sábado, 8 de junho de 2013


08 de junho de 2013 | N° 17456
NILSON SOUZA

Leitores de Atena

Um dos meus 17 leitores me pede que faça uma seleção destes textos sabatinos e os publique em livro. Digo que vou pensar no assunto, mas apenas por delicadeza. Já pensei e dispensei este pensamento há muito tempo.

Tenho consciência de que escrevo mensagens efêmeras, impróprias para sobreviver por muito tempo no cativeiro de uma estante. Sou rato de jornal. Antigamente se dizia que nada era tão velho quanto o jornal de ontem. Agora, na era digital, nada é tão velho quanto o jornal de hoje – se estivermos falando da plataforma de papel, é claro. Livro, no meu modo de ver, sempre foi um invólucro para textos eternos.

Mas isso também está mudando. Perguntei outro dia ao dono de uma editora como está se comportando o mercado de livros em meio ao turbilhão tecnológico que nos assola. Sua resposta foi desconcertante:

– As pessoas estão lendo cada vez menos e escrevendo cada vez mais.

Quando pedi para ele desenvolver a tese, me explicou que os novos equipamentos de leitura e escrita não apenas absorvem a atenção dos leitores como também os estimulam a registrar seus pensamentos. Como ficou mais fácil e relativamente mais barato publicar um livro, pois é possível fazer uma edição de meia dúzia de exemplares, os autores se multiplicam a cada minuto.

Pesquisa da Câmara Brasileira do Livro indica que a produção anual no país é de 500 milhões de exemplares. Quem lê tanta escrita? – perguntaria Caetano Veloso.

– Minha sobrinha! – eu ousaria responder, pensando na adolescente que recém completou 15 anos e que gasta horas de sua juventude folheando páginas.

Não foi difícil escolher um presente para ela: 15 livros selecionados entre os mais cotados da literatura infantojuvenil. Fui fazer o meu rancho de letrinhas na livraria de um dos shoppings da Capital e tive uma grande surpresa: estava lotada de adolescentes. Estranhei aquela reunião de meninos e meninas com livros numa das mãos e uma espécie de espada de madeira na outra, todos agitados, conversando alto e celebrando alguma coisa. A vendedora me explicou:

– É o fã-clube da série Percy Jackson, eles estão aí por causa do livro A Marca de Atena, recém lançado.

Bom para o americano Rick Riordan, que lecionava História em escolas públicas do Texas e descobriu um filão ao gosto do público adolescente. Ele misturou mitologia com histórias da vida real e criou o seu próprio Harry Potter. Vende adoidado, prova de que a garotada da geração digital ainda lê o que lhe interessa e emociona na velha plataforma de papel.


Que Atena os proteja.

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