RUTH
DE AQUINO
08/11/2013
20h01 - Atualizado em 08/11/2013 20h01
A abominável Tati das Neves
A
morena obteve uma proeza: milhões viram o vídeo em que ela sai do quarto de
Justin Bieber
Existe
uma lenda sobre o selvagem, metade homem e metade macaco, que perambulava pelas
montanhas da Índia e ficou conhecido como “abominável homem das neves” ou yeti,
em tibetano. No mês passado, um pesquisador de Oxford, na Inglaterra, afirmou
que o monstro não passava de uma subespécie de urso-polar marrom. Se a pesquisa
estiver certa, o mistério das pegadas gigantes foi finalmente desvendado. O
yeti não teria nada a ver com humanos. Seria um reles urso híbrido. Cai assim o
mito da besta cabeluda que alimentou tantas histórias de terror.
O mais incrível é que o mundo humanoide não
aprende. A sensação é que estamos cada vez mais sucumbindo à espécie dos seres
híbridos, como a recente subcelebridade Tati Neves e seu par, o cantor dublê de
pichador e enfant terrible Justin Bieber, de 19 anos. Essa morena turbinada,
especialista em exibir biquinhos, seios, coxões e bumbum em seu Facebook,
candidata a musa do Brasileirão 2013 pelo Flamengo, conseguiu a proeza de
atrair mais de 15 milhões de visualizações para um vídeo de 15 segundos que ela
publicou no YouTube. Quinze milhões. Até sexta-feira passada. É um espanto. E é
também uma sacanagem com o supermala-pop Justin Bieber.
Atenção,
qualquer um hoje está sujeito a ser exibido como troféu seminu, dependendo de
com quem anda. Há rumores de que o movimento Procure Saber protestará contra a
invasão da privacidade de Bieber, em nome de todos os artistas...
O
vídeo tosco mostra Bieber dormindo na cama e Tati saindo do quarto e mandando
um beijinho ao astro apagado. Surgiram na rede várias suposições para o
encontro: 1) os dois jogaram muito dominó, tomaram um Ovomaltine e ele caiu no
soninho; 2) ela só mora na casa ao lado e passou para deixar umas ervas –
medicinais – para ele; 3) dizem que a especialidade dela é usar um cinto sexual
na cintura, dotado de um...
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Na
imprensa sensacionalista fora do Brasil, a ousadia de Tati a transformou em
“Brazilian prostitute”, “Brazilian transexual”. Os assessores de Bieber
defenderam a moça. Dizem que ela não é prostituta. E defenderam a honra de seu
cliente. Negaram ter havido sexo. A verdade seria outra. Depois da festa na
casa que Bieber alugou no Rio de Janeiro, dizem os assessores, ele dormiu, e
Tati aproveitou para filmá-lo. Essa é a melhor versão para ambos. Em seu perfil
no Facebook, Tati se chama de modelo e sambista, campeã carioca de “wellness”,
categoria de fisiculturismo, e se exibe em foto com a atriz Susana Vieira na
escola de samba Grande Rio.
A
linguagem de Tati é tatibitati: “flamengo dês de quando era criança”; “partiu
churras”; “dia ótimo role #praia #surf muito bom amei”; “boa tarde a todos meus
amigos. queria pedir para todos me ajudar votando em min bjs bjs” (o concurso
era o Miss Vintage 2014, prêmio R$ 10 mil em dinheiro, um ano de academia, um
ano de restaurante, um ano de salão de beleza, capa de revistas e muito
mais...); “sempre grata e feliz por ter ele na minha vida” (“ele” é Deus);
“depois de um almoço mara só um café ner amorzinho” (com link para a
churrascaria onde comeu). Tati, com quase 13 mil “amigos” no Facebook, dá link
para todos os bares e restaurantes que frequenta.
Tati
não é abominável. É apenas um produto de nossos tempos eletrônicos e selvagens,
que redefiniram as previsões do papa pop Andy Warhol. Ele dizia, em 1968, que
todos nós, no futuro, teríamos direito a 15 minutos de fama. Agora, em 15
segundos uma fã se torna famosa mundialmente por insinuar sexo com um ídolo
ainda teen. E não sabemos por quanto tempo Tati aproveitará a onda. É
abominável essa mistura de verdade e ficção privadas, nos vídeos das
subespécies que bombam na web. A violação das quatro paredes só tende a
aumentar, porque todos se expõem em detalhes que, até pouco tempo atrás, seriam
confidências íntimas.
Enquanto
isso, no mundo real que quase não dá audiência, li na semana passada que o
número de estupros no Brasil supera o de homicídios dolosos. Foram 50.617
mulheres estupradas em nosso país em 2012. Isso significa 138,6 mulheres
estupradas por dia, quase seis por hora. Isso sim é um escândalo abominável –
que deveria deslanchar uma série de medidas governamentais, de campanhas
educativas a penas mais rigorosas. Mas passa batido. Dói ler sobre um crime tão
covarde quanto o estupro. Mais fácil ler fofoca, não?
O
povo se entrega a uma catarse, criada pelas subespécies que pululam na rede.
Vivemos o “apocalipse now”. Só desligando todos os aparelhos, é possível
escapar do contato visual com milionários que arrotam fortuna e garotas que
arrotam sexo. O encontro de Tati e Bieber não agrega nada a ninguém e, no fim,
quem diria, os dois se igualam no espaço de 15 segundos registrados por um
celular.
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