sábado, 9 de novembro de 2013


10 de novembro de 2013 | N° 17610
PAULO SANT’ANA

A fumaça afrodisíaca

Por que fumo? Se já consegui um câncer na rinofaringe pelo cigarro e ando atrás de outro tumor, por que insisto em fumar?

Andei cismando sobre isso esses dias. E descobri a causa do meu furor tabagista.

Todos nós temos ansiedades. Uma delas que possuo é a de sempre estar fazendo alguma coisa enquanto estou acordado.

Mesmo não tendo nada para fazer, tenho de ocupar minhas mãos, minha boca, meu ser e corpo em suma, com alguma coisa.

E como é ridículo eu matar minha ansiedade da forma com que muitas senhoras o fazem, pelo tricô, então descobri que fumar era o melhor estratagema que eu tinha para vencer minha ansiedade.

Por isso é que fumo, só fui descobrir agora isso.

Há um poeta gaúcho, se não me engano se chamava Gevaldino Ferreira, que explicou um dia por que fumava:

O poeta olhou, sorriu, foi respondendo:

– Ah, se tu visses o que estou vendo

Talvez fumasses mais do que fumei

Nessa fumaça que se vai espalhando

Eu vejo pouco a pouco se formando

A imagem da mulher que mais amei.

Cada um tem um motivo para explicar o seu tabagismo. Quase sempre psicológico.

Há uns que fumam charutos, outros que fumam cigarros de palha recheados de fumo em rama e até alguns, mais poéticos no gesto, que fumam cachimbo.

O ato de fumar é um drible num dos dramas do ser humano: ter de esperar por alguma coisa, ter de ver passar o tempo. Até há um famoso tango que diz no seu título: Fumando espero/ aquela que mais quero.

Nesses 50 anos em que fumo, percorri uma longa relação de marcas de cigarros, desde as mais antigas: Tufuma, Arizona, Belmonte, Liberty Ovais (eram oblongos e de forma ovalada), Minister, Hollywood, Charm (a que fumo atualmente), Continental (a marca mais popular em um século), Negritos e tantas e tantas outras.

A fábrica mais famosa até hoje foi a Souza Cruz, havendo também a Santa Cruz.

E, apesar de comprovadamente o cigarro provocar diversos tipos de cânceres, até hoje nenhum médico, nenhum político ou governante ou legislador conseguiu incrivelmente proibi-lo.


Conta uma lenda que é o poder financeiro dos fabricantes que sustém essa barra tanto sinistra quanto deliciosa.

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