terça-feira, 16 de dezembro de 2025



16 de Dezembro de 2025 
EM FOCO - EM FOCO

Na média, valor pago por itens comuns na celebração deste ano ficou estável, mas carnes e oleaginosas tiveram alta, enquanto batata e arroz ficaram mais baratos, aponta pesquisa. Consumidores buscam as melhores opções disponíveis e não descartam fazer substituições de mercadorias

Driblando os preços altos para garantir a ceia de Natal

Todos os anos, a porto-alegrense Luciana Oliveira, 47 anos, segue o mesmo ritual: logo após os primeiros dias de dezembro, começa a peregrinação a diferentes pontos de compra da cidade em busca dos itens que formarão sua ceia de Natal. Nessa rotina, Luciana percebe e busca driblar as variações nos preços dos ingredientes.

Conforme levantamento realizado em Porto Alegre pelo Núcleo de Pesquisa Econômica Aplicada do Instituto de Estudos e Pesquisas Econômicas (Iepe) da UFRGS com produtos comuns na ceia, a variação média do preço do conjunto de produtos em 2025, em relação ao ano passado, cresceu 0,20%. Embora na média tenha havido certa estabilidade, do grupo de 42 itens pesquisados, 20 apresentaram elevação nos preços, com altas que vão de 3,52% a 40,70%.

- Nos últimos anos, a ceia tem ficado cada vez mais cara. Lá em casa, já trocamos o peru pelo chester, e neste ano talvez a gente escolha alguma ave ainda mais barata. Nozes, castanhas e frutas cristalizadas, que a gente gosta, também estão com preços bem altos - queixa-se Luciana, que na sexta-feira fazia compras no Mercado Público de Porto Alegre.

Os preços das carnes típicas do período subiram, em comparação com o ano passado, mostrou a pesquisa do Iepe. O peru, um dos itens mais consumidos nas ceias, teve elevação média de 7,20%. Bacalhau (4,66%), chester (7,09%), pernil (8,99%), tender (16,26%) e lombo de porco (17,93%) também registraram alta nos preços.

As oleaginosas, de forma geral, estão entre os itens que apresentaram maior elevação de preço neste ano em relação a 2024 na Capital. O produto que registrou maior crescimento foi a castanha-do-pará, com 40,70%, seguida pelas nozes, com 31,63%.

- As oleaginosas, como a castanha-do-pará, foram muito impactadas neste ano pela questão climática, já que secas no norte do país causaram a maior quebra de safra na produção dos últimos 20 anos. Como alternativa, é possível olhar para produtos que tiveram queda nos preços, como a ameixa seca (-9,01%) ou mesmo a azeitona (-8,14%) - aponta o economista Raphael Castro Martins, um dos membros da equipe do Iepe que realiza o estudo.

"Patamar elevado"

A pouca variação média de preços entre o fim de 2024 e este ano não significa que o consumidor não esteja encontrando dificuldades para comprar os itens da ceia. A estabilidade deste ano é precedida de seguidas elevações substanciais.

A média de preço dos itens, segundo a mesma pesquisa do Iepe, teve, em 2024, o crescimento em relação ao ano anterior de 6,56%. Em 2023, foi de 10,75%; em 2022, 16,85%; e em 2021, 13,74%.

- O comportamento do preço dos alimentos no domicílio foi muito positivo neste ano, inclusive foi o que mais ajudou a inflação nacional a ficar no intervalo da meta. Mas este é um fenômeno de 2025, já que nos últimos anos, principalmente desde a pandemia, o crescimento tem sido constante. Segundo os dados do IBGE, de janeiro de 2020 a novembro de 2025, a inflação dos alimentos a domicílio subiu 57%, enquanto a média do IPCA foi de 38%. A estabilização dos preços médios ocorreu neste ano, mas em um patamar que já estava elevado - explica o economista André Braz, coordenador do Índice de Preços ao Consumidor do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre).

"Salário não sobe junto"

Essa estabilização em patamar elevado é sentida pelos consumidores da Capital. Andréa Barcellos, 46 anos, moradora da Lomba do Pinheiro, vai trocar alguns itens da ceia deste ano que estão com preços mais altos.

- Os preços sobem, mas o nosso salário não sobe junto. Neste ano, algumas frutas que compramos para compor a ceia, como cereja e romã, estão muito mais caras do que ano passado, então vamos comprar mais uvas - ressalta Andréa.

Os preços da cereja e da romã de fato subiram neste ano, com altas de 22,01% e 12,81%, respectivamente. Já a uva recuou 5,86% no preço médio.

- Quando você fala com o consumidor, ele sente os preços pressionados, sim, por causa dessa sequência de crescimento inflacionário dos últimos anos. Se a inflação dos alimentos no domicílio subiu 57% e o IPCA 38% desde janeiro de 2020, e se o salário é corrigido com base no IPCA, há uma diferença de 19 pontos percentuais no período - reforça Braz. 

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