12
de dezembro de 2013 | N° 17642
L.F.
VERISSIMO
Inspiradores
Velha
questão: são os líderes providenciais que fazem a História ou é a História que
providencia os líderes necessários? O apartheid resistiria por muito mais tempo
se não existisse o Mandela ou fatalmente acabaria mesmo sem ele? A pergunta
também serve para Gandhi e Martin Luther King, só para ficar em líderes
inspiradores – ou convenientes – recentes.
Mandela
preso transformou-se num símbolo que catalisou a reação internacional ao odioso
sistema sul-africano e motivou o boicote econômico que puniu e finalmente
derrotou o racismo oficial do país, e sua atitude conciliadora depois da prisão
facilitou a transição para uma democracia, pelo menos de fachada. Mais do que
qualquer outra personalidade parecida, Mandela reforçaria a tese de que são os
grandes homens que fazem as grandes mudanças históricas.
E o
corolário inevitável: são os grandes bandidos que enegrecem a História com sua
ambição ou loucura. Outra velha questão: o nazismo foi um surto de
irracionalidade nacional personificada num maluco de bigodinho ou uma
consequência mais ou menos lógica da história europeia até então, uma convulsão
só esperando para acontecer, com ou sem o bigodinho?
Precisamos
de heróis. Precisamos que eles tenham cara, biografia, retórica e martírio.
Gostamos de pensar que os discursos de Luther King apressaram a dessegregação
racial nos Estados Unidos, que a rebeldia de Ghandi correu com os ingleses da
Índia e que foi o sacrifício de Mandela que acabou com o apartheid.
E se
isto não for verdade, se concluirmos que eles foram heróis de ocasião e as
mudanças aconteceriam mesmo sem sua inspiração, resta o exemplo de coragem que
legam. Não a nada tão grandiloquente quanto a história das nações, mas,
pessoalmente, a cada um de nós.
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