quinta-feira, 7 de abril de 2022


07 DE ABRIL DE 2022
ZÉ VICTOR CASTIEL

Ainda longe do bom senso

O Brasil tem se notabilizado pela intransigência. A política é, sem dúvida, o estopim dessa falta de paciência coletiva - quem não pensa exatamente como queremos se transforma em inimigo mortal. Nem falo da discussão pouco inteligente entre "direita" e "esquerda", até porque 90% das pessoas que se dizem de um lado ou de outro não têm a menor noção do significado ou das implicações dessas filosofias políticas.

Quase tudo por aqui - e não é de hoje - foge um pouco do bom senso. Tim Maia cunhou uma frase jocosa, antológica e que reflete, com a peculiar irreverência do já falecido ícone da música, a incoerência que, apesar de exacerbada hoje em dia, sempre esteve presente nas atitudes do povo brasileiro. Disse ele: "O Brasil é o único lugar do mundo onde p*** goza, cafetão sente ciúmes e traficante se vicia".

Tim Maia quis apenas demonstrar a falta de coerência com que as pessoas se comportam aqui. Existem atitudes muito menos jocosas, mas que nos enchem de incredulidade. É no Brasil que o ex-presidente negro da conceituada Fundação Palmares profere a frase "Chora, negrada vitimista". Isso me lembrou o negro racista, odioso personagem de Samuel L. Jackson no filme Django Livre, de Quentin Tarantino.

É no Brasil que existem pobres que fazem manifestações a favor do governo e chamam seus oponentes de "mortadelas". É aqui mesmo, no nosso país, que se vê mulheres aplaudindo manifestações machistas e homossexuais apoiando aqueles que os discriminam. É aqui que pessoas que tiveram entes queridos levados pela covid-19 insistem em negar a ciência e dizer que vacina é coisa de "esquerdopata" e que o uso da máscara é coisa de gente burra.

Quantas vezes presenciamos retrocessos de pessoas ditas esclarecidas tentando provar por "a" mais "b" que a Terra é plana? É inacreditável ver pessoas que se dizem tementes a Deus ou outras cujos antepassados foram perseguidos, sejam elas de qualquer religião, vibrando com violências cometidas contra índios, nordestinos, pobres e o meio ambiente. Como é ruim ver pessoas que se dizem "de bem" apoiando o armamento desenfreado da população.

O mais incrível é que muitos dos que conseguiram chegar ao fim desta coluna mandarão mensagens desaforadas e encherão a boca para me chamar de comunista, como se soubessem o que é e se sou. Recomendo que parem para pensar em como estamos estabelecendo a cisão irreversível da convivência no Brasil. A busca por fontes de notícia fidedignas e o aprofundamento na história do mundo talvez possa ser uma saída.

ZÉ VICTOR CASTIEL

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