
12 DE JULHO DE 2021
TENDÊNCIA NO PLANETA
ESG, uma sigla que conquista espaço em empresas gaúchas
Companhias são impulsionadas a adotar conjunto de práticas e compromissos com agenda social, de governança e preservação
Sabe aquela mercearia do bairro que oferece a xepa dos legumes para evitar desperdícios? Ou o rótulo da garrafa PET de água mineral que promete retirar a embalagem usada de circulação a cada outra que for consumida? E empresas que adotam procedimentos para a qualidade de vida dos funcionários? Pois é, tudo isso está ligado de maneira espontânea ou planejada com a matriz ESG, uma tendência que tomou conta do mercado e ressignificou a cultura organizacional não só das grandes corporações, mas também dos pequenos negócios ao redor do planeta e no RS (veja exemplos nesta página e na seguinte).
Há pelo menos dois anos essas três letras sinalizam o nível de comprometimento com redução de danos e boas práticas da atividade econômica na busca por desenvolvimento sustentável. O "E" é o ambiente (environment, na sigla em inglês). O "S" representa a preocupação social, e o "G", as diretrizes de governança coorporativa.
De um tempo para cá, esses conceitos aceleram o ritmo de transformação nos modelos de negócios. Agora, além do lucro e dos riscos, é preciso considerar o impacto ambiental e social.
O conceito não é novo. Remete ao início dos anos 2000, ao pacto global da ONU, à criação das organizações de desenvolvimento sustentável e aos 10 princípios da agenda traçada para o tema até 2030. O empurrão que faltava, explica o sócio e diretor da Fundamenta Investimentos, Valter Bianchi Filho, veio em 2018, com uma carta assinada por Larry Fink, o CEO da BlackRock, maior gestora de fundos de investimento do mundo e que tem ativos avaliados em mais de US$ 8,5 trilhões.
No texto, Flint sugeria que não se esperasse mais por governantes capazes de assumir os compromissos ESG. Seria necessário que os próprios detentores de capital fizessem os recursos fluírem de modo natural em direção às empresas com melhores práticas.
- A carta forçou o avanço da pauta. Em 2019, no Brasil, tivemos o incidente de Mariana, em Minas Gerais, envolvendo a Vale, que ampliou a imagem negativa em alguns setores. Empresas de serviços e varejo foram rápidas em capturar a tendência ESG e majorar as estratégias - avalia Bianchi.
O conteúdo do manifesto reverberou no Fórum Econômico de Davos, na Suíça, em 2020. Ricardo Assumpção, CEO da Grape ESG, consultoria especializada no assunto, afirma que, daquele momento em diante, a ficha caiu e o mercado entendeu que "risco climático também é risco financeiro", gera ameaça constante à reputação das companhias e, por consequência, a seus valores de mercado.
Holofote
A pandemia, diz o executivo, lançou mais holofotes sobre a fragilidade do planeta e trouxe relação direta com o aquecimento global. Levantamento da organização britânica Global Justice Now deu números aos fatos e identificou que, entre as cem maiores economias do mundo, 69 são corporações privadas e só 31 governos de países.
- É claro que isso aumenta a responsabilidade das empresas, porque foram evidenciados riscos não financeiros durante a pandemia, que geraram impactos econômicos absurdos não só nos governos. Significa que, sem ESG, haverá dificuldade de crédito e inserção da marca no novo público consumidor formado pela geração Z, mais antenada ao consumo sustentável - resume Assumpção.
Sócio-diretor da construtora Melnick Even, Juliano Melnick é testemunha das transformações. A empresa realizou IPO (oferta inicial de ações) em 2020 e já percebe mudanças no perfil de captação. Segundo o executivo, os principais bancos passaram a classificar o ESG das tomadoras de financiamento e oferecem melhores taxas às que cumprem requisitos ambientais, sociais e de governança.
Outro aspecto, diz Melnick, é que as grandes companhias de construção civil estão no radar de fundos internacionais. A iniciativa Asset Zero, lançada em 2020, reúne os 73 maiores gestores e US$ 32 trilhões em ativos, destinados a fazer a transição para a economia verde e zerar as emissões de gases de efeito estufa até 2050. Hoje, sem critérios mínimos de ESG, é impossível atrair esse tipo de recurso.
Não é o caso da incorporadora gaúcha, que tem no Pontal do Estaleiro o seu marco de atuação responsável. O projeto, com valor geral de vendas (VGV) superior a R$ 300 milhões, localizado na orla do Guaíba, em Porto Alegre, é o primeiro da marca a contar com o selo Aqua-HQE, uma das principais certificações internacionais de construção sustentável.
- Começou lá atrás, quando já praticávamos 80% das exigências. É algo icônico, mas não o início da nossa preocupação com ESG - diz Melnick, ao lembrar da ação "I Love Poa", destinada a recuperar espaços públicos da Capital, em parceria com outras empresas.
O empreendimento prevê torres de escritórios, hotel e centro de eventos. Para alcançar a certificação, é preciso estimar o impacto ambiental ao longo do tempo com base em metodologias bastante rígidas. A partir disso, criam-se mecanismos de mitigação, e aqueles que atingem os parâmetros recebem o selo. O Pontal, por exemplo, terá economia de 47% no consumo de água, redução de 18% na emissão de gás carbônico e 50% na gestão de resíduos.
RAFAEL VIGNA
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