10
de novembro de 2013 | N° 17610
PAULO
SANT’ANA
A fumaça afrodisíaca
Por
que fumo? Se já consegui um câncer na rinofaringe pelo cigarro e ando atrás de
outro tumor, por que insisto em fumar?
Andei
cismando sobre isso esses dias. E descobri a causa do meu furor tabagista.
Todos
nós temos ansiedades. Uma delas que possuo é a de sempre estar fazendo alguma
coisa enquanto estou acordado.
Mesmo
não tendo nada para fazer, tenho de ocupar minhas mãos, minha boca, meu ser e
corpo em suma, com alguma coisa.
E
como é ridículo eu matar minha ansiedade da forma com que muitas senhoras o
fazem, pelo tricô, então descobri que fumar era o melhor estratagema que eu
tinha para vencer minha ansiedade.
Por
isso é que fumo, só fui descobrir agora isso.
Há um
poeta gaúcho, se não me engano se chamava Gevaldino Ferreira, que explicou um
dia por que fumava:
O
poeta olhou, sorriu, foi respondendo:
– Ah,
se tu visses o que estou vendo
Talvez
fumasses mais do que fumei
Nessa
fumaça que se vai espalhando
Eu
vejo pouco a pouco se formando
A
imagem da mulher que mais amei.
Cada
um tem um motivo para explicar o seu tabagismo. Quase sempre psicológico.
Há uns
que fumam charutos, outros que fumam cigarros de palha recheados de fumo em
rama e até alguns, mais poéticos no gesto, que fumam cachimbo.
O
ato de fumar é um drible num dos dramas do ser humano: ter de esperar por
alguma coisa, ter de ver passar o tempo. Até há
um famoso tango que diz no seu título: Fumando espero/ aquela que mais quero.
Nesses
50 anos em que fumo, percorri uma longa relação de marcas de cigarros, desde as
mais antigas: Tufuma, Arizona, Belmonte, Liberty Ovais (eram oblongos e de
forma ovalada), Minister, Hollywood, Charm (a que fumo atualmente), Continental
(a marca mais popular em um século), Negritos e tantas e tantas outras.
A fábrica
mais famosa até hoje foi a Souza Cruz, havendo também a Santa Cruz.
E,
apesar de comprovadamente o cigarro provocar diversos tipos de cânceres, até hoje
nenhum médico, nenhum político ou governante ou legislador conseguiu
incrivelmente proibi-lo.
Conta
uma lenda que é o poder financeiro dos fabricantes que sustém essa barra tanto
sinistra quanto deliciosa.
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