08
de dezembro de 2013 | N° 17638
O
CÓDIGO DAVID | DAVID COIMBRA
MORRER ENVENENADO DE
AMOR
Vi
que o Antônio Fagundes está sendo envenenado paulatinamente por sua jovem e
faiscante esposa na novela das 9. Se entendi bem, ele é um médico rico de uns
65 ou 70 anos, e ela uma bela arrivista de vinte e poucos. Clássico.
Imagino
que, quando o Antônio Fagundes descobrir a trama, preferirá a morte por
envenenamento à desilusão – a menina vive repetindo que o ama, que quer cuidar
dele para sempre e bibibi.
Nós
homens somos muito frágeis emocionalmente. As mulheres, umas rochas.
Eu,
será que me deixaria engambelar a ponto de ser envenenado até a morte pela
mulher que amo? Suponho que sim. Já fiz papel de trouxa com mulheres. Agora,
nunca, nunca, NUNCA uma mulher, ou um homem, me dominou a ponto de me convencer
a fazer algo que achasse errado fazer. Na novela, o Antônio Fagundes brigou com
a filha por causa da mulher.
Comigo
isso jamais ocorreria. Ficaria sem a mulher, sofreria, talvez rastejasse feito
o verme que sou, mas não brigaria com meu filho. Se eu fosse um médico rico de
70 anos e uma coisinha de 25 se chegasse, o Bernardo não correria nenhum risco,
portanto. É um orgulho mínimo, sei, mas, bem, cada qual com suas valências.
Lívia
Isso
de envenenar um homem lentamente, isso é muito feminino. Há historiadores que
dizem que Lívia arrastou seu filho Tibério ao trono do Império Romano lavando o
caminho com veneno. Foi matando os postulantes, até chegar ao próprio marido, o
grande César Augusto.
Augusto
não era bobo como eu e o Fagundes, desconfiou que a mulher estava
mal-intencionada e passou a alimentar-se apenas com os figos que cresciam nas
figueiras dos jardins do palácio. Então, Lívia, à sorrelfa, borrifava os figos
com veneno de madrugada. Augusto os comeu. E morreu.
Lucrécia
Uma
envenenadora famosa que gostaria de ter conhecido era Lucrécia Borgia, tão
linda quanto pérfida. O veneno que mais apreciava era a Cantarella, um pozinho
branco que guardava no compartimento secreto de um de seus anéis. Quando ia
servir vinho a um conviva especial, ela, disfarçadamente, acionava o mecanismo
que abria o tampo do anel e despejava Cantarella na taça. Alguns goles depois,
a vítima estava espumando pela boca e se debatendo em dores abissais no piso do
palácio papal, que Lucrécia era filha do papa, por isso podia matar sem medo de
ir para o inferno.
Toffana
Um
veneno célebre foi a Acqua-Toffana, inventado na Renascença por uma italiana
chamada, exatamente, Toffana. Stendhal era fascinado por essa poção. Escreveu a
respeito. Tratava-se de um líquido incolor, insípido e inodoro. Uma aguinha.
Que matava. Uma gota por semana liquidava a pessoa em dois anos, sem erro. Se
alguma doença sobreviesse à vítima nesse período, ela morreria.
Os
pios padres da Inquisição tentaram de todas as maneiras descobrir a fórmula da
Acqua-Toffana. Para tanto, valeram-se dos seus tradicionais métodos de
investigação: prenderam quatro mulheres chamadas Toffana, uma delas uma senhora
de 80 anos que estava confinada em um convento. Torturaram-nas. Executaram-nas.
Nenhuma confessou coisa alguma. A Acqua-Toffana permanece um mistério. Seria o
veneno ideal para ser usado em mim ou no Fagundes.
As
venenosas
Mas
o meu veneno predileto, imbatível, sen-sa-cio-nal é um relatado por uma
antiquíssima lenda egípcia. O seguinte: os faraós selecionavam algumas das
meninas mais lindas de seu reino e as criavam administrando-lhes doses diárias
de veneno. Começavam com um tantinho e iam aumentando a porção.
Até
que, ao chegar à flor exuberante da juventude, essas mulheres estavam tão
resistentes quanto tóxicas. Então, o faraó enviava uma dessas beldades de
presente a um desafeto qualquer, para que a tomasse como concubina. O homem,
vendo toda aquela beleza, não suspeitava do presente de grego do faraó egípcio.
Deitava-se com a mulher. E morria envenenado de amor.
Não
deve ser verdade, mas é belo. E também é cheio de significações. lado a lado
num banheiro? Me imaginei de pijama amarrotado, e você de camisola de flanela.
Quando
você entrou no bar, tive uma visão: você de camisola de flanela.
—
Mas tudo isso só vem depois de muitos anos de casados.
—
Claro. — E de sexo. — Bom, se você
quiser pensar assim...Mas o sexo seria apenas uma etapa.
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