10
de novembro de 2013 | N° 17610
MARTHA
MEDEIROS
A juventude da maturidade
Foi
só ela ouvir o cumprimento e virou o rosto como se estivesse sendo agredida. “Não
repita isso de novo. Não sei o que há de feliz em ficar mais velha”.
Respondi:
“Você diz isso porque está fazendo 34 anos. Quando fizer 52, vai sentir vontade
de pendurar balões pela casa”.
Ela
desvirou o rosto e voltou a me encarar como se eu estivesse tendo algum surto
de insanidade. Exatamente como aquelas expressões que ilustram a coluna da
Mariana Kalil aqui no Donna, com um baloon escrito “HÃ?”.
Só quem
atravessa ao menos cinco décadas de vida pode entender a bênção que é entrar na
segunda juventude.
Claro
que antes é preciso passar pelo purgatório. Poucos chegam aos 50 anos sem fazer
uma profunda reflexão sobre a finitude, e dá um frio na barriga, claro. Amedronta
principalmente quem ainda não fez nem metade do que gostaria de já ter feito a
essa altura. Será que vai dar tempo?
Passado
o susto, a resposta: vai. E se não der, não tem problema. Você não precisa
morrer colecionando vontades não realizadas. Troque de vontades e siga em
frente sem ruminar arrependimentos. Você finalmente atingiu o apogeu da sua
juventude: é livre como nunca foi antes.
Sendo
assim, não passe mais nem um dia ao lado de alguém que lhe esnoba, lhe provoca
ou que não se importa com seus sentimentos. Pare de inventar razões para manter
seus infortúnios, você já fez sacrifícios suficientes, agora se permita um
caminho mais fácil. Se ainda dá trela a fantasmas, se ainda pensa em vingançazinhas
ordinárias, se ainda não perdoou seus pais e seu passado, se ainda perde tempo
com vaidades e ambições desmedidas, se ainda está preocupado com o que os
outros pensam sobre você, está pedindo: logo, logo vai virar um caco.
Para
alcançar e merecer a segunda juventude, é preciso se desapegar de todas aquelas
preocupações que existiam na primeira. Quando essa Juventude Parte 2 terminar,
não virá a Juventude Parte 3, mas o fim. Então, esta é a última e deliciosa
oportunidade de abandonar os rancores, não perder mais tempo com besteiras e
dar adeus à arrogância, à petulância, à agressividade, ou seja, adeus às armas,
aquelas que você usava para se defender contra inimigos imaginários. Agora
ninguém mais lhe ataca, só o tempo – em vez de brigar contra ele, alie-se a
ele, tome o tempo todo para si.
Eu
sei que você teve problemas, e talvez ainda tenha – muitos. Eu também tive,
talvez não tão graves, depende da perspectiva que se olha. Mas isso não pode
nos impedir a graça de sermos joviais como nunca fomos antes. Lembra quando você
dizia que só gostaria de voltar à adolescência se pudesse ter a cabeça que tem
hoje? Praticamente está acontecendo.
Essa
é a diferença que tem que ser comemorada. Na primeira juventude, tudo vai
acontecer. Na segunda, está acontecendo.
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