sexta-feira, 8 de maio de 2020


08 DE MAIO DE 2020
DIA DAS MÃES

Porque é o amor que aproxima

Em isolamento, famílias se reinventam para celebrar a data, certas de que a distância é menor diante do sentimento que as une.

"Logo estaremos todos juntos", dizia o bilhete que a advogada Daisy Longaray Simas, 68 anos, recebeu em casa, em Caxias do Sul, com seu presente de Dia das Mães. É a primeira vez que vai passar a data longe de Daniela Simas, 44 anos, que mora em Porto Alegre. Em isolamento social, as duas repararam, no começo do mês, que não poderiam dar aquele abraço apertado. Com famílias fisicamente longe, ou perto demais, passando a quarentena sob o mesmo teto, esse tem potencial para ser um segundo domingo de maio como nenhum outro.

- Acho que, em nenhum outro momento, a gente teve a oportunidade de valorizar tanto a presença dos outros quanto agora. É um privilégio de poucos, e, quem tem, deveria aproveitar e valorizar - diz a professora da graduação e pesquisadora do programa de pós em Psicologia Clínica da Unisinos, Tagma Marina Schneider Donelli.

Usar a criatividade e fazer o bom uso da tecnologia são as recomendações da psicóloga:

- A gente tem acesso a recursos para estar junto. Lancem mão dessas tecnologias, usem o WhatsApp, troquem fotos durante o dia.

A funcionária pública federal Clarissa Coutinho Pinto, 43 anos, pretende juntar em uma chamada de vídeo a mãe, a professora aposentada Léa Maria Coutinho Pinto, 70, e os dois filhos, João Francisco, seis, e Luísa, três. Morando em bairros vizinhos ( Rio Branco e Moinhos de Vento), não vão passar a data juntas em razão do isolamento. Léa pertence a um grupo de risco do coronavírus.

- Vai ser emocionante (a ligação), porque ela está com muita saudade das crianças - antecipa Clarissa. - Mesmo distantes, a gente vai estar sempre juntas.

Mãe de três filhos, João Pedro, 20 anos, Miguel, oito, e Clara, de apenas um aninho, a jornalista Daniela Ungaretti, 43 anos, vai passar o Dia das Mães em casa, curtindo a família. O marido, Daniel, e o filho mais velho vão cuidar do almoço.

- É um dia especial pra ser paparicada, né? Vou aproveitar! Mas não vai ser como sempre foi. Além do afeto, há a preocupação, o medo, a ansiedade que envolve tudo isso que a gente está vivendo agora - desabafa a apresentadora do Bom Dia Rio Grande, da RBS TV, cuja mãe faleceu quando a jornalista estava grávida do primeiro filho e a avó mora em Pelotas.

A personal organizer Daniela Simas não nega que doeu um pouco na hora de mandar entregar presente de Dia das Mães, mas tentou não valorizar esse drama. Foi o que aprendeu com a Daisy.

- Se a solução é não se encontrar, tranquilo. Tanto eu quanto ela, não somos de transformar isso em um momento mais difícil do que já é - garante. - E também não é agora, no Dia das Mães, que vou descobrir que ela é tudo pra mim: sei disso há muito tempo.

Daniela encomendou duas aquarelas, feitas especialmente para Daisy. Elas lembram um momento muito especial da família: os verões vividos em Arroio do Sal. Daisy recebeu o presente na porta de casa, na Serra, na quarta-feira de manhã. Adorou. Pretende passar o Dia das Mães com o coração tranquilo e cheio de carinho. Mesmo sem abraçar Daniela e sua caçula Carolina, 40 anos, por ora:

- A gente vai sentir saudade, mas com a certeza de que o amor preenche a vida da gente e de que gente vai poder comemorar junto mais adiante.

Homenagens

Como o que mais tem feito ultimamente é editar vídeos de aulas para os alunos, a professora Darlisa Minervini, 40 anos, teve a ideia de usar esse artifício para homenagear as mães da família. Juntou uma série de fotos das irmãs, dos sobrinhos, sobrinhas-netas e dela mesmo com sua filha de 14 anos e adicionou uma trilha emocionante. Pretende mandar o vídeo no grupo da família no WhatsApp domingo de manhã bem cedo.

Vai ser o segundo ano que Darlisa passa sem sua mãe, falecida em janeiro do ano passado.

- Também é uma homenagem para ela - avisa. Ainda mais em tempos de crise financeira, é interessante investir mais em homenagens do que em bens materiais. Para a psicóloga Tagma, "a gente precisa reinventar o que é o presente".

- E que bom se a gente puder sair dessa experiência melhor, priorizando o que deve ser priorizado, que são as pessoas, as experiências, ainda mais do que as coisas.

JÉSSICA REBECA WEBER

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