05
de novembro de 2013 | N° 17605
LUÍS
AUGUSTO FISCHER
Pensar em alemão
Caetano
Veloso, no tempo em que ainda era um libertário e não pagava esse mico mundial
de defender censura prévia, fez a piada precisa, ao observar com uma saudável
irreverência terceiromundista: “Se você tem uma ideia incrível / é melhor fazer
uma canção; / está provado que só é possível / filosofar em alemão”. Isso foi
ainda no tempo da Guerra Fria, ano da graça de 1984, quase 30 anos faz.
De
fato, fazer canção que saiba conter e expressar temas complexos, cheios de
matizes, é coisa que a cultura brasileira soube e sabe fazer bem, no melhor nível
imaginável para as limitações do formato canção. (Canção é aquela combinação de
melodia e letra, inseparáveis, que dura mais ou menos três minutos e a gente
aprende fácil.)
Nisso,
como em outras formas artísticas breves (crônica, conto, caricatura, foto,
piada etc.), o Brasil se dá bem. Já para o pensamento filosófico sistemático,
que requer textos extensos, com períodos que levam até mais de página para se
firmarem e redes conceituais finas, o Brasil não é parâmetro para nada. Melhor
procurar em alemão.
E em
alemão tem, agora, um livro-guia de grande qualidade. A editora Cosac Naify lançou
dois volumes com o título Pensamento Alemão no Século XX, com organização de
Almeida e Wolfgang Bader, em edição caprichada, que dá gosto.
O
leitor acha estreito o marco temporal, século 20? Então me diz se não vale a
pena conhecer, em artigos monográficos escritos por especialistas, em sínteses
panorâmicas, pensadores como Weber, Freud, Heidegger, Hannah Arendt, Adorno,
Marcuse (no primeiro volume) ou Reich, Jung, Lukács, Popper, até mesmo Einstein
(no segundo). Eu gostei demais do ensaio sobre Erich Auerbach, um de meus
modelos de comentaristas de literatura, escrito pelo especialista em sua obra
que é Leopoldo Waizbort.
Nada
mau entrar nessa conversa, ainda mais para aproveitar que em 2013 é a Alemanha
o país homenageado na nossa Feira do Livro de Porto Alegre.
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