segunda-feira, 12 de julho de 2021


12 DE JULHO DE 2021
OPINIÃO DA RBS

CALMA, BRASIL

Não é de hoje que o tom dos debates políticos alcançou patamares pouco construtivos no Brasil. A radicalização da cena pública contamina a sociedade, seja no nível institucional ou nas relações pessoais. Nos últimos dias, porém, o bate-boca em que se transformou a disputa de narrativas sobre pandemia e sobre a atuação dos poderes ultrapassou qualquer limite de civilidade, empurrando o país para ainda mais perto de um indesejável ponto de conflito.

É inadiável baixar o volume das vozes. Quando o presidente da República chama um ministro do STF de "imbecil", as Forças Armadas reagem publicamente e em tom contundente a críticas agressivas de um parlamentar e um integrante da CPI da Covid afirma que não aceitará "quarteladas", devem todos apelar ao bom senso e aos interesses maiores do Brasil. Divergências são normais e necessárias em um regime democrático. Mas é preciso ter clareza dos limites éticos, legais e cidadãos do embate característico do exercício do poder.

De certa forma, a escalada da violência verbal de homens públicos que deveriam dar exemplo de serenidade foi criando, nos últimos anos, uma espécie de anestesia. Especialmente nas redes sociais, carentes de empatia e de regras, a bravata, o palavrão e o ataque à honra foram sendo naturalizados, a tal ponto que quase nada mais causa choque ou reação. O Brasil tem, na raiz da sua formação, a pluralidade e a tolerância como dois dos alicerces de uma identidade positiva, antes reconhecida em todo o mundo. Fomos perdendo a vivência e a percepção desses atributos, tal qual a rã submetida ao aumento gradual de temperatura perde a sensibilidade do perigo que a ameaça.

Com dedos em riste e intransigência na busca apenas por ter razão, não chegaremos a lugar algum. Não se defende aqui a utópica extinção dos tensionamentos e da oposição de ideias e de visões de mundo. Mas os brasileiros precisam reaprender a discordar sem brigar, a reconhecer que a verdade pode ter mais de uma face, que adversário político não é inimigo e que a boa força não se demonstra com palavrões e ameaças.

Se os homens públicos do país não dão o exemplo que deveriam, que cada um alivie a pressão onde sua influência alcançar. Só assim essa turbulência será atravessada com altivez e dignidade. A sociedade brasileira já deu provas, antes, de capacidade de convivência e de construção. Há instituições sólidas, um sistema democrático confiável e um futuro a construir. Esse deve ser o maior compromisso.

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