Ruínas
“Um monge descabelado me disse no caminho: “Eu queria construir uma ruína. Embora eu saiba que ruína é uma desconstrução. Minha idéia era de fazer alguma coisa ao jeito de tapera.
Alguma coisa que servisse para abrigar o abandono, como as taperas abrigam. Porque o abandono pode não ser apenas de um homem debaixo de uma ponte, mas pode ser também de um gato no beco ou de uma criança presa num cubículo.
O abandono pode ser também de uma expressão que tenha entrado para o arcaico ou mesmo de uma palavra. Uma palavra que esteja sem ninguém dentro. (O olho do monge estava perto de ser um canto.) Continuou: digamos a palavra AMOR.
A palavra amor está quase vazia. Não tem gente dentro dela. Queria construir uma ruína para a palavra amor. Talvez ela renascesse das ruínas, como o lírio pode nascer de um monturo.” E o monge se calou descabelado.”
MANOEL DE BARROS
O Bom e o Mau Orgulho
"O Bom Orgulho é “perdoado” porque está vinculado às reais qualidades do indivíduo. É um misto de dignidade e profunda auto-aprovação. O Bom Orgulho é permitido a todos aqueles que desempenham seus papéis a contento, isto é, com eficiência e discrição, tanto em funções de alto destaque quanto nas mais simples e apagadas rotinas.
O Bom Orgulho, qualidade do tipo EU Solar, desenvolve melhor seus dons, transformando-os em talentos, pois sabe que poderá ser mais útil à sociedade e a si mesmo se cultivar suas reais qualidades, uma certa dose de auto-suficiência e alguma independência; no entanto, sabe também que o excesso é perigoso e aparentado com a megalomania. Exalta, no indivíduo, as posturas morais dignas que o direcionam para o caminho de seus ideais espirituais.
Orgulha-se de viver sua nobreza de caráter, sua faceta luminosa e evoluída.
O Mau Orgulho não tem perdão. Caracteriza um ser infantil que necessita mostrar suas pseudoqualidades como se fossem façanhas extraordinárias. Passeia pela vida como um “Pavão Solar”, exibindo uma pose de quem pode tudo e aparentando uma absurda arrogância.
É um ingênuo expondo falhas, um tolo por não perceber o ridículo de suas pretensões. É um ser pequeno que se vê grande. Uma criatura ainda no nível EGO Solar, inflado pelas exibições inoportunas e por uma idolatria do ego, porém, sempre distante da verdade."
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