
Mega-acordo torna tarifaço absurdo ao quadrado
Os protestos do final da semana em várias cidades brasileiras dificilmente terão sobre o PL da Dosimetria o mesmo efeito obtido na tentativa de emplacar a PEC da Blindagem em setembro. O acordo para reduzir penas dos envolvidos em tentativa de golpe de Estado cumpriu a ambição de se parecer com o ensaiado no passado "com Supremo, com tudo". O Senado ainda tenta consertar os maiores problemas do texto aprovado na Câmara, mas votações na madrugada estão à espreita.
Teve até luxuosa participação especial de Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, que retirou boa parte dos efeitos da Lei Magnitsky sobre o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. Existem tantas impressões digitais nessa arquitetura que é difícil nomear todos os seus padrinhos, mas está claro que passou por todos os poderes da República. E isso significa do governo Lula à "feroz" oposição, a maior interessada, passando por quase todas as cores partidárias, com as exceções que confirmam a maioria.
Com anistia envergonhada, cai justificativa
Agora, é impositivo que todos os beneficiados assumam o compromisso de terminar o trabalho, com a retirada da última consequência que afeta empresas e empregos no Brasil: o tarifaço de 50% se tornou ainda mais absurdo agora.
Se a maior alíquota da face da Terra ainda é um problema para o país como um todo, pesa em maior proporção sobre o RS, que sofreu forte queda nas vendas para o mercado americano, mais intensa em cidades específicas.
Se quase todos se deram bem com o mega-acordo, sob o constrangimento de quem acreditava na capacidade de o país aprender com seus erros, não há mais razão para uma parcela relevante da economia seguir pagando uma conta que não é sua. E não existe mais razão para que o Brasil tenha de fazer concessões a Trump.
A justificativa inicial citada na famigerada carta do presidente dos EUA que deu início à cobrança injustificável era o tratamento dado ao ex-presidente Jair Bolsonaro, chamado de "vergonha internacional". Agora, não pode sustentar uma tarifa absurda ao quadrado. _
Com resultado de pesquisa eleitoral e ata do Copom, o dólar subiu 0,73%, para R$ 5,462, e a bolsa tombou 2,4%, para 158 mil pontos. Na consulta, Lula bateu todos os adversários e Tarcísio de Freitas, favorito do mercado, encolheu.
Por que venda da Braskem "agora vai"
O anúncio de acordo entre a atual dona da Braskem, Novonor (ex-Odebrecht), e a gestora IG4 Capital para venda do controle da gigante petroquímica, desta vez, é considerado definitivo. O mercado avalia que a operação está fechada e só depende da conclusão dos processos burocráticos para ser concluída. Isso significa que a maior parte do polo de Triunfo, um dos maiores complexos industriais do Estado, terá novo proprietário até março.
1. O apetite da IG4
Nas tentativas anteriores, os candidatos a compradores eram mais reticentes. Embora tenham feito movimentações de bastidores, não demonstraram com tanta ênfase, por meio de interlocutores, o comprometimento da Novonor - por meio de seu veículo financeiro NSP - com o fechamento definitivo do negócio.
2. A falta de opções da Novonor
A dona da Braskem era a Odebrecht, que consolidou várias operações petroquímicas no país, inclusive no RS, com a compra de unidade de concorrentes. Com a Lava-Jato, a empreiteira da família entrou em recuperação judicial - depois da primeira tentativa fracassada de venda da Braskem - e deu aos bancos credores ações da petroquímica como garantia. A paciência de Itaú Unibanco, Santander, Bradesco, Banco do Brasil e BNDES se esgotou depois do ensaio mais recente de venda, ao empresário Nelson Tanure.
3. A posição da Petrobras
Em nota, a estatal, que tem 36,1% da Braskem, fez o habitual discurso de que vai aguardar a evolução do acerto para decidir sobre seu direito prioritário de compra do controle, estabelecido em acordo de acionistas. Mas antecipou que está "avaliando a celebração de um novo acordo, considerando as tratativas em curso entre Novonor e FIDC" (a compra pela IG4 se dá por meio de um fundo). A atual presidente, Magda Chambriard, já afirmou que deseja mais poder na Braskem, e a futura controladora fala em "cogestão" com a estatal.
4. A crise no segmento
Em condições normais, a Braskem teria condições de não depender de aportes do controlador. Mas a China ampliou muito sua capacidade de produção do mesmo tipo de resinas - base para fabricação de embalagens, peças para carros e até chiclete. No Brasil, há aumento da importação dos EUA, que produz mais barato graças ao gás de xisto (shale gas). Isso tira mercado da gigante petroquímica e provoca níveis de ociosidade muito elevados. A companhia "queima caixa", ou seja, gasta mais do que ganha com a operação.
5. A especialidade da IG4
A IG4 Capital é uma gestora de investimentos criada em 2016. Uma de suas especialidades é chamada de "market dislocations", ou seja, quando o preço do ativo está distante do considerado justo por condições anormais de mercado, como choques econômicos, pânico ou crises de liquidez, caso da Braskem. Um dos fundadores mais conhecidos é Paulo Mattos, que foi diretor-geral da GP Investimentos e vice-presidente de estratégia de negócios da Oi. _
Decisões da semana definem futuro do acordo UE-Mercosul
Esta semana será decisiva para o futuro do acordo entre Mercosul e União Europeia (UE). Antes de eventual assinatura no próximo sábado, duas votações na Europa são necessárias para um avanço efetivo. A primeira ocorreu ontem: o Parlamento Europeu aprovou mecanismos de salvaguarda para importações agrícolas.
Na prática, dá mais proteção comercial aos produtores europeus. Seria uma tentativa de atrair países contrários a aprovar o acerto, mas não teve o efeito esperado. A votação para validar o tratado está marcada para amanhã, quando o Conselho Europeu dará ou não autorização à Comissão Europeia, espécie de Poder Executivo do bloco, para assinar o pacto. Precisa do aval de pelo menos 15 países que representem 65% da população do bloco. A grande dúvida é sobre a posição da Itália, que pode se aliar à França, que, no último domingo, pediu adiamento. Com apoio de outros países contrários, como Polônia e Hungria, a articulação franco- italiana pode bloquear o acordo. Um adiamento, depois de duas décadas e meia, pode representar o fim das negociações. _
Chance de corte
Ex-diretor de política monetária do Banco Central (BC), Fabio Kanczuk diverge das leituras dominantes de que o Comitê de Política Monetária (Copom) não deu sinais de corte no juro em 28 de janeiro de 2026. Na sua avaliação, comunicado e ata mostram um BC "sem amarras" para começar o esperado ciclo de baixa. Prevê redução de 0,25 ponto percentual em janeiro e de 0,5 p.p. em março, para chegar ao final de 2026 com Selic em 11,5%. O profissional, hoje diretor de macroeconomia do ASA, diz que a adição de um termo mudou o sentido da expressão "período bastante prolongado":
- Em reunião pública, o presidente do BC disse que isso não se refere ao futuro. Como ficou um pouco confuso, no comunicado adicionaram o "em curso". O "bastante prolongado" não é a partir de agora, mas do momento em que o juro começou a subir. _
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