10
de novembro de 2013 | N° 17610 VERISSIMO
As
aventuras da família Brasil
Ciúmes
Lilian
desconfiou que Arthur iria deixá-la. Que seu amor por ela estava acabando. O
Arthur nem a chamava mais de Lili! Lilian decidiu que a solução era provocar ciúmes
em Arthur. Como? Comprou um buquê de flores, escreveu num cartãozinho Lilian: me
diga quando..., assinou depois de pensar muito num bom nome para amante Renê e
mandou entregarem o buquê com o cartãozinho no seu próprio endereço.
Deu
certo. Foi o Arthur quem recebeu as flores na porta. Disse:
— Flores
para você. Lilian, fingindo surpresa: — Flores?
Para mim?
— E
um cartãozinho. — Um cartãozinho?
— Posso
abrir?— Não! Deixa que eu...
Mas
Arthur já estava lendo o cartãozinho.
— Muito
bem. Quem é Renê?
— René?
— “Lilian, diga quando”. Assinado, Renê.
— Eu
não tenho a menor...— “Diga quando” o que? Hein? Hein? E quem é esse
— Renê?
— Eu...
O
tapa foi tão forte que Lilian caiu de costas no sofá. Quando se ergueu, estava
sorrindo. O Arthur sentia ciúmes. O Arthur ainda a amava, afinal. O Arthur
ainda a amava! Paft. Novo tapa.
Do
sofá, eufórica, Lilian gritou: — É uma brincadeira! Fui eu que mandei as flores.
Fui eu que escrevi o...
Não
pode terminar porque o Arthur começou a sufocá-la com uma almofada do sofá.
É preciso
explicar que Lilian não só vivia com Arthur há apenas seis meses, tempo
insuficiente para se conhecer uma pessoa, como não entendia a raça dos homens. Homem
não tem ciúmes porque ama.
Ciúmes
não é uma questão entre o homem e a pessoa que ama. Ou é, mas a pessoa que ele
ama é ele mesmo. Ciúmes é sempre entre o homem e ele mesmo.
— Quem
é esse Renê? Hein? Hein?
Súbito,
o Arthur parou de sufocá-la com a almofada. Levantou-se.
Tinha
se dado conta de uma coisa. Disse:
— Eu
sei quem é esse Renê. Eu conheço esse Renê!
A
Lilian ainda tentou chamá-lo de volta. — Não existe nenhum Renê! Fui eu que
inventei!
Mas
o Arthur já tinha saído de casa, depois de passar no quarto e pegar o revólver
da gaveta da mesinha de cabeceira.
Lilian
passou o resto do dia rondando pela casa, nervosíssima. Quando ouviu o ruído da
chave na fechadura, correu para a porta. O Arthur entrou sem olhar para ela.
— Onde
você estava? O que aconteceu?
Arthur
não respondeu. Foi para o quarto trocar de roupa. Lilian foi atrás. Havia
respingo de sangue na camisa do Arthur. O tiro fora de perto. Ele não trouxera
o revólver de volta. Provavelmente o jogara em algum matagal. Lilian:
— O
Renê do cartãozinho...Arthur tapou a sua boca com a mão. Disse:
— Não
se fala mais nesse nome nesta casa. Nunca mais. Está ouvindo?
E
depois: — Esse aprendeu a não se meter com a mulher dos outros.
Naquela
noite, nenhum dos dois dormiu. Lilian pensando “Renê, Renê... Quem é que eu
conheço com esse nome? Quem é esse Renê, meu Deus? Ou quem era?”
De
madrugada, amaram-se loucamente. O Arthur dizendo:
— Viu
o que eu faço por você? Viu?
Era
a primeira vez que se amavam assim em pelo menos três meses. Ele até a chamou
outra vez de Lili.
Durante
dias, Lilian procurou nos jornais uma notícia sobre a morte de Renê. Nada no
noticiário policial. Nenhum registro de desaparecimento. Nada nos avisos fúnebres.
Quem seria aquele Renê?
No
fim de mais seis meses, Artur anunciou que iria deixar Lilian.
— Não
vai não – disse Lilian.
E
disse que no momento em que ele saísse pela porta, ela telefonaria para a polícia.
A polícia gostaria de saber do fim de um certo Renê...
— Você
faria isso, Lili?
— Experimenta.
— Arthur ficou.
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