09
de maio de 2013 | N° 17427
L.F.
VERISSIMO
Dois +
dois=?
Um
economista americano desconhecido estava revendo a tese de dois economistas
muito conhecidos, que provava que a responsabilidade fiscal e a austeridade nos
gastos sociais favorecia, em vez de atrasar, como diziam alguns, a recuperação
econômica, e estava sendo usada por economistas oficiais para justificar o
aperto aplicado pela maioria dos governos do mundo contra a crise, quando
descobriu um erro. Não um erro de posicionamento, de interpretação ou de
redação – um erro de matemática. Certas contas não fechavam.
Dois
mais dois simplesmente não davam quatro. O economista desconhecido publicou sua
descoberta, o que o tornou conhecido, e os dois economistas conhecidos
reconheceram seu erro, mas não lhe deram importância, o que os tornou cúmplices
declarados do massacre que a tese deles continua causando.
A
certeza de que com o tempo a austeridade se justificará, demonstrada claramente
nas contas erradas da dupla, só conseguiu transformar “austeridade” em
palavrão, nos países em que a maioria da população continua pagando, com
desemprego e miséria, pelos desmandos dos seus governos e a ditadura do capital
financeiro, responsável pela crise.
Mas
talvez haja uma explicação que absolva os dois economistas conhecidos. É
difícil imaginar que eles não tenham recorrido aos seus lepitopes, ou aos
lepitopes de assistentes, para fazer suas contas. (“Veja aí, dois mais dois
quanto dá?”) E os lepitopes podem ter fracassado. Hoje confiamos tudo ao
computador, por que não confiar na sua matemática? E a sua matemática pode
entrar em pane. Me lembrei da história do Millôr sobre o último homem do mundo
que ainda sabia contar nos dedos.
Um
dia, todos os sistemas interligados do mundo caem. Ninguém mais consegue
escrever sem um teclado, o que dirá fazer contas sem uma calculadora
eletrônica. Recorrem ao homem, que cobra caro pelo seu serviço. E o fornece
tranquilamente, certo de que, se errar nas suas contas primitivas, não haverá
como comprovar o erro. Ele será a autoridade final em todas as contas.
A
austeridade não está dando certo em nenhum lugar do mundo, muito menos nos
países mais sacrificados pela crise como Grécia e Espanha. Na Inglaterra, as
pompas fúnebres para Margaret Thatcher, Mrs. Austeridade, também foram, um
pouco, uma celebração provocativa do aperto promovida pelo governo conservador.
O neoliberalismo dando um último chute no “welfare state” antes de ser
canonizado.
Dois
+ dois = ?
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