13 de abril de 2009
N° 15937 - LUIZ ANTONIO DE ASSIS BRASIL
Entre Pascal e Descartes
Por um lado, o pensamento analítico e racional, representado por Descartes; por outro, o sentimento atormentado, jansenista, pré-romântico e pré-existencialista de Pascal. Entre um e outro vive o Sul.
Algumas guerras, revoluções e certos governos são nosso lado pascaliano. Fomos movidos pelo impulso quando o General Neto proclamou a independência da Província.
Um gesto heroico, que não levou em conta as terríveis consequências. O duelo entre Onofre Pires e Bento Gonçalves, primos um do outro, e que acabou pela morte do primeiro e o arrependimento do segundo, representa o quanto essa veia às vezes pode nos dominar.
Em 1893 levamos nossa emoção ao ponto do drama, num embate bárbaro e sanguinário que não nos honra. O mesmo sucedeu na revolução de 1923 e, depois, no episódio da Legalidade.
Mas temos um lado cerebral e cartesiano: basta pensar em dois nomes: Júlio de Castilhos e Borges de Medeiros. Castilhos representa o cérebro capaz de redigir a primeira constituição positivista do mundo. Foi obra dele, inteira, dizem os historiadores.
Em sua sequência vem Borges de Medeiros, fala mansa, articulador perspicaz, cujo autoritarismo deixa entrever um espírito lúcido; não por nada comandou o Estado “com mão de ferro sob luva de pelica” – como se diz. Getúlio Vargas, essa esfinge histórica, conseguiu uma proeza única: foi cartesiano ao articular a Revolução de 30 e foi pascaliano ao escolher o suicídio e impor seu drama a todo o país.
E basta lembrarmos os últimos governos – esses que vivemos como adultos. Entre um e outro período racionalista, emerge a matriz emocional: é quando temos, no Piratini, pessoas que se notabilizam por declarações e atitudes exasperadas. Num lance errático de xadrez apostam toda a sua vida política. E a do Estado.
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