10 de dezembro de 2013 | N° 17640
FABRÍCIO CARPINEJAR
Vamos
brincar de gangorra, meu amor?
Quando um está mal, o outro deve estar bem. Quando um está
irritado, o outro deve ser paciente. Quando um está cansado, o outro deve
encontrar disposição. Quando um adoece, o outro deve mostrar saúde.
Quando um se envaidece de razão, o outro deve ser humilde no
cuidado. No casal, as fraquezas não podem convergir. Não podem ocorrer
simultaneamente.
Se vê que sua parceira explodiu, escolha um momento distinto
para desabafar e reclamar. Recue de sua catarse. Deixe para o dia seguinte. Ela
nem irá ouvi-lo no acesso de cólera.
Quando os dois decidem ser a parte mais fraca do
relacionamento, os laços sucumbem.
Não podem ocupar o mesmo papel, o mesmo script. Só há vaga
para um protagonista em cada crise. Alguém terá que ser coadjuvante. Dois
vilões no mesmo filme geram divórcio.
A alternância é o segredo da convivência. Mudar de lugar
sempre, analisar quem mais precisa e ceder se for necessário. O que traz
estabilidade é a gangorra: quando a mulher cai, o homem estende o braço, quando
o homem vacila, a mulher acode.
A separação acontece quando duas chagas conversam procurando
mostrar qual é a mais funda. É quando duas feridas travam uma guerra buscando
sangrar mais, e nenhum dos lados estanca a própria carência.
O sofrimento acentua o orgulho, a dor agrava a cegueira, a
ansiedade de resolver logo a discordância apenas abre a porta para o fim.
É uma disputa do desespero, e o casal se afoga nas mágoas.
Não haverá sequer um salva-vidas acordado.
Ainda que sobre paixão, ainda que reste confiança, nada
segura o momento em que os dois coincidem em enlouquecer. A loucura exige troca
de plantão.
O casal é capaz de destruir uma história linda e promissora
por uma noite de fúria.
A esposa e o marido se transformam em crianças, e crianças
abandonadas em casa berrando e com medo. Tentarão gritar alto para chamar os
vizinhos e denunciar os maus-tratos. E vão se indispor e se ofender tanto, e
vão se provocar e se agredir tanto, que depois é difícil cicatrizar.
Um tem que ser adulto na hora do pânico. Um tem que ser
responsável. Um tem que ser forte o suficiente para preservar as fraquezas do
amor.
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