terça-feira, 7 de dezembro de 2021


07 DE DEZEMBRO DE 2021
+ ECONOMIA

Poucos carros, e risco de menos ainda

Com perda na produção de cerca de 255 mil carros no Brasil para atender ao mercado doméstico, metade das montadoras do país enfrenta outro problema: podem ficar com unidades quase prontas incompletas para sempre. Presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Luiz Carlos Moraes afirmou ontem que uma mudança de regras no setor, associada à falta de semicondutores, pode provocar a impossibilidade de terminar a montagem.

A coluna explica: o Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores (Proconve) prevê que, a partir de 1º de janeiro de 2022, não podem mais ser fabricados carros classificados como L6. Só serão admitidos os que seguirem as exigências da categoria L7, que impõe limite mais rígido de emissão e permite maior economia de combustível.

Os feitos até 31 de dezembro de 2021 podem ser vendidos até 31 de março de 2022, mas é proibido produzir depois do final deste ano. Segundo Moraes, com crise dos semicondutores, muitos carros esperem apenas módulos ou sistemas que dependem desse fornecimento:

- Quem não terminou até dezembro não poderá mais completar aquele veículo.

O número dos que podem ficar incompleto só é conhecido em cada montadora. A Anfavea pede aumento de prazo. Sem detalhar, Moraes disse que a intenção é obter autorização especial:

- Não queremos rever o Proconve, só mostrar o problema para que o governo entenda. Cada empresa já levou a situação.

Conforme a Anfavea, em 2022 a falta de semicondutores deve diminuir, mas se estabiliza só em 2023. A estimativa do Boston Consulting Group (BCG) é de que 10 milhões de veículos tenham deixado de ser produzidos em 2021 em todo o mundo, mas em 2022 esse número deve cair à metade. Na pandemia, a indústria automobilística parou, e os chips que usava foram absorvidos por jogos, eletroeletrônicos e computadores. Agora, é preciso esperar ampliação de capacidade, de um a dois anos.

Diante desse quadro, a coluna quis saber se a crise pôs em xeque o sistema "just in time" (entrega de peças e partes só no momento de uso na linha de produção). Moraes admitiu e brincou, dizendo que, agora, deve prevalecer o "just in case" (algo como "por via das dúvidas"). Mas também falou muito sério:

- Diante da fragilidade do sistema global de logística, é provável que esse sistema seja revisitado. Outra discussão crescente é sobre ter mais conteúdo local, para não ficar na dependência das cadeias globais.

E completou:

- A indústria de semicon­dutores é estratégica. Não podemos ficar tão dependentes da Ásia. O Brasil precisa de indústria robusta de semicondutores. Não para resolver a crise de momento, mas no longo prazo. O consumo de semicondutores só vai crescer, inclusive com o 5G. Hoje, um carro usa cerca de mil chips, os elétricos e híbridos usarão 2 mil. Estamos tentando sensibilizar o governo a puxar essa indústria, porque é estratégica do ponto de vista geopolítico. Gera nível de trabalho muito qualificado, exige muita pesquisa e desenvolvimento. Defendemos que o Brasil precisa de uma indústria de semicondutores. Política industrial não é pecado.

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