
Ruy Carlos Ostermann
Um dos palestrantes não chegava, o tempo passava, a plateia estava inquieta. Finalmente, alguém trouxe a notícia: Flávio Koutzii adoeceu e não poderia comparecer.
Eu era o responsável pela mesa, mediaria a conversa entre Koutzii e Ruy Carlos Ostermann - o tema era sobre educação. Restava-me anunciar o fato e proceder o encontro com apenas um palestrante. Então o "Professor", como Ostermann também era conhecido, adiantou-se e driblou o problema a sua maneira.
Em reservado, me disse: o Koutzii é um político, não podemos mostrá-lo como doente, isso poderia prejudicá-lo no futuro. Pegou o microfone e anunciou para a plateia que o palestrante não estaria conosco. Com poucas palavras, sem dizer nada objetivo, apenas com a magia das palavras, fez todos acreditarem que seu colega de mesa fora requisitado para uma tarefa maior alhures. Portanto, para o bem da nação, e do universo como um todo, Koutzii não nos deixara em falta, apenas atuava em outra missão no momento.
Para quem não conhece a política da época, lembro que Ruy também era político - duas vezes deputado estadual -, e eles não rezavam pela mesma cartilha. Seu gesto de proteger a imagem do colega, que em algum momento poderia ser oponente, era genuinamente generoso. Conto o episódio porque ele ilustra quem era o Professor e qual o seu dom: tudo que ele narrava ficava melhor do que a realidade. Quanto à questão política, naquele tempo havia adversários, não inimigos.
No tempo da ditadura, cérebros brilhantes habitavam espaços inesperados, só isso justificava o Professor - filósofo de formação - no jornalismo esportivo, um luxo raro de fruir. Lembro de seus comentários nos pós-jogos do Gauchão, alçando partidas normais a enfrentamentos épicos. Melhor do que ganhar o jogo era ouvir a sua versão do embate.
Sua presença nos programas de rádio emprestava elegância aos seus colegas e a aos seus entrevistados. Com calma, sua fala corrigia os passes errados, devolvendo redondas as colocações quadradas. Se fair play fosse uma pessoa, seria ele.
Neste ano, em junho, Ostermann nos deixou, Não queria terminar o ano sem dizer que ficamos menores e mais tristes sem seus comentários sobre o futebol e a vida. _
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