quinta-feira, 31 de dezembro de 2020


31 DE DEZEMBRO DE 2020
TICIANO OSÓRIO | INTERINO

Saudade das balas azedinhas

Esta época do ano intensifica a saudade que tenho sentido do cinema. Não dos filmes, que a esses eu assisto diariamente, às vezes dois ou três. Mas das salas de cinema, um segundo lar desde que me dou por gente.

Lembro da emoção de ir às matinês com minha mãe, lembro de o Cine Victoria transbordando para uma nova aventura dos Trapalhões, lembro das balas azedinhas que nos acompanhavam nesse ritual.

Acho que lembro do primeiro filme que vi sozinho - talvez Metrópolis, de Fritz Lang, no Avenida -, mas com certeza não esqueço da primeira e única vez que fui barrado, por causa da idade: O Exterminador do Futuro (1984), no Baltimore. Quando voltei com o pai, vencida a fila na calçada da Osvaldo Aranha, me senti como o próprio Schwarzenegger cumprindo a antológica promessa de seu personagem ("I?ll be back"). Falando em filas na calçada, elas eram um ponto de encontro e um acontecimento nas sessões da meia-noite do ABC.

Victoria, Avenida, Baltimore, ABC. É, sou velho o suficiente para ter vivido a era dos cinemas de calçada, cada um com sua própria personalidade.

Ao fim de cada ano - daí a nostalgia -, além de fechar em um caderno a lista dos filmes que eu tinha visto, com as respectivas estrelinhas ao lado, também fechava o campeonato das salas que eu mais frequentava. Geralmente, graças ao fator local, ganhava o Avenida ou o Baltimore, mas houve um tempo em que o Coral, graças a uma seleção de craques, foi um forte concorrente. Veio dessa época a tradição, hoje interrompida pela pandemia, de terminar (no dia 31) ou começar (no dia 1º) o ano dentro de um cinema.

Os cinemas de calçada praticamente morreram, e agora os cinemas de shopping estão em xeque. Passaram mais de oito meses fechados em 2020, e, pelo menos em Porto Alegre, não tiveram muito público nas semanas de outubro e novembro em que reabriram. A baixa audiência não deve ser creditada apenas ao medo de contágio - que não impede aglomerações em outros espaços de lazer. O longo hiato pode ter estimulado uma mudança de hábito. As pessoas vão continuar assistindo a filmes, mas talvez no conforto e na segurança de seus lares, e gastando menos - o preço de um ingresso no fim de semana se equipara ou é superior ao de uma mensalidade de plataforma de streaming. Para uma família com dois filhos, por exemplo, isso faz uma grande diferença no bolso. Sobretudo em um cenário de perdas econômicas.

De olho nessa transformação e no coronavírus, a Warner anunciou recentemente que todos os seus filmes de 2021 serão lançados simultaneamente nos cinemas e na HBO Max (que, hoje, só existe nos EUA). O sucesso ou não da estratégia - e também uma eventual e inédita vitória da Netflix no Oscar - pode definir caminhos para a indústria e o mercado cinematográficos. Há quem diga que os cinemas vão ficar restritos às superproduções, aos eventos de massa, outros entendem o contrário, que se tornarão um circuito para os apreciadores dos chamados filmes de arte. Ou pode ser que, depois de todo mundo vacinado, tudo volte ao normal.

Por enquanto, não há nenhuma cena pós-créditos que dê uma pista concreta do que vai acontecer. Torço pelo lanterninha no fim do túnel, porque, em casa, apesar de muitos pontos a favor, se perde a tal da magia da sala escura. Perde-se a imersão proporcionada pela combinação de tela grande, som de altíssima qualidade, ausência de distrações (fora um que outro espectador inconveniente) e nossa incapacidade de pausar, retroceder ou avançar a trama - fundamental para nos entregarmos. Perde-se também a comunhão momentânea com um exército de estranhos, muito bem-vinda e eficiente em comédias, filmes de terror e dramas que fazem soluçar. Ah, que saudade daquelas risadas que sucedem um baita susto, que saudade de ser mais um a levantar da poltrona enxugando as lágrimas, que saudade da escuridão acolhedora e do silêncio eloquente, que saudade das balas azedinhas e dos doces encontros na porta de um cinema.

*O colunista David Coimbra está em férias e retorna no dia 15/01.

TICIANO OSÓRIO | INTERINO

31 DE DEZEMBRO DE 2020
ARTIGOS

VENCEMOS!

Vencemos o primeiro desafio de formar uma equipe ficha-limpa, corajosa e tecnicamente capaz, comprometida com o interesse público acima de qualquer outro. Foi difícil, mas um processo essencial para outras vitórias. Obrigado a todos esses vencedores que nos acompanharam.

Vencemos o que parecia impossível e improvável: a descrença de que é possível fazer gestão pública focada no resultado para as pessoas, com ética, princípios e verdade.

Vencemos a corrupção histórica e aceita por muitos até então, presente em diversas áreas da prefeitura. Os corruptos e corruptores também foram vencidos. E esperamos que sejam punidos.

Vencemos a maior crise financeira da história da cidade. Recebemos com déficit de R$ 437 milhões e entregamos com superávit, dinheiro em caixa, nunca visto em nenhum outro momento nas últimas décadas, de mais de R$ 200 milhões.

Vencemos o múltiplo sofrimento de quem precisava da saúde pública. Além da doença, atendimento ruim e esperas na madrugada. Demos acesso ao SUS a 150 mil porto-alegrenses antes excluídos. Unidades básicas dignas, agendamento por celular, equipes resolutivas e entrega recorde de hospitais e leitos.

Vencemos o descaso da prefeitura com a segurança e a assumimos como um problema de governo. Todas as entradas e saídas da cidade e 1,5 milhão de placas são monitoradas/dia. 60% a menos de roubo de veículos, que é a ferramenta para outros crimes. A Guarda Municipal foi treinada, equipada e colocada nas ruas.

Vencemos outros interesses que, na educação, eram colocados antes do aluno. Aulas todos os dias, exame anual, voz aos pais na escolha do diretor e sua permanência pelos resultados. Primeiras escolas charter do Brasil no Ensino Fundamental.

Vencemos os descontroles na zeladoria com pagamento por resultados e implantação de GPS. Deixamos o maior volume de investimento em manutenção viária da história e o primeiro com projeto de engenharia e garantia de durabilidade.

Vencemos a ideologia da estatização e contratualizamos na saúde, educação e social. Entregamos a primeira PPP do Estado, com recorde histórico de concorrentes da Ibovespa.

Vencemos todos os limites de entrega de habitação, regularização fundiária, rede de água, saneamento ou drenagem, além da burocracia dos licenciamentos, abertura de empresas e emissão de alvarás ao habite-se.

Vencemos a injustiça tributária dos que mais podem sobre os que eram injustamente tributados; vencemos privilégios e paradigmas da mobilidade e implantamos ações inovadoras.

Saímos vitoriosos. E se isso eleva a régua para quem nos sucede, também deixa o caminho bem mais fácil para outra vitória da cidade.

NELSON MARCHEZAN JÚNIOR, PREFEITO DE PORTO ALEGRE (2017- 2020)

31 DE DEZEMBRO DE 2020
OPINIÃO DA RBS

A HORA DA VERDADE

Prefeitos e vereadores eleitos ou reeleitos tomam posse nesta sexta-feira e têm à frente, pelos próximos quatro anos, o compromisso de materializar as propostas apresentadas ao longo da campanha para melhorar a qualidade de vida de seus concidadãos e desenvolver os seus municípios. Se, em período de vacas gordas na economia brasileira, já não era uma tarefa fácil, torna-se um desafio ainda mais árduo pela miríade de incertezas derivada agora da crise sanitária. O cenário adverso, porém, não pode servir de justificativa para eventuais frustrações, especialmente quanto aos compromissos assumidos pelos chefes dos Executivos ungidos pelas urnas. Afinal, a realidade do início de 2021 não é surpresa para quem buscava votos poucos meses atrás.

Encerrada a campanha, a fase de transição e a etapa de composições políticas para compor os governos que agora assumem, chegou a hora da verdade. O momento é de arregaçar as mangas e começar a honrar as promessas feitas aos eleitores. Não se cobra que todos os planos sejam cumpridos no curto prazo, mas é fundamental demonstrar, ao longo do mandato, que a palavra empenhada não cairá no esquecimento. É sabido que a pandemia não tem impacto apenas na saúde, uma área em que os municípios têm atuação decisiva. Há reflexos nas finanças já dilapidadas nos municípios, na educação, no transporte público e nas demais demandas sociais em que as prefeituras atuam. O ensino, chave para o progresso, merece atenção especialíssima, ainda mais após o grande prejuízo ao aprendizado imposto pelo fechamento das escolas por um longo período em 2020.

Cumprir os compromissos, de outra parte, demandará responsabilidade com a sustentabilidade financeira e a busca permanente por fazer as despesas caberem dentro das receitas. Se os recursos são escassos, a luta contra a corrupção ganha ainda mais importância. No mesmo sentido, empreguismo e inchaço das administrações para acomodar aliados têm de ser combatidos. Da mesma forma, é dever dos novos gestores buscar incansavelmente maior eficiência para a máquina pública para devolver aos munícipes serviços à altura da alta carga tributária a que são submetidos. O desenvolvimento econômico, por outro lado, passa pela desburocratização e apoio ao empreendedorismo, sem que isso signifique falta de cuidado com o ambiente, por exemplo. Se reformas são cobradas em níveis federal e estadual, também devem estar no horizonte dos poderes municipais, de acordo com suas atribuições e respeitando seus limites de atuação.

Aos vereadores, por sua vez, cabe uma fiscalização responsável do Executivo e a formulação de leis pertinentes que tragam colaboração efetiva para as suas comunidades. Seria um bom sinal se ainda desperdiçassem menos tempo e energia em pautas secundárias, como homenagens com nomes de ruas e distribuição de comendas. Estas até podem ser atribuições dos Legislativos, mas as prioridades são outras e bem conhecidas. Vencer a crise sanitária e econômica e reverter os prejuízos à educação só será possível com foco e dedicação. O sucesso das legislaturas e das administrações, com posterior reconhecimento dos eleitores, não depende de sorte, mas de competência e abnegação. Então, ao trabalho. Após um ano repleto de aflições, os brasileiros merecem um 2021 com esperanças renovadas, respirando ares de mudança e a expectativa de dias melhores onde vivem: os municípios.


É grana para uma megavirada na vida

De viagem ao espaço até vacinas contra covid-19, as possibilidades ao vencedor do sorteio realizado pela Caixa são inúmeras.

A Mega da Virada sorteará as dezenas que podem fazer novos milionários (ou novo, se ganhar sozinho) no país às 20h desta quinta- feira. O prêmio nada singelo é estimado em R$ 300 milhões. Este é o segundo ano consecutivo em que o valor acumulado deve atingir essa faixa. Em 2019, o total pago foi de R$ 304,2 milhões.

Com esse montante na conta, dá para comprar tudo no débito sem ter que se preocupar com o amanhã, afinal, dinheiro é o que não vai faltar. GZH conversou com especialistas para saber o que é possível adquirir com toda essa bolada e pegou dicas de como administrar a dinheirama.

De acordo com o economista Luan Santos, a chance de uma pessoa acertar sozinha, em uma aposta simples de R$ 4,50, as seis dezenas do sorteio é de uma em 50 milhões. Por outro lado, a probabilidade de levar a bolada para casa aumenta se o apostador investir em um bolão.

- No caso de um bolão com 10 apostas, a chance de acerto fica na casa de uma para 230 mil. Vale lembrar que o preço da aposta sobe para R$ 945. Contudo, acredito que seja um investimento que valha a pena. A pessoa pagará R$ 94,50 pela aposta e poderá ganhar R$ 30 milhões - diverte-se.

Cuidado

Dina Prates, consultora financeira, explica que o ganhador de uma bolada como a da Mega da Virada precisa analisar a própria situação econômica antes de sair às compras. É necessário elencar as dívidas a serem quitadas, realizar um planejamento financeiro e, por fim, traçar um plano de investimento:

- Muitas vezes, as pessoas não conseguem administrar R$ 100, imagina R$ 300 milhões. Geralmente, o primeiro impulso é consumir e festejar. Ou seja, elas acabam gastando com o que não é prioritário. Há três passos simples: pague suas dívidas, e se quiser ajude pessoas próximas pagando as dívidas que elas também têm. Na sequência, enumere o que você gostaria de fazer, mas nunca fez por falta de dinheiro. Por fim, separe o montante que você investirá para construir um patrimônio que irá render frutos no futuro.

O economista Luan Santos ressalta que os títulos púbicos, como o Tesouro Selic, o Tesouro IPCA e o Prefixado são boas alternativas de investimento:

- O Selic rende diariamente, sempre acompanhando a variação da taxa Selic. O IPCA traz um rendimento acrescido do valor da inflação do período. Já o Prefixado traz uma segurança ainda maior, porque ele tem rentabilidade fixa. Assim que você compra o título, já sabe qual será seu ganho no dia do vencimento e a taxa de juros anual. Se o vencedor do prêmio nunca investiu, essas três possibilidades são boas alternativas porque são seguras, já que a União é o melhor pagador em solo nacional.

Outra dica dada pela consultora financeira Dina é sobre o time de profissionais que o novo milionário precisará ter ao lado:

- Eu contrataria um bom advogado para tratar das questões de transferências de bens. Um economista para dar as orientações mais corretas e precisas sobre investimentos. Um contador para atuar no ensino e no controle de tributações dos bens adquiridos. Por fim, um corretor imobiliário para mapear e aconselhar se os imóveis que a pessoa deseja comprar são um bom investimento.

Aposta

Os apostadores têm até as 17h desta quinta-feira para concorrer ao prêmio de R$ 300 milhões da Mega da Virada. O valor de uma aposta simples, com seis números, é de R$ 4,50. Vale lembrar que a bolada desse concurso especial não acumula - caso não haja apostas premiadas com seis dezenas, o dinheiro será dividido entre os acertadores dos cinco números, e assim sucessivamente até aparecer um vencedor.

As apostas podem ser feitas nas lotéricas de todo o país, pelo portal Loterias Online e pelo app Loterias Caixa, disponível nas plataformas Android e iOS. Clientes da Caixa podem fazer suas apostas pelo internet banking.

Na internet, é necessário ser maior de 18 anos e efetuar um cadastro. Feito isso, você escolhe as dezenas, insere o pedido no carrinho de compras e paga todas as suas apostas de uma só vez, com o cartão de crédito. O valor mínimo da compra na web é R$ 30 e o máximo, R$ 945 por dia.

Há a possibilidade de fazer um bolão com amigos ou colegas de trabalho e aumentar as chances de abocanhar os R$ 300 milhões. Com um grupo de pessoas, escolha os números, assinale a quantidade de cotas e registre a aposta em uma casa lotérica. O preço mínimo de apostas no bolão para a Mega da Virada é de R$ 10, e cada cota deve ser de, pelo menos, R$ 5. Vale notar que é possível realizar bolões de duas a cem cotas.

Por fim, é possível ainda comprar cotas de bolões organizados pelas lotéricas. Para isso, basta o apostador solicitar ao atendente a quantidade de cotas que deseja e guardar o recibo para conferir a aposta no dia do sorteio. Nesse caso, você poderá pagar uma tarifa de serviço adicional de até 35% do valor da cota.

IAREMA SOARES 

31 DE DEZEMBRO DE 2020
BEM-VINDOS A 2021

De mãe para filho, com amor

Em cartas, famílias desejam esperança, leveza e otimismo em 2021 para filhos que recém chegaram ou ainda vêm ao mundo

O ano de 2020 foi como nenhum outro desta geração: marcado por surpresas, consternação, confinamento e distância social, que contribuíram para que o período da pandemia seja para sempre lembrado como um dos mais difíceis que já vivemos.

Mas, para muitos, 2020 também será inesquecível por outros motivos. A aproximação do núcleo central da família, a valorização da companhia de parentes e amigos, o aprendizado e descobrimento pessoais. Após meses tão complicados, 2021 chega repleto de esperança, otimismo, ainda que cauteloso, e grandes expectativas.

E quem melhor para simbolizar os desafios, as alegrias, os desejos realizados, a superação ao longo de tantos meses do que as mães? Se a gravidez já é momento singular, gestar em meio à pandemia torna- se um momento único.

Histórias

O nascimento de um filho - ou logo três. Uma concepção inesperada, mas muito celebrada. Uma gravidez há muito esperada finalmente se concretizando.

São momentos especiais como esses que celebramos aqui. GZH convidou três mães com histórias especiais em 2020 para escreverem cartas a seus filhos, já nascidos ou esperados para os próximos meses, com seus desejos para 2021.

A obstetra Mariana Barth (que deve dar à luz Eduardo em março de 2021), a professora Carolina Schneider de Almeida (mãe dos trigêmeos Pedro, Lucas e Clara, nascidos em julho de 2020) e a bancária Luana Samara Schmidt (mãe de Dom, cinco anos, e agora também da Sol, nascida no início de dezembro) são as protagonistas das cartinhas repletas de amor e otimismo sobre o ano que está chegando. Confira as mensagens de esperança dessas três mães para seus filhos - um recado, também, para todos de que, apesar de tantos obstáculos, há razões para celebrar e começar o ano confiante de que tudo vai melhorar.

GUILHERME JUSTINO

31 DE DEZEMBRO DE 2020
+ ECONOMIA

O ano em que as bolas de cristal quebraram

A inédita variação nas projeções para o PIB de 3,6% a -6,9% é um bom resumo de 2020 na economia do Brasil. O ano em que as bolas de cristal quebraram inclui uma forte crise, fechamento de empresas, desemprego, mas também recordes positivos em faturamento de empresas e vendas de produtos. Foi o ano em que nos isolamos, mas poucas vezes tivemos tanto senso de pertencimento a uma espécie, a humana, ameaçada por outra, viral. 2020 deixa pouca saudade, mas muitos aprendizados.

O tombo: quando tudo parou, foi um susto. O mundo ia acabar, faltaria comida, haveria saques. O FMI chegou a prever queda de 9,1% no PIB brasileiro, recomendando que os governos adotassem medidas para reduzir esse impacto.

O auxílio: por iniciativa do Congresso, foi criado um auxílio emergencial de R$ 500, que, para ganhar o carimbo do Executivo, subiu para R$ 600. Foram cinco parcelas nesse valor, mais três de R$ 300, em meio a fraudes que deveriam ter sido evitadas.

O crédito: os programas incentivados demoraram para engrenar, até que chegou o Pronampe. Mas o Brasil conseguiu ver as liberações aumentarem 15,6% em relação a 2019, conforme a mais recente previsão do Banco Central, em ano de pandemia e aversão ao risco.

A reinvenção: quase todos tiveram de mudar a maneira de trabalhar. Do home office ao delivery, passando pelas reuniões virtuais - para alguns em excesso, para outros menos do que se desejava.

O efeito colateral: a combinação entre home office, auxílio emergencial com a poupança forçada pela restrição a viagens, restaurantes e outros gastos gerou demandas inesperadas, a maioria relacionadas à casa, desde o imóvel aos móveis, passando por itens de conforto.

A inflação: não existe palavra para definir alta genérica de preços em meio a uma recessão severa como a que o Brasil viveu em 2020. Um dos indicadores mais afetados, o IGP-M fechou com alta de 23,1%, a maior desde 2002.

A inação: a reforma administrativa ao menos foi apresentada, mas o ano termina sem uma proposta de reforma tributária do governo federal. Ambas terão nove meses para avançar em 2021, na melhor das hipóteses.

MARTA SFREDO

31 DE DEZEMBRO DE 2020
CRÔNICAS

Retrospectivas

Retrospectivas de fim de ano servem para passar o passado a limpo e organizar nossas lembranças, que sem elas seriam histórias sem nexo. O retrospectivista mais desatento da História foi Luís XVI, que na véspera da Revolução Francesa escreveu no seu diário: "Tudo calmo, nenhuma novidade no reino". A tradição de recapitular os principais acontecimentos do ano teria começado no ano 1, quando um viajante no deserto anotou no seu caderno de viagem a presença daquela estranha estrela no céu da Judeia, brilhando mais do que as outras, como que mostrando um caminho, e disse "Epa".

No jornalismo uma retrospectiva de fim de ano é obrigatória, e fácil de fazer. Basta juntar fatos e feitos que se destacaram durante o ano, e pronto. O ano de 2020, que termina agora, por exemplo, esteve cheio de notícias destacáveis, como todos os anos. É só reuni-las e teremos um típico ano com seus altos e baixos, esperando sua inclusão na retrospectiva. Como todos os anos. Certo?

Você deve estar brincando com os pobres autores de retrospectivas e com a humanidade em geral. Nenhum outro ano na nossa história foi tão diferente dos outros quanto 2020. Nenhuma outra retrospectiva foi - e continua sendo - tão inverossímil. Um vírus mal-intencionado surgiu não se sabe de onde decidido a acabar conosco e, mesmo se não conseguir, alterar a vida sobre a Terra e a relação entre as pessoas de maneira inédita, com efeitos imprevisíveis no futuro de cada um.

Retrospectivas por vir terão que recorrer à ficção ou ao delírio para contar como foi 2020 e seus desdobramentos. Elas podem muito bem ser sobre a guerra da vacina que fatalmente acontecerá em poucos anos, ricos contra pobres lutando pela sobrevivência.

Prevê-se que retrospectivas do futuro se ocuparão do comportamento de jovens em 2020 e depois, que desafiaram as recomendações de como enfrentar o vírus assassino e continuaram fazendo festas sem qualquer proteção, sugerindo que o vírus, além de todos os seus crimes, criara uma geração de desinformados, de alienados ou de suicidas.

L.F. VERISSIMO


31 DE DEZEMBRO DE 2020
INFORME ESPECIAL

O poder da inércia

Uma das plantas que moram no meu apartamento adoeceu. De repente, começou a amarelar. Telefonei para um especialista. Mandei fotos. Concordamos que tratava-se de uma situação anormal. Não era falta ou sobra de água, disso eu tenho certeza. Relatei minhas suspeitas: fungo, mau-olhado, praga, veneno - uma dedetização havia sido feita poucos dias antes. Ele se comprometeu a "dar uma passada aí na semana que vem". Enquanto isso, o vegetal sofria. Eu acompanhava a agonia das folhas, cada vez mais secas.

Na "semana que vem", o especialista não apareceu. Liguei de novo para ele. "Na outra semana eu vou". Não veio. As folhas caíram todas, absolutamente todas. Só daquela planta. As outras, em volta - e isso me intrigava -, transbordavam brotos e flores.

Em geral, acordo cedo e faço a minha ronda: completo o potinho do Lennon com água, ganho em troca umas sacudidas de rabo e, eventualmente, lambidas do "bebê velhinho", um vira-latas todo pimpão de 16 anos. E aí cuido dos vasos e da hortinha plantada na floreira da janela. Desbasto, rego, conto o número de brotos e de flores, dou petelecos nas eventuais formigas cortadeiras que especulam meu território.

Mas aquele canto sem vida me entristecia. Numa manhã, faz uns 20 dias, olhei para o espaço vazio e vi que, junto às raízes, nasciam 11 brotos de novas folhas. Todas saudáveis, verdinhas, ainda enroladas em si mesmas. Elas foram crescendo e hoje ocupam praticamente o mesmo espaço das que haviam secado e caído.

Não me contive. Liguei para o especialista, que é um baita profissional, para contar a novidade. E, embora às vezes eu seja mesmo irônico, agradeci a ele, com absoluta sinceridade, pela lição que me deu ao não aparecer. A gente se angustia, sofre, investe e se preocupa, enquanto, às vezes, a natureza das coisas e do universo só nos pede uma coisa, uma única coisa para resolver problemas que parecem insuperáveis: tempo.

TULIO MILMAN

31 DE DEZEMBRO DE 2020
INFORME ESPECIAL

Minhas previsões para o ano que termina

O jornalista Marcelo Rech, meu vizinho de página nos finais de semana, relembrou, poucos dias atrás, a frase do ex-ministro Pedro Malan: "No Brasil, até o passado é imprevisível". Inspirado por essa afirmação, apresento, a seguir, as minhas previsões para o ano que se despede. Abaixo, o que dirão sobre 2020 em 2021.

Muita gente dirá que as mortes eram inevitáveis e que, se nada tivesse sido fechado, a crise seria bem menor. Muita gente afirmará que o negacionismo em relação à covid-19 ajudou a matar muita gente que poderia estar viva.

O ministro Ricardo Salles afirmará que as queimadas não foram tão graves e que as ONGs, em vez de ajudar, só ideologizam a questão. As ONGs mostrarão mapas e relatório com dados sobre recordes de desmatamento e de queimadas na Amazônia e no Pantanal.

O governador Eduardo Leite dirá que, se o pacote do ICMS tivesse sido aprovado na integralidade, a crise nas finanças públicas seria menor.

Os liberais afirmarão que, se os impostos cobrados pelo governo ficassem com as famílias e com as empresas, a crise seria menor, porque a economia iria se fortalecer e mais empregos e tributos teriam sido gerados.

Uma parte da torcida colorada afirmará que, se Coudet tivesse ficado, o time teria sido campeão.

Outra parte da torcida colorada dirá que o time vinha caindo de desempenho e que, se Coudet tivesse ficado, o ano terminaria pior. Nos Estados Unidos, uma parcela dos analistas dirá que Donald Trump perdeu a eleição porque negou a covid-19 e reagiu de forma dúbia ao racismo.

Os trumpistas afirmarão que a derrota foi uma fraude eleitoral.

Quem vive na pele o racismo estrutural dirá que o assassinato no Carrefour de Porto Alegre não teria acontecido se a vítima fosse branca.

Uma parcela da população afirmará que não existe prova de que o espancamento foi motivado por racismo.

Jair Bolsonaro continuará jurando que nunca chamou a covid-19 de "gripezinha".

O vídeo em que Jair Bolsonaro chama a covid-19 de "gripezinha" continuará a ser largamente reproduzido.

Um lado afirmará que o maior problema político do Brasil em 2020 foi o radicalismo do outro lado.

Já o outro lado dirá que a culpa pelos problemas do Brasil foi do radicalismo. Do lado que o acusa de radicalismo.

TULIO MILMAN

quarta-feira, 30 de dezembro de 2020


30 DE DEZEMBRO DE 2020
JEFERSON TENÓRIO

A cartomante e o futuro revelado

Adivinhos e cartomantes sempre exerceram grande fascínio. Na história, imperadores e políticos sempre recorreram aos oráculos em momentos decisivos. A literatura também se serviu desses arquétipos, como em Machado de Assis e Clarice Lispector. É comum que, ao final de um ano, pensemos no que nos aguarda, ainda mais após um ano tão difícil pelo qual passamos.

Minha mãe, dona Sandra, é cartomante. Dizem ser a mais solicitada da cidade porque ela sempre acerta. Cresci vendo filas e filas de pessoas angustiadas entrando e saindo de nossa casa à procura de conforto porque o presente lhes parecia insuportável. Mesmo que o futuro revelado nem sempre fosse melhor que o agora. No entanto, bom ou ruim, imaginar o futuro é, no fim das contas, o que nos leva adiante.

Demorei para compreender que dona Sandra fazia uma das coisas mais bonitas e delicadas que já vi, pois, assim como um Ifá, o oráculo originário da cultura Yorubá, minha mãe orientava pessoas fragilizadas, perdidas em suas dores cotidianas. Apontava-lhes direções. Às vezes como profeta, às vezes como filósofa, às vezes como mãe.

Na vida adulta, tornei-me escritor e compreendi o quanto a vidência e a criação literária tinham, de certo modo, o mesmo princípio: construir futuros. Assim como nas cartas, a literatura pressente a realidade, se antecipa a ela e intui verdades. Embora enxergue semelhanças entre literatura e cartomancia, há algo nesse jogo decifratório do futuro que está para além da racionalidade. A vidência de dona Sandra é algo que nos escapa à compreensão, pois, nessa vertigem visionária, ela nos apresenta uma outra experiência: a experiência do sagrado. Uma experiência misteriosa vedada ao mundo ocidental, tecnocrata e capitalista.

Numa perspectiva de matriz africana, o ano que chega será regido por Oxum, Oxalá e Iemanjá. Espero que possamos enxergar belezas no presente, para construir nossos futuros, seja pela vidência, seja pela literatura. O que as cartas dizem sobre o próximo ano? Ainda não sei, vou perguntar a dona Sandra. Bom 2021.

JEFERSON TENÓRIO

30 DE DEZEMBRO DE 2020
FÁBIO PRIKLADNICKI | INTERINO

Escrever sobre pessoas

"O que um homem vê bêbado nas outras mulheres, vê sóbrio em Greta Garbo", escreveu certa vez o crítico teatral Kenneth Tynan sobre a estrela do cinema dos anos 1920 e 30. Tynan foi um dos mais espirituosos praticantes de um gênero de texto conhecido como perfil, o equivalente ao retrato no mundo da pintura. É um dos tipos mais difíceis de escrita, pois exige do jornalista ou ensaísta grande erudição e estilo, além de conhecimento aprofundado sobre o retratado, fruto de pesquisa e de entrevistas. Nas mãos de um autor menos habilidoso, vira um bloco de palavras burocrático e insosso. Aos cuidados de um Kenneth Tynan, pode se tornar um documento histórico.

O perfil não é necessariamente uma exaustiva biografia; às vezes, é o retrato de um momento em uma vida significativa. Como Gay Talese explicando por que um resfriado pode ser banal para qualquer pessoa, mas não para Frank Sinatra: "Sinatra resfriado é Picasso sem tinta, Ferrari sem combustível - só que pior. Porque um resfriado comum despoja Sinatra de uma joia que não dá para pôr no seguro - a voz dele -, mina as bases de sua confiança". Mais do que isso: "Um Sinatra resfriado pode, em pequena escala, emitir vibrações que interferem na indústria do entretenimento e mais além".

Me apaixonei pela arte do perfil ao ler o que considerei na época um divertido relato de Lynn Barber sobre uma desastrada entrevista com Marianne Faithfull em 2001, publicado no The Observer. Barber teve que encarar um atraso de duas horas da cantora e atriz, que posava para um ensaio fotográfico enquanto deveriam estar conversando, e desaforos do empresário dela, que achava que a matéria seria apenas sobre drogas e sexo. Na época da publicação, eu era um estudante de Jornalismo na metade do curso e ainda não tinha visto um relato tão cru e debochado. Mesmo que o estilo de Barber pareça personalista e ousado em muitos momentos, sua sinceridade sem filtros combina com a da própria entrevistada.

Mas o perfil ideal, para mim, é diferente. O jornalista cultural brasileiro Daniel Piza, que morreu prematuramente aos 41 anos, em 2011, foi preciso ao definir: "O bom perfil nunca esquece que aquele criador está em destaque pelo que fez ou pela reputação que ganhou fazendo o que fez. É intimista, sem ser invasivo; e interpretativo, sem ser analítico". Exemplo disso, para Piza, é o texto de Lillian Ross sobre Ernest Hemingway publicado em 1950 na The New Yorker.

Escrever sobre pessoas é um desafio e uma responsabilidade. É preciso saber usar esse poder, que pode embriagar os menos preparados. Não se deve ser condescendente, nem injusto com o retratado. Nos melhores casos, aprende-se algo novo sobre a condição humana a partir de uma experiência de vida. "Ao ouvir as pessoas, cuide daquilo que elas dizem como você cuidaria de um precioso presente", anotou William Zinsser, em um manual de escrita.

*O colunista David Coimbra está em férias e retorna no dia 15/01.

FÁBIO PRIKLADNICKI | INTERINO

30 DE DEZEMBRO DE 2020
ARTIGOS

2020 sob diferentes pontos de vista

Décadas e séculos à frente, 2020 será um ano com lugar garantido na linha do tempo que contará os episódios mais marcantes da história da humanidade. A pandemia do novo coronavírus surgiu na cidade chinesa de Wuhan e se espalhou pelo mundo. Destroçou a economia, colocou os sistemas de saúde dos países mais ricos e poderosos do mundo de joelhos e ceifou até agora a vida de quase 1,8 milhão de pessoas. O tema, naturalmente, dominou as páginas de Artigos da editoria de Opinião de Zero Hora em 2020.

Foi do empresário Daniel Randon, no dia 10 de fevereiro, o primeiro texto sobre a covid-19, ainda analisando os impactos locais do aparecimento daquele vírus misterioso. De lá até o último dia 18, foram 151 artigos tratando da pandemia e de seus vários desdobramentos na economia, na educação e na divisão ainda maior da sociedade, entre outros impactos, dissecando a crise sanitária por uma grande variedade de ângulos. Em meio à histeria e à desinformação que grassaram nas redes sociais, a página de Artigos de ZH foi um porto seguro onde o leitor encontrou análises qualificadas, sob diferentes pontos de vista. Muitas vezes discordantes, mas sempre ancoradas na civilidade argumentativa do bom debate. Um antídoto para a polarização vazia.

Mas a pandemia também deu espaço a outras pautas que marcaram 2020. A política, sempre galvanizadora de paixões, foi o segundo principal tema, seguido por comportamento, empreendedorismo e educação. Outra vez, a pluralidade foi marcante. Empresários, sindicalistas, gestores públicos, líderes religiosos, médicos, educadores, operadores do Direito, ativistas sociais e especialistas de tantas outras áreas assinaram centenas de artigos que contribuíram para uma apresentação de inúmeros assuntos a partir das mais diferentes linhas de pensamento. Sempre refletindo a diversidade - seja de gênero, de etnias ou de posições ideológicas - existentes na sociedade.

Ao fazer o balanço de um ano desafiador, Zero Hora tem a certeza de ter cumprido o seu papel, como veículo de comunicação, de colaborar para o aprimoramento do debate sobre todas as questões que afligem, mobilizam, mexem com a vida dos cidadãos e trazem esperança para o mundo, o país e o Rio Grande do Sul. Em 2021 não será diferente.



30 DE DEZEMBRO DE 2020
OPINIÃO DA RBS

Opinião da RBS: pandemia, reformas e saídas para a economia

Crises, tensões e sobressaltos foram uma constante ao longo de um 2020 repleto de apreensões. Mas o ano pesado, com a inapagável marca da pandemia, não carregou predominantemente de tons negativos os editoriais de Zero Hora. Pelo contrário. O espaço em que o Grupo RBS expressa as suas opiniões sobre os mais diversos temas teve, em sua maioria, um viés positivo. O balanço de todos os textos publicados no ano mostra que 56% apoiaram iniciativas, foram propositivos, reconheceram méritos de cidadãos, governos ou entidades, mas principalmente se engajaram na tarefa de conclamar a união da sociedade para debelar a pandemia, conciliando a saúde com a preservação da economia.

Atento aos atos e diretrizes das principais autoridades envolvidas na crise sanitária, o Grupo RBS, em seus posicionamentos, não deixou de fazer cobranças duras, especialmente relacionadas à falta de uma coordenação nacional para combater a covid-19 no país e à insistência em estratégias desaconselhadas pela ciência. Mas, ciente de seu papel como mobilizador no Estado, reservou ênfase especial a convocar os gaúchos - sob a campanha # juntoscontraovírus - para se somarem à tarefa solidária de minimizar os impactos da pandemia. Não apenas incentivando a adoção de posturas individuais responsáveis de higiene e distanciamento, mas valorizando a economia local e reconhecendo dificuldade dos empreendedores na luta por manter de pé seus negócios, gerando emprego e renda.

Ser enfático nas opiniões, porém, não significa atiçar ainda mais a fogueira da polarização que cinde a sociedade. A busca pelo equilíbrio, mesmo com veemência, foi o norte sempre seguido ao abordar o segundo tema mais recorrente do ano que termina: a defesa das reformas, tanto em nível federal quanto estadual. Esta pauta seguirá, em 2021, na ordem do dia. É assunto de extrema relevância, por estar umbilicalmente ligado à recuperação da economia, o terceiro assunto mais presente nos editoriais do Grupo RBS nos últimos 12 meses. Assim como em 2020, o leitor poderá ter a certeza de encontrar novamente a firme defesa por uma revolução na educação do país e do Rio Grande do Sul, o apoio ao combate à criminalidade e alertas sobre a necessidade de preservação do ambiente, uma ideia cada vez mais ligada ao desenvolvimento de uma economia sustentável e próspera.


30 DE DEZEMBRO DE 2020
MÁRIO CORSO

Quarentena

Coluna inspirada, quase roubada, de um texto de Júlia Corso*.

Pesquisa Google: Sintomas covid-19

Pesquisa Google: Fazer álcool gel 70%

Pesquisa Google: Comprar máscara cirúrgica

Pesquisa Google: Auxílio emergencial

Pesquisa Google: Máscara facial feita de meia

Pesquisa Google: Assar pão em casa

Pesquisa Google: Telebebidas Porto Alegre

Pesquisa Google: O que é cloroquina?

Pesquisa Google: Tutorial de respiração ioga

Pesquisa Google: Download Zoom

Pesquisa Google: Arroz soltinho

Pesquisa Google: Delivery comida saudável

Pesquisa Google: Gatos para adoção

Pesquisa Google: Comprar meias antiderrapantes

Pesquisa Google: Recomendações OMS

Pesquisa Google: Número de mortos covid-19 Brasil

Pesquisa Google: Mercado Livre tripé para celular

Pesquisa Google: Chás calmantes naturais

Pesquisa Google: Cadeira boa para as costas

Pesquisa Google: Recomendação de série

Pesquisa Google: Jackson Galaxy educação gatos

Pesquisa Google: Como cortar a própria franja

Pesquisa Google: Meditação contra insônia

Pesquisa Google: Comércio aberto

Pesquisa Google: Dancinha Tik Tok

Pesquisa Google: Feng Shui afasta vírus?

Pesquisa Google: Como saber se torci o tornozelo?

Pesquisa Google: Pérolas escondidas no catálogo da Netflix

Pesquisa Google: Diferença entre ansiedade e depressão

Pesquisa Google: Horta em casa

Pesquisa Google: Retorno do Brasileirão

Pesquisa Google: Organização Marie Kondo

Pesquisa Google: Dor de cabeça muito tempo no computador

Pesquisa Google: Abraço de máscara pode?

Pesquisa Google: Teletrabalho e burnout

Pesquisa Google: Terapia online

Pesquisa Google: Vacina covid-19

Pesquisa Google: Vai ficar tudo bem?

Cada um fez uma listas dessas, afinal, somos o que pesquisamos. Qual é a sua?

*Júlia Corso é filha do colunista.

MÁRIO CORSO

terça-feira, 29 de dezembro de 2020


29 DE DEZEMBRO DE 2020
LUÍS AUGUSTO FISCHER

O time da zona

Não tem fim de ano que não me dê aquele banzo de lembrar dos natais da infância e, por aí, da infância em si. Ainda esses dias, ouvindo o excepcional podcast Agora, Agora e mais Agora, do historiador Rui Tavares (está no site do jornal O Público, de Portugal), me veio todo um fio de lembranças. (Devo dizer que é o primeiro podcast que escuto. Aprendi que dá pra ouvir enquanto dirijo ou faço outra coisa que não requer atenção intelectual absoluta. E estou fascinado com a história que ele desdobra, uma reflexão sobre os últimos mil anos. Mil, mas volta a mais longe ainda.)

O caso é que lembrei de um momento dos meus 10 anos, não muito mais nem muito menos. Eu reunido com vizinhos, mais ou menos da mesma idade, para organizar um time de futebol da zona. "Zona" é conceito geográfico mas também afetivo: era a rua e alguma adjacência, com o acréscimo eventual de um primo frequente, por exemplo. Sem grana, como todo mundo na minha classe familiar - classe média média, sem medo de passar fome mas sem qualquer luxo de consumo -, combinamos de pegar cada um uma camiseta branca em casa para o uniforme. Já aí era bronca, porque tinha que pedir pra mãe, que só liberaria uma já gasta, entre as poucas que cada um tinha, naquele tempo anterior ao hiperconsumo atual.

O resultado foi disparatado: uma de manga curta com gola vê, outra de manga comprida, um chegou a apresentar o que se chamava de camiseta de física, hoje regata. Igual, desenhamos o escudo do time, que tinha nome, "Esporte Clube Brasil", e um por um cortamos num tecido meio plástico - acho que a letra era a minha, caprichada. Não era muito sofisticado, mas tinha uma faixa atravessada, como o Vasco e o River.

Por que "Brasil"? Acho que tinha a ver com um sábio acordo para evitar qualquer coisa que fosse meio colorada ou meio gremista, porque já então essas definições dominavam a cena das brincadeiras. Nos reuníamos, creia-me gentil leitor, sob o palco do cinema Rosário, porque dois do nosso time eram filhos do encarregado do cinema e moravam num anexo do prédio, nos fundos. E ali, ao lado daqueles tubos de ar que refrescavam o ambiente interno, desenhamos e cortamos o escudo, combinamos o time, com titulares e reservas, e pensamos em fazer uma estreia com um inimigo distante, o time da 11 de Agosto, duas quadras pra lá.

Epa. Acabou o espaço, acabou também o ano. Mas a memória segue aqui ativada. Bom ano para quem merece! E para os que não merecem, também um ano melhor.

LUÍS AUGUSTO FISCHER

29 DE DEZEMBRO DE 2020
JULIANA BUBLITZ INTERINA

Uma dose de esperança

Confesso ter sentido uma ponta de inveja. Quando vi a imagem daquela senhorinha de 101 anos, sorridente atrás da máscara, recebendo a primeira dose da vacina contra o coronavírus, na Alemanha, pensei: "Quem dera nossos pais e avós pudessem protagonizar a mesma cena. Quem dera..."

Depois, foram chegando outras imagens ao longo do último domingo, acompanhadas de depoimentos cheios de entusiasmo, vindos de países como França, Espanha e Itália. A sensação era de alívio após meses de perdas e restrições severas, em meio a um inverno melancólico no Hemisfério Norte.

É claro que vibrei, mas também senti um misto de frustração e de impotência. Ainda que tenha se tornado referência mundial pelo Programa Nacional de Imunizações, o Brasil, com 191 mil mortes por covid-19, estava ficando para trás - inclusive dos vizinhos da América Latina. Triste.

Para nossa sorte, somos um país com centros de pesquisa de ponta, conduzidos por estudiosos abnegados, acostumados a lidar com dificuldades de todos os tipos. Tenho a convicção de que a saída para o brete em que nos metemos é uma só: a ciência.

Tive a certeza disso ontem, durante uma entrevista que me devolveu a esperança - costumo dizer que nós, jornalistas, temos a felicidade de encontrar gente interessante no caminho e de viver momentos únicos. Às vezes, vem tudo isso junto.

Fui escalada para cobrir a folga da colunista Rosane de Oliveira no comando do Gaúcha Atualidade, da Rádio Gaúcha, ao lado de Daniel Scola. Esse programa, vocês sabem, é campeão de audiência e célebre por dar voz a grandes entrevistados.

A pedido de Scola, o produtor Bruno Pancot, um dos nossos craques, conseguiu, em cima do laço, marcar uma conversa, ao vivo, com o vice-presidente de Produção e Inovação em Saúde da Fiocruz, Marco Krieger. A fundação é a responsável, no Brasil, pela produção da vacina da Universidade de Oxford.

Com voz firme e serena, o doutor em ciências biológicas foi didático e tranquilizador nas respostas. Com 30 anos de Fiocruz, Krieger garantiu: a instituição fará o pedido de registro do imunizante junto à Anvisa em até duas semanas. Antes mesmo do resultado, dará início à produção, ainda em janeiro.

Especializado em genética molecular, o pesquisador destacou a qualidade dos estudos e disse não ter dúvidas "de que a vacina vai chegar e vai chegar em quantidade muito grande". Serão pelo menos 10 milhões de doses no mês de fevereiro (próximo da população do Rio Grande do Sul) e, a partir de março, 15 milhões. A intenção é atingir 210 milhões de ampolas. Como cada pessoa deverá receber duas aplicações, ao menos 105 milhões de brasileiros serão beneficiados.

A salvação, repito, não virá da política. Virá da determinação e da coragem de nossos cientistas.

*O colunista David Coimbra está em férias e retorna no dia 15/01.- JULIANA BUBLITZ | INTERINA


29 DE DEZEMBRO DE 2020
ARTIGOS

2020 NÃO FOI UM ANO PERDIDO

Não são raras as vezes que escutamos falas de que 2020 foi um ano perdido. Diferente disso, acredito que esse foi um momento de transformação e que deve ser referenciado como o ano em que nos humanizamos.

A pandemia fez transparecer os nossos mais singelos valores, nos tirou da zona de conforto, nos fez sofrer com muitas perdas e, também, nos possibilitou usar a criatividade para inovar. Vivenciamos momentos de convívio intenso com nossas famílias, nos adaptamos às novas rotinas e normalidades, aprendemos a utilizar novas ferramentas e valorizamos a ciência, a saúde e a educação.

Encerrando mais este ciclo de 365 dias, nos questionamos: como vai ser em 2021? Que expectativas vamos ter diante de um cenário que ainda parece tão incerto e inseguro? Acredito que a resposta está na origem da palavra esperança. Do latim sperare, ela nos instiga a um sentimento de olhar para o futuro.

Um olhar de horizonte prospectivo. Entretanto, para termos essa visão, uma atitude básica se faz necessária: aceitar o passado e ressignificá-lo. Sem passado, não há futuro, não há esperança. Inspirados pelo grande estudioso Viktor Frankl, precisamos encontrar sentido para a nossa vida, um sentido para termos esperança.

Quando olhamos para 2020, vivemos uma espécie de luto, parece que o ano passou e nós não o vivenciamos com a intensidade que deveríamos. A esperança está justamente em ressignificar as razões que nos dão motivo para mantermos a fé em dias melhores. Podem ser coisas simples do nosso dia a dia ou, então, grandes sonhos que foram pausados durante a pandemia.

O que não podemos perder em 2021 é o legado de humanidade que a pandemia nos trouxe. Não esqueçamos de valorizar o tempo que dedicamos para as pessoas que amamos, de praticar a solidariedade sem medidas, de cuidar dos mais idosos, de valorizar todos os profissionais que dedicaram suas vidas e suas jornadas de trabalho para salvar tantas pessoas. Não esqueçamos que tudo está interligado e que dependemos uns dos outros para viver.

Que, nos próximos 365 dias, possamos manter viva a esperança em tempos melhores e ressignificar tudo o que 2020 nos ensinou.

IR. INACIO NESTOR ETGES, PRESIDENTE DA REDE MARISTA

29 DE DEZEMBRO DE 2020
OPINIÃO DA RBS

UM BASTA NO JEITINHO

Espera-se que, a partir de agora, nenhuma instituição ou entidade volte a manifestar a intenção ou tentar qualquer artimanha para furar a fila da vacinação contra a covid-19 no Brasil. O país assistiu desconcertado, nas últimas semanas, a investidas despudoradas de grupos já privilegiados para passar à frente na ordem estabelecida e, pior, alegando motivos nobres. Primeiro foram promotores de São Paulo. 

Depois, o inusitado pedido partiu do Superior Tribunal de Justiça (STJ) e do Supremo Tribunal Federal (STF). Após buscar de forma um tanto constrangida justificar o pedido de 7 mil doses para a Corte e seus funcionários, mais o Conselho Nacional de Justiça, o presidente do STF, Luiz Fux, exonerou o servidor que seria o responsável pela demanda. Teria sido uma iniciativa sem o seu conhecimento. É preciso crer que a medida será pedagógica e irá criar uma espécie de jurisprudência para desestimular investidas do gênero.

Seria inadmissível que qualquer grupo organizado, especialmente se estiver no topo da pirâmide social e tenha grande poder de influência, tivesse êxito na tentativa de obter privilégio semelhante. Nos casos específicos, é preciso ressaltar que são funções que estão sendo bem exercidas de forma remota durante a pandemia. Pela natureza de suas tarefas, não estão relativamente mais expostos ao risco de contaminação do que a maioria da população e outras categorias que não figuram entre os grupos estabelecidos como prioritários até agora, como trabalhadores do transporte público. 

Conclui-se que definitivamente não estão entre os que necessitam aparecer entre os primeiros que receberão a vacina, a não ser, claro, aqueles que se enquadram em outros critérios, como idade e comorbidades. Os demais devem aguardar, como a esmagadora maioria dos brasileiros.

O STF, especialmente, tem agido e decidido de forma racional em questões ligadas à pandemia e à vacinação, corrigindo equívocos e omissões do governo federal. Assim foi nos casos em que a Corte deu maior autonomia para Estados e municípios atuarem em medidas restritivas, na possibilidade de os entes subnacionais também adquirirem vacinas e no tema de possíveis sanções a quem se negar a se imunizar. Mesmo que o caminho até o desfecho não tenha sido o melhor, a decisão de Fux conhecida ontem evita que o Supremo se mova de forma nada republicana e em defesa apenas de interesses corporativos. Livra o STF de uma grave mancha.

Alvo dos pedidos que partiram do STF e do STJ para a prioridade, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) fez bem ao responder de maneira firme que toda a sua produção de vacinas será direcionada apenas ao Sistema Único de Saúde (SUS), para atender à demanda do Programa Nacional de Imunização (PNI). Pode-se discutir a inclusão de um ou outro grupo entre os prioritários para receber a vacina, mas as linhas gerais da fila estão corretas, dando preferência a trabalhadores da saúde, idosos, populações indígenas e pessoas com comorbidades. Há uma lógica baseada em critérios sanitários e sociais. Os demais têm de aceitar e esperar. Basta de jeitinhos e carteiraços.