31
de outubro de 2012 | N° 17239
MARTHA
MEDEIROS
Poesia e cerveja
Inspirada
pelos ares que sopram da Praça da Alfândega, lembrei de um e-mail que recebi. Um
rapaz contou que estava num churrasco com amigos quando acabou a cerveja. Foi
escalado para ir ao supermercado buscar mais. Meia hora depois, retornou sem
nenhuma latinha, mas com um livro de poemas meu. “Fui quase linchado.” Pô, trocar
cerveja por poesia, até eu lhe daria uns beliscões.
Mas
não posso negar que fiquei toda boba por meus versos terem seduzido um garoto
de 20 anos em plena sexta à noite num corredor do Zaffari. Na verdade, não sei
se ele tinha 20 anos, se era uma sexta e se foi no Zaffari, mas não resisti em
formatar aqui um cenário mais completo. A cena é boa demais para ficar sem
detalhes.
Aproveitando
a Feira, uma dica: abrace os poetas. A começar pelo nosso patrono, Luiz
Coronel, e mais Ferreira Gullar, Alice Ruiz, Antonio Cícero, Fabrício
Carpinejar, Adélia Prado, Armindo Trevisan, Celso Gutfreind, Elisa Lucinda,
Affonso Romano de Sant’Ana, Thiago de Mello, Viviane Mosé, todos em atividade. Não,
Stella Artois não é uma poeta. Querendo prestigiar um talento novo, anote: Gatos
Bravos Morrem pelo Chute, do gaúcho Tiago Ferrari.
Afora
a poesia, selecionei 11 títulos entre os muitos que li este ano, entre
romances, crônicas e ensaios:
Por
Favor, Cuide da Mamãe, de Kyung-Sook Chin. Os segredos e sentimentos de uma família
sul-coreana, numa história universal e belamente escrita.
O
Caderno de Maya, de Isabel Allende. A autora escreveu uma história contemporânea
e impressionante, inspirada na barra-pesada vivida por seus enteados.
A
Borra do Café, de Mario Benedetti. Relançamento de uma de suas obras mais
tocantes. O autor uruguaio mescla memória e invenção ao narrar sua infância em
Montevidéu.
Resposta
Certa, de David Nicholls. Diálogos ótimos, do mesmo autor de Um Dia. O título
poderia ser Diversão Certa.
Tempo
é Dinheiro, de Lionel Shriver. Suicídio, câncer terminal, mortalidade, humor
negro. Só mesmo a autora de Precisamos Falar sobre Kevin para transitar sobre
esses assuntos sem nenhuma condescendência e arrebatar o leitor.
A
Vida Gritando nos Cantos, de Caio Fernando Abreu. Crônicas publicadas no jornal
O Estado de S. Paulo entre 1986 e 1996. O mesmo texto charmoso e provocativo
que deixa saudade até hoje.
A
Queda, de Diogo Mainardi. Impossível ficar indiferente. A secura convivendo com
a docilidade de uma forma única e emocionante.
Como
Ficar Sozinho, de Jonathan Franzen. Do mesmo autor do aclamado Liberdade. Ensaios
sobre a solidão, a nicotina, a literatura, a invasão de privacidade e outros
temas que ganham uma nova perspectiva sob o olhar astuto desse mestre da prosa.
Alta
Ajuda, de Francisco Bosco. Ensaios de um jovem filósofo que tem o talento no
DNA. Filho do músico João Bosco, é articulista do jornal O Globo, no qual
escreve sobre cinema, futebol, amizade, sexo, política.
Pequenos
Contos para Começar o Dia, de Leonardo Sakamoto. Breve e belo, até parece livro
de poesia – olha ela, de novo. Uma palhinha: “Os professores de matemática
dizem que a menor distância entre dois pontos é uma reta. Menos pro meu avô: ‘Besteira!
A menor distância é aquela em que a gente se diverte mais’”.