06 de dezembro de 2013 | N° 17636
DAVID COIMBRA
Tudo
ficou diferente
As manifestações de junho ocorreram para que tudo se
tornasse diferente. Lembro de um cartaz que uma menina carregava com orgulho
sorridente:
“Desculpem o transtorno, estamos mudando o Brasil”.
Como se viu, o Brasil mudou. Tudo é diferente agora. Como tudo
ficou diferente depois que Collor foi derrubado, depois que um intelectual de
esquerda foi eleito presidente e, depois dele, um operário da indústria e,
depois dele, uma mulher.
Está tudo diferente, não é? Depois de junho, criaram-se aí
uns grupos que tocam fogo no McDonald’s. Eles preferem xis galinha.
Eu, que não sou muito de xis nem de McDonald’s, fico
pensando em todos esses movimentos que fizeram o Brasil estremecer de civismo e
suspirar de esperança. O que mudou mesmo? Há mais liberdades individuais e a
democracia está consolidada. Importante. Mas... o que mudou no dia a dia, na
vida real das pessoas?
Sempre estudei em colégios públicos. Ótimos colégios
públicos. Minha faculdade, quitei-a de uma única vez, um ano e meio após a
formatura. Era o antigo Crédito Educativo. Foi o governo militar quem instituiu
aquele crédito educativo, mas não foi o governo militar quem financiou meus
estudos; foi o Estado brasileiro.
Por coincidência, o Estado brasileiro, hoje, é gerido de
forma muito parecida com a gestão do governo militar: é um Estado
desenvolvimentista, que usa programas para atenuar os problemas sociais. Eu
ganhei uma bolsa, as pessoas hoje ganham bolsas. Mas o programa que me
beneficiou não existe mais. Aquele modelo de crédito educativo foi extinto.
Essa é a fragilidade dos programas: com a facilidade com que são criados, são
eliminados. Já o modelo desenvolvimentista serve para a prosperidade econômica,
não exatamente para o bem-estar das pessoas. Se servisse, não haveria
protestos, e os McDonald’s estariam a salvo com seus sanduíches.
O que dá uma pista a respeito das razões de o Brasil nunca
se tornar, realmente, diferente: as mudanças não são estruturais. Aquelas
escolas em que estudei, as escolas públicas de um passado nem tão remoto, hoje são
nada mais do que uma porcaria. As instalações são precárias, os professores são
semianalfabetos, os alunos são candidatos às sombras da ignorância eterna.
Porque é mais fácil investir na Academia do que nos ensinos básico e
fundamental.
A Academia você resolve com dinheiro, tudo o que a Academia
quer é dinheiro. Mas e as crianças? Como dar uma educação verdadeiramente
sólida, plural e universal às crianças do Brasil? Como cuidar delas, dando-lhes
atenção, prevenção, saúde, segurança? Educação básica e fundamental igualitária
resolve quase tudo, até o problema da inclusão racial. Mas para isso é preciso
projeto, inteligência e consciência. Para isso é preciso esforço. Busca de
soluções, não de culpas. Para isso não basta distribuição de dinheiro.
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