A crise, meu pai, eu, minha filha
Minha filha de dezenove anos, estudante de Administração, me pergunta sobre a crise mundial. Explico sobre pessoas, bancos, contratos, hipotecas etc. Lembro de meu pai, que nasceu na Itália em 1920 e faleceu em Porto Alegre em 1987. Com doze anos, a família dele era classe média alta e tinha dois empregados em casa.
Aos 14 anos, as coisas ficaram dificílimas para o casal e os sete filhos, e ele teve que trabalhar de auxiliar de operário numa fábrica. Aos 19, ingressou no exército italiano, na II Guerra. Deu no que deu. Depois, com muito esforço e sem nenhum dinheiro, formou-se Geômetra (no Brasil, agrimensor, curso de nível médio).
Trabalhou numa empresa de construções e aí um ex-pedreiro dela, que tinha vindo para Nova Prata, no Rio Grande do Sul, lhe escreveu, dizendo que poderia ser chefe de obras da prefeitura de Nova Prata. Aos 29, com minha mãe, de 21, meu saudoso irmão, Gianfranco, de quatro meses, Alberto Cimenti, com quase nada no bolso, veio para o Brasil.
Trabalhou nas prefeituras de Nova Prata e de Bento Gonçalves, onde nasci, e depois passou a trabalhar por conta própria. Teve três empresas construtoras, sendo que a última durou 38 anos. Quando meu pai faleceu, ele era empregador de mais de 500 pessoas e nos deixou, além de herança material, exemplos de ser, de amar, de viver, de conviver e de construir verdadeiramente inesquecíveis. Ele sempre me dizia: "A crise vem aí, te cuida!
Procura não pedir dinheiro a bancos, pede para pagar à vista com desconto, aproveita para economizar quando dá, gasta menos do que ganha, procura ter tua casa, não te esquece que é preciso trabalhar e que o melhor não cai do céu, evita processos judiciais tanto quanto possível, trata todo mundo com a mesma educação e cortesia.
Lembra que às vezes a melhor maneira de ganhar uma discussão é não iniciá-la, não esquece que o dia tem 24 horas: oito de trabalho, oito de descanso e oito de diversão, não te esquece que sempre vai encontrar alguém mais esperto que tu, nunca te esquece de que a família e amor são as coisas mais importantes e, de noite, antes de dormir, reza."
Vinte e dois anos depois que o pai foi para outras dimensões, suas palavras, seu exemplo e suas atitudes me tocam muito, quase todos os dias, e, por isso, tomei a liberdade de dividir essas coisas boas com vocês, meus pacienciosos e queridos leitores.
São histórias e lembranças que, de repente, ajudam a gente a enfrentar mais esta crise e a seguir em frente, com seriedade, trabalho, amor e, claro, muita alegria, vinho, comida boa e bom humor. Obrigado, mais uma vez, pai!
Jaime Cimenti
Um comentário:
Abraço a toda familia !
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