Letras gregas
Cada vez que surge uma nova variante do coronavírus, o pavor volta, as bolsas de valores desabam e a gente fica pensando que este suplício feito de mortes, máscaras e mutações não vai acabar nunca. Mas vai. A terrível Gripe Espanhola, que levou entre 50 milhões e 100 milhões de vidas humanas por volta de 1918, terminou um dia - ou talvez tenha se diluído nas gripezinhas controláveis que nos acompanham até hoje. Alguns cientistas acreditam que foram exatamente as modificações do vírus que o tornaram menos letal, provocando o fim da pandemia. Como sou um otimista delirante, estou torcendo para que essa tal Ômicron já seja o ponto de virada.
Batizar as novas linhagens do vírus com letras gregas foi o recurso encontrado pela Organização Mundial da Saúde para evitar a estigmatização e a discriminação das regiões onde elas foram identificadas. Vale lembrar que no início da pandemia pessoas de origem asiática chegaram a ser agredidas quando, por-má fé ou ignorância, alguns políticos e seus fanáticos seguidores insistiam em dizer que o vírus era chinês. A própria Gripe Espanhola, que passou à história com essa denominação, sequer surgiu na Espanha. Porém, como alertou Sartre, continuamos achando que o inferno são os outros.
Se seguisse a ordem do alfabeto grego, que tem 24 letras, a OMS teria dado à nova cepa do vírus o nome de Nu ou Xi, que sucedem às denominações atribuídas a 12 outras variantes. Algumas delas se tornaram tristemente célebres, como a Delta, outras sequer ganharam notoriedade. Mas a entidade resolveu pular para a 15ª letra porque Nu poderia ser confundida com novo e Xi é um sobrenome comum em muitos países.
Caso seja retomada a ordem alfabética, a próxima mutação receberá o nome da letra Pi, que também identifica a divisão do perímetro pelo diâmetro de um círculo. Confesso que já quebrei a cabeça muitas vezes nas aulas de matemática e nunca entendi bem isso. Sei, porém, que esse número irracional é o mais famoso da história da civilização. Nos Estados Unidos, existe até o Dia Nacional do Pi, que se celebra a 14 de março (3/14 na forma como os norte-americanos registram as datas). O valor de Pi, como todos decoramos, é 3,14 e mais alguns trilhões de casas decimais.
Pode parecer cultura inútil, mas não deixa de ser uma letra emblemática para mostrar que nossa crença na vida também é quase infinita.
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