com ações estão limitadas. “Estamos nessa luta que visa Inspirar à ação, mobilizar a população para que juntos encontremos soluções e pressionemos por ações eficazes”, complementou Florinda Pargtidade cas Gabaldon, da área de Marketing e Comunicação da entidade.

A campanha já está no ar, em todo o mundo, uma vez que a Afeet é filiada à Federação internacional (Fiaseet), e associadas já começaram a divulgar. A diretoria da entidade conclamou associados e interessados a participar na segunda-feira, dia 17, às 14h, da audiência Pública chamada pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-RS), na sua sede na Washigton Luiz, 1.100, para discutir o tema da necessidade da reabertura.

A Afeet é uma associação que reúne executivas de empresas de turismo de todo o Brasil, com o objetivo de promover o desenvolvimento do setor e fortalecer a participação da mulher na liderança empresarial. Tem 40 anos de atividade no Brasil.

Grupo que adquiriu o Beneficência Portuguesa busca revitalizar o hospital

Investimento será de R$ 250 milhões na criação de complexo com educação em saúde e hotel



Beneficiência Portuguesa/Divulgação/JC

A companhia que arrematou o Beneficência Portuguesa de Porto Alegre acredita na solução do impasse judicial do leilão para dar um futuro à casa de saúde que completa 154 anos neste sábado (29). Empresa com sede em Minas Gerais, a AFC Holding S.A planeja investir R$ 250 milhões para tornar o hospital um complexo, contando com setores de educação em saúde e hotel.

Com esse valor, entre capital próprio e de investidores, o projeto prevê o reaparelhamento do hospital e a ampliação da capacidade de leitos. Hoje desativado, o Beneficência chegou a ter cerca de 200 leitos, e a AFC considera viável aumentar a quantidade para 350. Esse número significa a geração de pelo menos 1,8 mil empregos diretos e mais de 8 mil indiretos.

"O projeto é mais do que salvar a instituição, é um complexo que vai reforçar o principal polo hospitalar do Rio Grande do Sul e revitalizar um lugar estratégico na economia e na memória afetiva da capital gaúcha", explica o diretor técnico da AFC Holding S.A, Mauro Borges. O plano de revitalização inclui a oferta permanente de cursos na área da saúde e um hotel.

Para modernizar o Beneficência Portuguesa, a AFC Holding S.A discute com outras partes interessadas na solução da crise um meio de encerrar os entraves judiciais e fazer valer a vitória que teve em leilão, anulado pela justiça em abril. A empresa recorreu e recentemente obteve uma decisão liminar barrando a realização de novo certame. “Quem conhecer o projeto com certeza verá que é o melhor caminho para salvar o Beneficência”, ressalta Borges.

Sobre a AFC Holding S.A

Com sede em Nova Lima (MG) e atuação nacional, a AFC Holding S.A atua com investimentos e participações em sociedades de diferentes segmentos, como a área da saúde e os ramos imobiliário e de operação de óleo e gás. 


29 DE JUNHO DE 2024
CARTA DA EDITORA

CARTA DA EDITORA

Em ritmo de arraial

Na onda do evento, que este ano terá como adicional o charme das ruas parisienses, conversamos com a surfista Tatiana Weston-Webb, que nasceu em Porto Alegre, nas bandas do Menino Deus, mas cresceu e ganhou o mundo a partir das ondas gigantes do Havaí. São 28 anos de praia, somando passagens pelo nosso Litoral e uma paixão especial pela Silveira, em Santa Catarina. A competição de surfe será realizada no Taiti e será por lá que a guria com sotaque de gringa vai colorir a praia de verde e amarelo. Se Tati vai escrever seu nome entre os medalhistas nesta edição olímpica ainda não sabemos. 

Mas nas páginas de Donna, já conquistou o pódio com uma entrevista tranquila e good vibes com a repórter Letícia Paludo, na véspera de embarcar para a competição. Falou da preparação, de cuidados com pele e cabelo (o sol e o sal, amores e vilões na mesma medida) e a relação com o país natal, adicionando aquele toque de nostalgia gostosa. Como as melhores férias de infância de grande parte de nós que, mesmo passando bem longe das 10 primeiras do ranking mundial, também nos aconchegamos com o barulho das ondas do mar. _

Economia criativa

Diversas feiras gaúchas se uniram e criaram a Associação das Feiras Unidas (AFU) na intenção de fortalecer o segmento e ganhar mais visibilidade e apoio em Porto Alegre. O grupo defende que os eventos fomentam a cultura e o turismo, gerando emprego e renda para artesãos, designers, produtores e criadoras independentes. Entre as feiras participantes estão Brick de Desapegos, Feira Mosaico, Coletivo de rua, Open Design, e muito mais. O lançamento do projeto será realizado no dia 11 de agosto. Saiba mais em @afupoa.

Nova data

Por conta do momento de reconstrução no RS, a edição que ocorreria de 9 a 11 de julho será realizada entre 30 de junho e 2 de julho de 2025, no Pavilhão do Centro de Eventos Fiergs, reunindo palestras, desfiles e workshops. O evento promove moda independente, criativa e autoral com o objetivo de fortalecer a cadeia produtiva do setor e estimular novos negócios. Acompanhe o perfil no Instagram @rsmoda_.

Segue até o dia 1º de julho, às 12h, o leilão beneficente do Atelier Carlos Bacchi para apoiar a recuperação do RS. Serão leiloados vestidos exclusivos doados pelas clientes da grife. O lucro arrecadado será destinado para iniciativas voltadas a ajudar comunidades afetadas pela enchente. Interessados em participar e dar seus lances nas peças podem acessar o site gringa.com.br.


29 DE JUNHO DE 2024
DRAUZIO VARELLA

Embora ignorante em assuntos da economia, sei que equilibrar as contas do governo é muito importante. O problema é que reduzir o orçamento do Ministério da Saúde sem definir as áreas que vão sofrer cortes é irresponsabilidade.

Os sanitaristas e todos os que se interessam por saúde pública são unânimes em reconhecer que o SUS padece de subfinanciamento crônico. Investimos em saúde 9,8% do PIB, número compatível com aqueles dos países da OCDE. No caso deles, no entanto, o sistema público recebe 70% a 80% do investimento total, enquanto aqui a parcela é de apenas 40%. Os 60% restantes ficam por conta das famílias: pagamento de convênio, consultas particulares e medicamentos, entre outros. Quer dizer, os 150 milhões de brasileiros mais pobres que dependem exclusivamente do SUS têm acesso a menos da metade dos recursos. Nesse quesito, perdemos também para o Chile e a Colômbia.

Para cada U$ 1 investido pelo governo, as famílias brasileiras desembolsam U$ 1,13. Em Portugal a relação é de 1 para 0,58, no Reino Unido, 1 para 0,20.

Embora haja espaço para melhorar a gestão, combater o desperdício e a corrupção, é claro que o SUS não conseguirá lidar com novas perdas orçamentárias sem interromper serviços que presta aos mais desfavorecidos. Por essa razão, os digníssimos representantes do povo na Câmara e no Senado que propõem reduzir o orçamento do Ministério da Saúde têm o dever moral de assumir a responsabilidade de declarar quais serviços o SUS será obrigado a cortar. Suponho que os senhores conheçam os principais programas do nosso sistema de saúde.

Temos o maior programa público de imunizações do mundo, o PNI. Qual das vacinas devemos suspender: sarampo, difteria, tétano, covid, poliomielite?

A incorporação ao PNI das vacinas contra o vírus sincicial respiratório que tantas internações e mortes provoca em crianças e adultos, a vacina trivalente contra influenza, contra o vírus Chikungunya e o meningococo tipo B vai nos custar cerca de R$ 3 bilhões.

Podemos economizar esse dinheiro, claro, mas quanto gastaremos com as internações hospitalares para tratamento das complicações pulmonares do sarampo, da gripe, do vírus sincicial e com as afecções reumatológicas provocadas pelo vírus Chikungunya? Quanto sofrerão os que caírem doentes por falta de vacina? Esquecemos das mortes que ocorreram antes da vacinação contra a covid?

Vamos reduzir o número de médicos, enfermeiras e de agentes comunitários que batem de porta em porta para levar cuidados de saúde a cerca de 160 milhões de brasileiros? Reconhecido pela OMS, como um dos maiores programas de saúde pública do mundo, o Estratégia de Saúde da Família nos custa R$ 20,6 bilhões por ano. Economizar essa quantia não será um tiro no pé? Quanto custarão as internações por problemas que poderiam ser resolvidos pela atenção primária, a baixo custo?

Onde mais poderíamos economizar? No programa de distribuição de medicamentos contra o HIV, que revolucionou o combate à epidemia no Brasil? Nas equipes do Resgate, que prestam atendimento às emergências nas cidades brasileiras? Suspender o Programa Brasil Sorridente, que acaba de ser retomado a um custo anual de R$ 10,7 bilhões? 

Vamos preservar dentes íntegros só na boca dos que têm dinheiro para ir ao dentista? Dar fim ao Farmácia Popular e deixar pessoas com diabetes e pressão alta correr risco de ataque cardíaco, AVC, insuficiência renal e cegueira? Acabar com o Mais Médicos e abandonar à própria sorte milhões de brasileiros dos rincões mais distantes?

Por acaso, os senhores que pretendem cortar recursos do Ministério da Saúde lembram que o SUS é o maior programa de distribuição de renda do país, diante do qual o Bolsa Família não passa de uma pequena ajuda?

Diminuir os recursos do sistema único significa aumentar a concentração de renda que envergonha todos nós. Como disse Eugenio Vilaça Mendes, um dos sanitaristas que mais conhece o SUS: "A sociedade ainda não fez a opção definitiva sobre o nosso modelo de assistência à saúde. Dessa opção depende estabelecer o quanto estamos dispostos a pagar por ele". _

DRAUZIO VARELLA

29 DE JUNHO DE 2024
60 MAIS

60 MAIS

Ultraprocessados são cheios de sal, açúcar e gordura. Além dos que foram citados acima, inclua nessa relação produtos como barrinha de cereal, refrigerante, suco de caixinha e sopa pronta em pó. Eles podem iludir dando a praticidade que você deseja ter na aposentadoria, mas são nutricionalmente pobres em componentes como fibras, vitaminas e minerais, alerta a nutricionista Flávia Porto Wieck, mestre em Gerontologia Biomédica e professora da Unisinos.

- Nosso organismo não foi preparado para metabolizar tantos aditivos químicos. "Então quer dizer que nunca mais posso comer um ultraprocessado?" Pode, mas não pode comer só ultraprocessados - orienta Flávia.

Características do envelhecimento, como a perda do paladar, facilitam que o idoso recorra a essas más opções. Como os ultraprocessados têm o sabor realçado, tornam-se atrativos.

- As papilas gustativas dos idosos já estão mais desgastadas. Se você tomar suco de caixinha todo dia, quando tomar o natural não vai sentir o sabor - compara a nutricionista Vanille Pessoa Cardoso, diretora da Associação Brasileira de Nutrição (Asbran) e professora da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), na Paraíba.

Também é típica do avançar da idade a digestão mais lenta, que pode, a exemplo da perda da dentição ou de próteses mal ajustadas, dificultar a mastigação de carnes. A redução da autonomia para ir às compras e preparar os alimentos é outro ponto que realça a praticidade de produtos congelados ou embalados.

Idosos também costumam ter doenças crônicas como diabetes ou hipertensão, e a ingestão de ultraprocessados pode piorar esses quadros, além de serem prejudiciais no controle da fome e da saciedade e induzir ao consumo excessivo.

Variedade necessária

- Quem sabe jantar café com leite e pão cinco vezes na semana, não sete, e tomar uma sopa nas outras duas vezes? Pedir para alguém preparar a sopa, congelar. Mudar o pão. Colocar alguma proteína ou vegetal, fazer um sanduíche quente com alguma carne ali dentro. Já é uma melhora.

Em muitos casos, a solução é contar com alguém que venha em casa periodicamente para cozinhar e congelar a comida em porções é a solução de muitos casos.

- Temos que cuidar melhor dos nossos idosos, dar suporte, falar sobre cuidado, entender que essa população é a gente daqui a pouco. É uma faixa etária vulnerável - destaca Vanille. _

60 MAIS

29 DE JUNHO DE 2024
J.J. CAMARGO

Quando a crise foi sanitária, a distribuição do sofrimento, ainda que mais equânime na origem, logo adiante restabeleceu o desequilíbrio, quando a boa condição econômica dos privilegiados permitiu socorro hospitalar em unidades de terapia intensiva mais sofisticadas, onde as mortes evitáveis puderam ser evitadas.

Mas como o tema da desigualdade se presta para todo tipo de discurso, seja ele solidário, assertivo, hipócrita ou demagógico, vamos tratar de depurá-lo, eliminando o viés político, com o objetivo primordial de isenção.

No intuito de entender um pouco mais as razões do acontecido, surpreende a abundância do inexplicável, pois quase nada se encaixa quando se evocam as causas da catástrofe climática. E que foram, segundo os entendidos, terrivelmente negligenciadas, apesar de facilmente identificados pelos profetas do acontecido como fatores predisponentes. 

Claro que ninguém se deu ao trabalho de explicar por que um fenômeno idêntico ocorreu em 1941, quando nenhum dos tais agentes causais estava presente e a natureza ainda não tinha os ranços atuais de vingança. Naquele tempo em que a gente, com a inocência desprotegida, até considerava o ruído da chuva como um doce entorpecente dos céus.

A esperança fantasiada

Treinado a cuidar de pessoas que sofrem, me limito a tentar entender de onde elas tiram tanta submissão. Persistem batalhando pela sobrevivência, mesmo depois de ter perdido a casa em setembro do ano passado, buscado força para reconstruir e mobiliar, e neste maio que não precisava ter existido ver outra vez tudo ser arrastado pela correnteza, levando de roldão tudo o que tinha comprado em prestações que terão que ser pagas duas vezes para continuar não tendo um cantinho para onde voltar. 

E ainda encontram motivação para acordar pela manhã na casa emprestada do familiar e sair para o trabalho, com a esperança, fantasiada de certeza, de que as coisas finalmente irão melhorar. _

J.J. CAMARGO

29 DE JUNHO DE 2024
CARPINEJAR

Os tímidos se ferram

Os tímidos sempre se ferram: são os primeiros a se apaixonar e os últimos a confessar suas intenções; os dublês nas cenas de perigo, jamais protagonistas dos beijos ardentes. Nenhuma escolha é precipitada. Nenhuma decisão é superficial. Ficam estudando o terreno até alguém comprar antes deles.

Só declaram os seus sentimentos quando têm certeza de que a outra pessoa lhes corresponde - ou seja, tarde demais. Não vislumbram a sincronia das juras românticas.

Na escola, eu aprendi a triste arte de sobrar. Não saí da sala de aula com orelhas de burro, mas com alguns chifres de amor platônico. Existe uma fatalidade na amizade escolar. Não deve ser coincidência, pois várias de minhas parcerias passaram pelo crivo triste dessa experiência.

É a narrativa básica de desengano das comédias românticas sobre o colegial. Com a diferença de que não vivíamos um final feliz na realidade, muito menos uma reviravolta na festa de formatura. Eu calhava de gostar da colega de que meu melhor amigo também gostava. De todas as meninas da turma, de 15 candidatas, convergíamos em desejar namorar a mesma.

Nem sempre era a mais bela, mas era sempre a mais carismática, a mais sociável, a mais despachada. Eu me apaixonava por uma guria, não falava para a guria, apenas para o meu melhor amigo, que guardava segredo. Só que meu amigo não me revelava sua paixão pela guria. A sacanagem é que ele sabia o que eu sentia, mas eu desconhecia o que ele sentia por ela.

Vivia em desvantagem de informação. Acabava sendo traído pelo meu confidente. Ele se aproximava da colega sob o pretexto de ser meu cupido, porém estava agindo a seu favor, criando cumplicidade e ganhando espaço com minha anuência simpática ao longe. Não lutava por mim, como eu supunha, e sim para o regozijo do seu coração.

Fazia trabalhos em grupo com ela, frequentava a sua casa para ensaiar apresentação, e o tonto aqui jurando que ele advogava pela minha causa retraída. Não poderia supor ou fantasiar que já se encontravam para beijinhos.

Tem essa agravante no trauma. Na deslealdade tradicional de nosso período de formação, o melhor amigo costuma ser o expansivo, e você, o tímido. E os tímidos se ferram, já que não tomam a iniciativa.

É a síndrome de Cyrano de Bergerac, o narigudo que escrevia cartas de amor para quem amava em nome de um outro mais bonito. Ela vivia olhando para mim, porém ela olhava porque eu andava ao lado do meu melhor amigo. Não era para mim. Eu não era o seu alvo. Não era o seu destino.

Entendia seus gestos como reciprocidade, retribuindo piscadelas e risadas no recreio (que vergonha!), e não me atinha ao fato de que representava um mero figurante de romance alheio. Assim como jamais entregava o meu anseio por ela, tampouco brigava com o meu amigo. Tanto o amor por ela quanto o ódio por ele permaneciam platônicos até o fim do ano.

Restava-me suportar conviver com os pombinhos como se eu fosse padrinho de namoro, como se eu tivesse dado a bênção. Eu me queimava na própria vela que segurava. E como doía a chama sufocada do peito. São queimaduras incuráveis por dentro da pele. _ É a síndrome de Cyrano de Bergerac, o narigudo que escrevia cartas de amor para quem amava em nome de um outro mais bonito

CARPINEJAR

29 DE JUNHO DE 2024
COM A PALAVRA

COM A PALAVRA

O senhor foi rápido ao descartar adiamento das eleições no RS. Por quê?

Quais foram as perdas da Justiça Eleitoral?

Algumas seções vão ser realocadas, principalmente na região do Vale do Taquari. Ali tínhamos, por exemplo, quatro seções num mesmo colégio e o colégio foi dizimado. Ainda não sabemos quantas seções serão transferidas.

O senhor acredita que existe risco de evasão de mesários?

E quanto ao risco de abstenção alta no pleito?

Dia 1º de julho darei posse ao comitê, constituído por sete servidores e presidido por um magistrado. Vai funcionar como um grande guarda-chuva de proteção, um observatório das decisões de todos os tribunais do país sobre fraude à cota do gênero. Terá o papel de passar subsídios para os magistrados e de orientar partidos e candidatos de que não basta cumprir a cota de 30% e não dar condições de participar ativamente. Já tivemos caso, nesse tribunal, de cassação por inobservância à cota do gênero.

Acho que vai envolver um todo, mas principalmente como vamos nos comportar, daqui para diante, em termos preventivos. Temos de desenvolver uma atividade educacional para mostrar a importância do voto. O voto muda os destinos de um país. Um gestor pode modificar uma cidade. Para o bem ou para o mal. A gente sempre espera que seja para o bem.

O senhor é a favor do financiamento público de campanhas (as doações de empresas foram proibidas pelo Supremo Tribunal Federal em 2015)? Ficou mais fácil fiscalizar os gastos eleitorais com o financiamento público?

Temos aqui no tribunal um comitê de combate à desinformação, presidido por um ex-presidente, o desembargador Jorge Luiz Dallagnol. Toda vez que chega alguma coisa, as providências são encaminhadas para o promotor eleitoral, lá na ponta, submeter ao juiz eleitoral. Há também um debate muito grande que estamos fazendo, reunindo partidos, candidatos, temos seminários de orientação para que ninguém possa dizer que não sabia.

O senhor teme uma escalada de sofisticação da IA que facilite a disseminação de mentiras na eleição nacional?

A liberdade de expressão tem limites na medida em que visa agredir alguém. Isso é bom para todos e já foi, inclusive, decidido pelo Supremo Tribunal Federal. Se isso acontecer, não há a menor dúvida de que as medidas vão ser adotadas. Todo o sistema eleitoral está muito preparado para isso e muito treinado para coibir fake news.


29 DE JUNHO DE 2024
EDITORIAL

Sem prejuízo ao reconhecimento do papel recente do Supremo Tribunal Federal (STF) na guarda da democracia, é dever voltar a apontar a reiteração de distorções como a invasão de competências e iniciativas inadequadas de membros da Corte. Mais autocontenção e recato fariam bem à própria instituição.

O mais recente episódio de usurpação de funções se deu com o julgamento no STF sobre a descriminalização do porte de maconha e a fixação de 40 gramas como o limite para diferenciar usuários de traficantes. Reacende-se um atrito desnecessário com o Congresso, poder que detém a legitimidade de legislar, concorde-se ou não com o caminho percorrido por deputados e senadores acerca do tema.

O Senado aprovou em abril a chamada PEC das Drogas e, na quarta-feira, em reação ao movimento do Supremo, a Câmara instalou comissão especial para analisar o texto. A PEC considera crime o porte de quaisquer substâncias ilícitas, inclusive a maconha, mas prevê que usuário não será penalizado com o encarceramento. Repete a Lei Antidrogas, de 2006. Pode-se argumentar, com razão, que a emenda à Constituição em análise deixa a desejar na falta de uma diferenciação objetiva entre usuários e traficantes. Isso leva a uma discricionariedade que, ao longo do tempo, tem causado mais prisões de jovens negros e de periferias. Mas preencher esta lacuna é papel do Congresso, eleito pelo povo. Cabe à sociedade pressionar pelo aperfeiçoamento.

Em meio ao voluntarismo do STF, surgiu um clarão de sensatez emanado do ministro Luiz Fux. Ele lembrou que, em regra, é o parlamento que trata do assunto em outros países. Referiu "vozes mais ou menos nítidas e intensas de que o Poder Judiciário estaria se ocupando de atribuições próprias dos canais de legítima expressão da vontade popular, reservadas apenas aos poderes integrados por mandatários eleitos". E completou: "Nós não somos juízes eleitos. O Brasil não tem governo de juízes". No mesmo dia, o presidente da Corte, Luís Roberto Barroso, admitiu que a última palavra sobre a matéria deve ficar com o Congresso.

Também depõe contra a imagem da Corte o evento anual realizado em Portugal, chamado Fórum Jurídico de Lisboa. O encontro é organizado pelo IDP, faculdade de propriedade do ministro Gilmar Mendes. Altas autoridades do Executivo, do Congresso, do Judiciário e grandes empresários atravessam o Atlântico para discutir problemas do Brasil. Neste ano, apenas de órgãos públicos é uma caravana estimada em 160 pessoas. Parte tem a viagem custeada pelos contribuintes, mostram portais de transparência. Mas ainda hoje não há clareza sobre quem paga passagens e estadia de alguns convidados.

A edição de 2024 começou na quarta-feira e se encerrou ontem. Participaram como palestrantes representantes de 12 grandes companhias com ações no STF. Alguns desses processos são relatados por Gilmar Mendes. Abre-se grande espaço para se perguntar se não há conflito de interesses. Os maiores interessados em não abrir brechas para a imparcialidade de suas decisões ser questionada deveriam ser o próprio STF e seus membros. _ O mais recente episódio de usurpação de funções foi o julgamento no STF sobre descriminalização do porte de maconha

EDITORIAL

29 DE JUNHO DE 2024
CAMPO E LAVOURA

Safra maior, área menor para o trigo no RS

Conforme o diretor técnico da Emater, Claudinei Baldissera, antes mesmo do evento, havia uma redução de área estimada, envolvendo outros fatores como preço, risco de produção e disponibilidade de sementes. A enxurrada, no entanto, acentuou o recuo.

Canola avança com força

As condições climáticas para o ciclo atual devem favorecer o desenvolvimento de todas as culturas de inverno que podem superar 5,2 milhões de toneladas. A previsão é de um inverno dentro da normalidade. A produção de trigo está projetada em 4,07 milhões de toneladas, alta de 55,2%.

- Embora o risco climático tende a ser menor, há a questão do mercado, com preço baixo, e do seguro. E um fator de disponibilidade de boas sementes, o que traz um custo maior - pondera Baldissera.

Prognósticos apontam ainda ocorrência de La Niña, e a transição para o fenômeno tende a ser brusca, alerta o meteorologista da Secretaria da Agricultura e coordenador do Simagro, Flávio Varone. Condição que pode trazer geada tardia, exigindo cuidados dos agricultores. Também se espera redução no volume de chuva a partir de agosto e setembro.

Com avanço ano a ano, a canola deve praticamente dobrar a produção, e a área, crescer 75%. Segundo o diretor técnico da Emater, trata-se de produto promissor em rentabilidade e que pode estar entrando em áreas dedicadas ao trigo. _

*Colaborou Bruna Oliveira - GISELE LOEBLEIN

 29 DE JUNHO DE 2024

ACERTO DAS (TUAS) CONTAS - Giane Guerra

Os impactos da enchente nos seguros

Por incrível que pareça, considerando o tamanho do estrago que a enchente fez no patrimônio dos gaúchos, a coluna tem recebido menos reclamações sobre indenização de seguros agora do que na cheia do Vale do Taquari em 2023. Ao que tudo indica, há sensibilização das seguradoras para facilitar o pagamento aos clientes, que já enfrentam tantas mazelas da tragédia. O dinheiro da perda total de carros, por exemplo, está garantindo a venda do mês das redes de concessionárias.

Cleverson Veroneze, diretor do Sindicato das Seguradoras do Rio Grande do Sul (Sindseg RS), esclarece que veículos não precisam ter cláusula específica de alagamento para terem direito à indenização. Já residências e empresas precisam. Muitas, porém, não tinham a previsão para este sinistro. Veroneze sugere até uma revisão do contrato para prever alagamentos futuros, o que, porém, eleva o preço.

Jorge Kath, professor da Escola Nacional de Seguros, pondera que muitas seguradoras não oferecem cobertura de alagamento para ninguém ou bloqueiam CEPs de áreas de risco. Quando cobrem, o custo sobe. Kath cita um cliente que a cláusula quadruplicou o seguro para sua residência em Eldorado do Sul, a cidade mais atingida da Região Metropolitana.

Risco de quebra

Com o valor altíssimo de indenizações pleiteadas, surge a dúvida se há risco de as seguradoras quebrarem. O diretor Cleverson Veroneze rechaça esta possibilidade, dizendo que elas têm reserva técnica e que o setor é supervisionado pela Superintendência de Seguros Privados (Susep), uma autarquia federal.

Alta generalizada

Os preços de alguns seguros já subiram, conforme relatos à coluna. Veroneze, porém, diz que não será disseminado para todos os gaúchos, pois o valor é diluído por todo o país. O seguro nada mais é do que a divisão da conta de um risco que todos têm. Quando um cliente tem problema, o custo para resolvê-lo é bancado pelo pagamento feito pelos demais segurados. Outro movimento é mais pessoas optarem por ter seguro, elevando o faturamento das seguradoras para cobrir mais sinistros e evitando reajuste individual forte. _

Seguros funcionam de forma colaborativa. A gente não paga o pato sozinho.

Cleverson Veroneze - Diretor do Sindseg, sobre o risco de os preços de seguros dispararem após a tragédia no Rio Grande do Sul.

Consumidor verde

Ainda levo as mercadorias nas tradicionais sacolas de plástico, que depois são usadas nas lixeiras de casa. Porém, estou avaliando outras opções e aceito sugestões! _

Entrevista Luiz Rabi - Economista da Serasa Experian

"Birôs não negativaram consumidores"

Queda artificial

Existe também o esforço do consumidor para limpar o nome e ter acesso a crédito novo para compras. As pessoas querem repor o que perderam, de eletrodomésticos a móveis e material de construção.

Aos leitores com abstinência das compras na gigante do comércio eletrônico, a Amazon informa que retomou as entregas a 100% dos CEPs do Rio Grande do Sul. Todos os produtos enviados pela empresa, inclusive, estão com frete grátis. O tempo de recebimento das compras, porém, segue bem acima do normal. O centro de distribuição de Nova Santa Rita ficou fora de operação e outras unidades logísticas estão "quebrando o galho" para atender o consumidor gaúcho.

compras na amazon

Notificação dos dois salários

A partir de quarta-feira, trabalhadores serão notificados pelo aplicativo da Carteira de Trabalho Digital sobre o pagamento dos dois salários mínimos por funcionário de empresas atingidas pela enchente e habilitadas no programa do governo federal para manutenção dos empregos.

Os trabalhadores receberão o valor em conta da Caixa Econômica Federal nos dias 8 de julho e 5 de agosto, enquanto os empregadores complementarão o salário na folha normal. O prazo para empresas aderirem foi ampliado pelo Ministério do Trabalho até 12 de julho, mas, no caso das que se atrasaram, a primeira parcela será paga ao empregado em 22 de julho.

A contrapartida é manter os empregos por quatro meses. _

guilherme.jacques@rdgaucha.com.br | guilherme.goncalves@zerohora.com.br

com Guilherme Jacques e Guilherme Gonçalves

ACERTO DAS (TUAS) CONTAS

29 DE JUNHO DE 2024
MERCADO DE TRABALHO

MERCADO DE TRABALHO

Região Metropolitana, Serra e vales do Sinos e do Taquari concentram maior número de destruição de empregos com carteira assinada em maio no Estado. Porto Alegre e Canoas somam quase 18% dos 22,2 mil postos perdidos no mês passado. Indústria e comércio são os ramos mais atingidos

A coordenadora da graduação em Ciências Econômicas da Unisinos, Camila Flores Orth, afirma que a área de inundação e o peso dessas cidades no mercado de trabalho ajudam a explicar o potencial de dano:

- As regiões que foram atingidas nessas cidades são de centro, justamente onde o comércio e os serviços são muito fortes. Principalmente pequenos estabelecimentos. Essas pessoas, muitas vezes, não têm o fluxo de caixa necessário para aguentar esse período todo de inundação.

Vacaria, na Serra, ocupa a terceira colocação no fechamento de vagas. No entanto, o município costuma registrar alta nos desligamentos nessa época do ano em razão da desmobilização na safra da maçã.

Na sequência, aparecem Gramado, prejudicada pelo freio no turismo, e Venâncio Aires e Santa Cruz do Sul, praticamente isoladas durante semanas em razão de bloqueios causados pelo aguaceiro na RS-287 e que também contam com arrefecimento na indústria do tabaco nessa época do ano.

- Gramado, nesse tempo, que era tipicamente para estar contratando pessoas em virtude da alta temporada, demitiu mais de 900 pessoas - destacou a economista-chefe da Fecomércio-RS, Patrícia Palermo.

Na avaliação da profissional, o atraso das medidas de caráter de preservação do emprego por parte do governo federal tem peso no resultado ruim de maio.

Histórico

No entanto, o saldo negativo de maio no RS veio muito acima da média do observado em um passado recente e generalizado entre os grandes ramos da economia. Para efeito de comparação, em maio de 2023, foram fechados 2.270 postos - quase 10 vezes menos do que o volume observado no mês passado.

Patrícia afirma que o cenário de destruição de empregos não vai ficar concentrado a maio:

- A gente deve observar nos próximos meses ainda os efeitos decorrentes de todas as chuvas e todos os deslizamentos e enxurradas. _

A taxa de desocupação no trimestre encerrado em maio ficou em 7,1%, alcançando o menor patamar para o período desde 2014. O índice representa recuo em relação ao trimestre móvel anterior, terminado em fevereiro, quando marcou 7,8%. Além disso, fica abaixo do nível registrado em igual período de 2023, de 8,3%.

Os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) foram divulgados na sexta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O levantamento aponta que, em maio, a população desocupada (pessoas com 14 anos ou mais de idade que não tinham trabalho e procuravam emprego) era de 7,8 milhões. Isso representa diminuição de 751 mil pessoas em relação ao trimestre encerrado em fevereiro de 2024.

A Pnad apura todas as formas de ocupação, seja emprego com ou sem carteira assinada, temporário e por conta própria, por exemplo. A população ocupada chegou a 101,3 milhões de pessoas, recorde da série histórica feita pelo IBGE.

Segundo a coordenadora de pesquisas domiciliares do IBGE, Adriana Beringuy, "o crescimento contínuo da população ocupada tem sido impulsionado pela expansão dos empregados, tanto no segmento formal quanto no informal. Isso mostra que diversas atividades econômicas vêm registrando tendência de aumento de seus contingentes". Para ilustrar a avaliação, o número de empregados com carteira assinada (38,3 milhões) foi recorde.

- Esse recorde não acontece de uma hora para outra. É fruto de expansões a cada trimestre - diz Adriana.

Rendimento médio

O contingente de empregados sem carteira assinada também foi o maior já registrado (13,7 milhões).

O rendimento médio do trabalhador no trimestre fechado em maio ficou em R$ 3.181, quase estável em relação ao trimestre anterior (R$ 3.161). _

ANDERSON AIRES

29 DE JUNHO DE 2024
INFORME ESPECIAL - Rodrigo Lopes

INFORME ESPECIAL

Bem perto do fim da linha

O primeiro debate da corrida eleitoral americana de 2024 eletrizou a campanha. Não exatamente pela qualidade dos debatedores, mas principalmente pela debilidade dos dois - do ponto de vista físico e moral. Nem Joe Biden nem Donald Trump têm condições de comandar a mais tradicional democracia do planeta e maior potência militar do mundo, os Estados Unidos da América.

Biden foi mais do que sonolento - uma acusação que Trump costuma fazer ao adversário. O democrata foi vacilante e confuso, exibindo fragilidades que nem os maiores inimigos do atual presidente imaginavam. Ele abriu o flanco para Trump em diversas ocasiões. O republicano foi firme, assertivo, mas distorceu fatos de forma descarada.

O formato do debate, no qual os mediadores não contestavam as afirmações dos candidatos, abriu caminho para Trump repetir seu tradicional roteiro de "fake news".

Diferentemente dos outros encontros, desta vez, os microfones ficaram fechados cada vez que o adversário falava. Isso poupou os espectadores de mais frases vergonhosas. Mas não ajudou muito, porque temas importantes, como a inflação, a migração, a política externa, o aborto, foram substituídos por acusações mútuas - de frases de baixo calão ou que beiram a infantilidade, como o momento em que Biden e Trump ficaram discutindo quem seria melhor no golfe, ou o cômico, quando o republicano "jurou", literalmente, não ter feito sexo com uma atriz pornô - ele foi condenado criminalmente por um tribunal de Nova York recentemente por ter subornado Stormy Daniels em troca de seu silêncio.

Em um dos momentos mais duros do duelo, Trump disse que Biden tinha "sangue nas mãos" por "afrouxar as fronteiras" e deixar "terroristas, inclusive da América do Sul" entrar no país e matar cidadãos americanos. O atual presidente, com voz rouca (a Casa Branca informou durante o debate que ele estaria resfriado), disse que aumentou a segurança nas fronteiras.

Na defensiva o tempo inteiro, Biden não conseguiu convencer a ponto de, mais para a metade do debate, seus correligionários começarem a trocar mensagens internas provocando a ideia de possível mudança de nome para a disputa até a convenção. Talvez não haja tempo suficiente. Talvez não seja nem possível dizer que ele não pode concorrer.

O fato é que, independentemente da decisão, Biden perdeu a eleição nesta quinta-feira, 27 de junho. E os democratas deverão deixar a Casa Branca em novembro de 2024. _

Humilhação nas filas

Na sexta-feira, em São Leopoldo, mais de cem pessoas aguardavam desde a madrugada. A prefeitura diz que a demora deve-se ao fato de o governo do Estado ter escolhido o Cadastro Único (CadÚnico) como porta de entrada para receber o benefício. Por outro lado, o Palácio Piratini afirma que o sistema é o mais seguro e confiável, utilizado em outros programas sociais.

Ora, autoridades, no auge da crise, prometeram que não haveria burocracia, disseram que garantiriam flexibilização de regras para que o dinheiro chegasse na ponta, com a urgência de que as pessoas precisam.

Estamos vendo o contrário. Os gaúchos - que foram drasticamente afetados na enchente - estão sendo penalizados duas vezes: perderam tudo no desastre e, agora, precisam passar frio e viver a angústia de não ter certeza se irão receber o recurso que lhes é de direito. É humilhação. _

Papagaios na área urbana da Capital

Uma cena tem se tornado frequente na área urbana de Porto Alegre: animais silvestres ocupando o espaço verde na Capital. Além das caturritas, que sobrevoam vários bairros, agora papagaios são avistados, como foi registrado na foto pelo leitor Alisson Laschuk, no Auxiliadora. Os animais voam em bando e se alimentam nos galhos de um ipê roxo.

Glayson Bencke, ornitólogo, especialista em aves, do Museu de Ciências Naturais da Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Infraestrutura (Sema), explica que a maioria das espécies pode ser de duas origens: soltas de cativeiro ou em liberdade, que nasceram já no ambiente externo.

- Estão restritas à zona urbana, dificilmente são encontradas em zonas rurais de Porto Alegre - explicou. - São de cativeiro e também formam população à medida que vão se renovando no ambiente urbano.

Esse tipo de ave tem como característica o fato de viver em casal que se mantém unido a vida toda. Na procura por alimentos, como é o exemplo da foto, formam o bando.

Segundo Bencke, o papagaio, apesar de estar em ambiente urbano, é um animal que não mantém contato com os humanos, diferentemente dos pombos. Com isso, não há risco à saúde da população. Caso você veja uma dessas aves, não há o que fazer, apenas deixá-la viver em um habitat que um dia já foi, preponderantemente, dela. _

Enchente pautará eleição municipal

Na última quinta-feira, o pré-candidato pelo União Brasil, deputado estadual Thiago Duarte, afirmou que "houve uma precarização do serviço do departamento ao longo das duas últimas gestões da prefeitura":

- Das 20 casas de bombas, mais de 10 não funcionaram. Alguns diques romperam. Isso mostra que a prefeitura negligenciou o cuidado com o sistema de proteção da cidade. Negligenciou propositalmente.

Na sexta-feira, foi a vez da pré-candidata e deputada federal Maria do Rosário (PT) criticar os protocolos adotados durante a enchente de maio. Segundo ela, houve leniência da atual gestão em termos de manutenção e dificuldade de articulação:

- As bombas não funcionaram, e administração municipal não tinha nem consciência de como estavam o estado das bombas.

As declarações foram feitas durante sabatinas realizadas pela Folha de S.Paulo e o portal UOL.

Segundo o jornal, Melo optou por não participar das entrevistas. 

sexta-feira, 28 de junho de 2024


28 DE JUNHO DE 2024
CARPINEJAR

A consagração de Dona Doida

Já é folclórica a gafe de Romeu Zema. Num programa de rádio, ele recebeu de presente do apresentador um livro de Adélia Prado. Sem saber quem era a autora, ele perguntou:

- Ela trabalha aqui?

A desconhecida do governador de Minas Gerais acabou de ser anunciada como a vencedora do Prêmio Camões, a mais importante distinção da literatura em língua portuguesa, levando para casa a bagatela de 100 mil euros.

Ela foi selecionada no aniversário de 500 anos de Luís Vaz de Camões, o que aumenta ainda mais o seu prestígio. A honraria vem uma semana depois de a poeta de 88 anos ganhar o Prêmio Machado de Assis, da Academia Brasileira de Letras, pelo conjunto da obra, com o valor de 100 mil reais.

Adélia é uma unanimidade da simplicidade. Nunca deixou sua cidade natal, Divinópolis. Nunca deixou de ir à missa, de celebrar o casamento com José, seu parceiro de vida inteira, de se identificar como professora, profissão que exerceu no anonimato de 24 anos.

Seu nascimento lírico lhe ofereceu a chance de expressar o luto de sua mãe, em 1950. Da lápide mais fria e dolorida fez a sua escrivaninha. Permaneceu inédita por quatro décadas. Enquanto não se revelava, seguiu o ofício do magistério e formou-se em Filosofia.

A lentidão foi a paz do seu caráter. Talvez nunca viesse a ser conhecida por vontade própria. Ficaria restrita aos leitores de seu município com a edição caseira de Bagagem (1976).

O conterrâneo Carlos Drummond de Andrade é que a descobriu e forçou o seu reconhecimento em escandaloso artigo no Jornal do Brasil: "Adélia é lírica, bíblica, existencial, faz poesia como faz bom tempo". Desde então, o sol jamais parou de iluminar a sua produção.

Em 1978, saiu O Coração Disparado, com o qual conquistou o Prêmio Jabuti. Tornou-se a poeta mais amada do país, enchendo auditórios de súbita adoração: o público só queria estar perto daquela mansidão em pessoa, falando seus achados do espírito.

A montagem de Dona Doida, um interlúdio de 1987, estrelada por Fernanda Montenegro, em cartaz por 12 anos, deu o empurrão que faltava para o estrelato.

Com mais de 20 livros, Adélia Prado sobressaiu pelo sotaque particular, misturando sensualidade e transcendência, receitas e reflexões profundas. Elevou a intimidade a um patamar de encontro divino. Não precisava de muito para ser feliz. O despojamento franciscano lustrava o mundo de gratidão.

"Pensava assim: se a cama for de ferro e as panelas, o resto Deus provê: é nuvem, sonho, lembranças."

Partia de uma matriz regional, do ambiente doméstico, dos acontecimentos caseiros do interior, para alcançar uma mensagem universal, que absorvia a mudança de costumes, principalmente a emancipação do prazer feminino, não mais subjugado à obediência e submissão aos homens.

"Mulher é desdobrável. Eu sou."

A partir dela, culpa e cobrança desapareceram, invertendo lugares comuns e mostrando que a amizade é a alma do relacionamento.

"Há mulheres que dizem: Meu marido, se quiser pescar, pesque,

mas que limpe os peixes.

Eu não. A qualquer hora da noite me levanto,

ajudo a escamar, abrir, retalhar e salgar.

É tão bom, só a gente sozinhos na cozinha,

de vez em quando os cotovelos se esbarram."

Não é de hoje que os políticos viram as costas para a literatura e preferem livros de autoajuda. Mas o tempo é implacável: olha nos olhos do verdadeiro verbo. _

CARPINEJAR

Orgulho sem preconceito

Este é o primeiro texto publicado nessa minha coluna do jornal Zero Hora. Quis o destino (coincidência?!) que fosse justamente no dia 28 de junho. Para quem não sabe, esse é um dia bem importante na luta pelos direitos de pessoas LGBTQIA+.

Hoje é o Dia do Orgulho. A data ficou marcada na história pela resistência de gays que em 1969, em um bar de Nova York, encurralaram a polícia e começaram uma revolução em busca do reconhecimento de direitos básicos.

Passadas mais de cinco décadas, há muitos avanços. Queria eu ter nascido hoje! Crescer numa sociedade mais aberta, com escolas preparadas e crianças "menos" maldosas. O meu maior trauma da vida era ir para a escola e ser vítima de bullying pelo simples fato de ser gay desde sempre.

Aqui vale um esclarecimento: ninguém escolhe ser gay ou não ser. Mas ao longo da vida a gente é obrigado a escolher entre esconder ou revelar isso ao mundo. É agoniante viver em segredo. Mentir ser quem não é dói.

Com muito orgulho eu, hoje com 33 anos, não preciso mais deixar de falar. Consegui naturalizar muitas coisas e falo com tranquilidade sobre meu noivo, nossos planos de ter filhos um dia. Ainda recebo alguns comentários negativos nas redes sociais (bem poucos!), mas nem preciso responder. Outras pessoas acabam me defendendo.

Esse movimento que a sociedade tem hoje de proteger as pessoas precisa ser elogiado. Ainda há muita gente ruim nesse mundo, mas cada vez mais vemos exemplos de quem antes se calava diante de uma palavra homofóbica e agora reage. Isso é maravilhoso! Repreenda piadinhas sem graça, não pergunte intimidades a alguém LGBTQIA+, não questione o amor e a família dos outros.

Ainda temos muitos desafios. Muitas lutas. É preciso avançar na proteção de direitos, em legislação, em políticas públicas de saúde e de segurança para toda a comunidade gay. A geração de empregos também é uma pauta bem atual.

Eu estou todos os dias na TV, apresentando um telejornal tradicional. Meu talento e habilidade independem do fato de eu ser gay ou não. Mas eu sei da importância de ocupar esses espaços. Só o orgulho supera uma sociedade construída de preconceito.

Nada aborrece mais um homofóbico do que ser confrontado por alguém que não tem vergonha de ser quem é. Orgulhe-se! Sempre.

Dica: hoje, às 17h, na Esquina Democrática, tem concentração seguida de uma marcha pra celebrar o orgulho LGBTQIA+, em Porto Alegre. _

mARCO MATOS


28 DE JUNHO DE 2024
EDITORIAL

EDITORIAL

Atenção ao que a ciência tem a dizer

Vêm da ciência, já há algumas décadas, os alertas cada vez mais reiterados e contundentes sobre o aquecimento global e suas consequências para a vida na Terra. Populações de várias partes do planeta, como os habitantes do Rio Grande do Sul, têm provas suficientes de que as advertências não eram alarmismo exagerado. A sequência de secas, temporais violentos e enchentes nos últimos anos no Estado está aí para mostrar que algumas ameaças imaginadas para um futuro distante estão materializadas no presente. Nada mais indicado, portanto, do que começar a prestar mais atenção no que os cientistas têm a dizer.

Neste contexto, age corretamente o governo gaúcho ao instalar o Comitê Científico de Adaptação e Resiliência Climática. Será uma instância formada por 43 pesquisadores e especialistas em diversas áreas, de instituições gaúchas, de outros Estados e até do Exterior. A intenção existia desde o ano passado. Foi manifestada após a cheia de setembro. Efetiva-se agora, depois da maior tragédia climática da história do Rio Grande do Sul, com desdobramentos sociais e econômicos ainda não totalmente mensurados.

O comitê integra o Plano Rio Grande, criado pelo Piratini para ações de curto, médio e longo prazo relacionadas a reconstrução e adaptação do Estado frente à perspectiva de eventos meteorológicos extremos mais seguidos e potentes daqui para a frente. Será um órgão com funções consultivas e propositivas acerca de projetos e políticas públicas nas mais diversas dimensões, da economia à saúde. Mas a última palavra para levar adiante, modificar ou arquivar qualquer ideia permanece com o Executivo.

Embora a iniciativa mostre-se oportuna e relevante, ainda poderia ser aperfeiçoada. O mais indicado, por exemplo, seria a garantia da existência de um colegiado do gênero que atravessasse diferentes gestões, imune à alternância de poder própria das democracias. Assim, teria o espírito de um projeto de Estado, e não de governo, importante para não sofrer com descontinuidade. A adaptação às mudanças climáticas nunca será uma obra pronta.

Caberá também à sociedade acompanhar se o grupo de cientistas convocado conseguirá, de fato, ter a influência a que se propõe. Assim como a capacidade de produzir consensos. No cenário ideal, com o passar do tempo, se mostrará uma instância capaz de ajudar em boas propostas e políticas e também ser ouvida sempre que precisar advertir sobre iniciativas ou proposições legislativas temerárias. Seria desapontador e trágico se, com o passar do tempo, o comitê acabasse perdendo relevância, como outros conselhos que costumam ser instalados por diferentes governos.

As decisões tomadas hoje repercutirão no futuro. Está nas mãos da geração atual escolher que Rio Grande do Sul será legado para os gaúchos das décadas vindouras. Espera-se que a opção seja por construir as condições para um Estado capaz de seguir prosperando, a despeito das incertezas do clima. _


28 DE JUNHO DE 2024
TROCA DE IDEIAS - Jhully Costa

TROCA DE IDEIAS

Retomada do turismo no Painel RBS

Como fortalecer o desenvolvimento do turismo após a tragédia climática que assolou o RS? Essa e outras perguntas guiaram a primeira edição da série especial do Painel RBS, promovida pelo Grupo RBS como parte do movimento "Pra cima, Rio Grande" para dar voz e visibilidade aos desafios e soluções para a retomada de setores-chave na economia gaúcha. Mediado pelo jornalista Elói Zorzetto, o evento foi realizado ontem, com transmissão ao vivo pelo canal de GZH no YouTube.

O encontro contou com a participação de Luiz Fernando Rodriguez Júnior, secretário de Turismo do RS em exercício; Amanda Bonotto Paim, coordenadora de Turismo do Sebrae RS; Rodrigo Machado, sócio-diretor da Opinião Produtora e um dos fundadores do Instituto RSNASCE; Daniel Hillebrand, presidente do Contur Hortênsias e gerente de relacionamento institucional da Sicredi Pioneira; e Daniel Panizzi, presidente da União Brasileira de Vitivinicultores (Uvibra) e vice-presidente do Instituto de Gestão, Planejamento e Desenvolvimento da Vitivinicultura.

Amanda Paim observou que o setor foi impactado indiretamente pela tragédia, com 95% das empresas deixando de faturar no período.

Aeroporto

Na Região das Hortênsias, a principal preocupação era com os acessos rodoviários. Por isso, a sociedade se engajou para viabilizar a restruturação das estradas. Mesmo que haja possibilidade de acesso pelas rodovias, os participantes destacaram a importância da reabertura do aeroporto Salgado Filho para o setor de turismo. 

Equatorial deve abocanhar sozinha fatia da Sabesp

Deve ser oficializada hoje a nova participação da Equatorial na área de saneamento: a Sabesp, maior do país e considerada a "joia da coroa" do setor. Até quarta-feira, ainda concorria com outra atuante no Estado, a Aegea, que desistiu da disputa.

Especializada em privatizar e reestruturar distribuidoras de energia, a Equatorial entrou no saneamento há menos de três anos, com a compra da Caesa, de Alagoas. A Sabesp se tornou mais conhecida dos porto-alegrenses por emprestar bombas ao Dmae para apressar o escoamento dos alagamentos de maio.

O desfecho do leilão, com apenas uma interessada e ainda novata no saneamento, não será o esperado. Entre as causas do final um tanto melancólico estão as regras da venda da fatia da empresa, mais restritas do que as tentadas - e modificadas - na Corsan.

No caso da Sabesp, além de restringir a 15% a fatia da venda de ações em pacote - as demais devem ser pulverizadas -, o governo de São Paulo adotou mecanismos que afugentaram as candidatas consideradas mais óbvias.

- Se a "joia da coroa" do saneamento tem apenas uma interessada, há algo errado. Se não gera competição, ou o processo foi malfeito, ou o setor não é tão atrativo - avalia o gaúcho Percy Soares Neto, ex-diretor-executivo da Abcon-Sindicon, entidade que representa empresas privadas do segmento.

O que inibiu a concorrência

Na avaliação de Percy, é "inegável" que mecanismos adotados pelo governo de São Paulo para se proteger inibiram a concorrência. Além de um percentual relativamente baixo para uma empresa privada se tornar "sócia estratégica" - os 15%, enquanto o modelo da Corsan previa 30% e ainda assim não atraiu -, houve uma "pílula de veneno". Esse é o nome (que costuma ser chamado, na versão em inglês, de poison pill) de uma cláusula que proíbe esse acionista de referência de comprar ações de outros sócios para se tornar majoritário.

- Vai acontecer como no Rio Grande do Sul com a Corsan. Tem o mérito de o processo ter chegado ao fim, mas não pode ser considerado um sucesso, porque não houve competição. A venda da Corsan foi importante por ter sido a primeira depois do marco do saneamento, mas o governo do Estado deixou dinheiro na mesa (o valor obtido com a venda foi menor do que se tivesse havido disputa) - observa Percy. _

As ações da Sabesp fecharam ontem com queda de 2,8%, em dia que a bolsa subiu 1,36%. O motivo era a expectativa de que só um candidato se apresentasse. Para hoje, está previsto pronunciamento do governo de São Paulo.

Enchente derruba 55% das vendas de imóveis

A venda de imóveis em Porto Alegre despencou 55% em maio. Segundo pesquisa da Loft feita com base em dados da prefeitura, foram vendidos 796 imóveis, quase mil unidades a menos do que as 1.768 compradas no mês anterior.

Até então, o menor volume de negociações neste ano havia ocorrido em fevereiro, quando 1.118 negócios foram concretizados. Em maio, a queda mais acentuada em transações foi entre os dias 6 e 10, durante os primeiros dias da cheia na Capital.

O levantamento mostra que as vendas por bairro foram afetadas de forma semelhante, com baixa tanto em áreas de risco quanto em bairros mais distantes do Guaíba.

Fernando Erhart, diretor de operações da Foxter, imobiliária que atua em Porto Alegre há cerca de 10 anos e faz parte da Loft, afirma que, neste mês, o número de propostas para compra de imóveis já está próximo do período anterior à enchente.

- Muitas pessoas acreditaram que teríamos mais imóveis sendo colocados à venda, mas isso não se tornou realidade até o momento - diz. _

americanas

O esquema de fraude nas Americanas desvendado pela Polícia Federal lembra um pouco o Departamento de Operações Estruturadas da Odebrecht. Tinha até planilha preenchida com cores diferentes: uma para os registros reais, outra para os inventados. Um dos diálogos é emblemático:

- A cinza é a vida como ela é. A branca com todas as esticadas (valores fraudados).

Dólar se acalma

Mesmo sem sair do patamar de R$ 5,50, o dólar se acalmou um pouquinho ontem, mesmo com o aviso do Banco Central (BC) de que não haverá intervenção. Fechou com leve baixa de 0,2%, em R$ 5,508. O extintor foi uma manifestação do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que reposicionou o governo depois de declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O resultado da geração de empregos formais abaixo do esperado também "ajudou", na medida em que o dado é visto no mercado como um antídoto à alta da inflação. _

Startup gaúcha ambiciona se tornar iFood da saúde

A startup gaúcha beeIT criou o aplicativo FoodCare, com ambição de se tornar uma espécie de iFood para pacientes, acompanhantes, visitantes e funcionários de instituições de saúde. Usuários acessam a plataforma e fazem o pedido da refeição, adequado a dietas e à disponibilidade da cozinha do hospital. A ferramenta promete reduzir em até 80% o desperdício de comida.

Uma análise onde já é usada, no Hospital Jaraguá, em Santa Catarina, estima que a instituição pode economizar R$ 290 mil por ano com gestão de desperdícios. Funcionários que recolhem as bandejas com restos de comida alimentam a plataforma com dados. _

GPS DA ECONOMIA - mARTA sFREDO