sexta-feira, 12 de setembro de 2008



11 de setembro de 2008
N° 15723 - PAULO SANT’ANA


Assaltado quer notícia

Eu recebo em média um e-mail por dia com relatos de leitores que foram assaltados: de mão armada, os ladrões levaram seus carros e outros objetos.

Só que me escrevem, portanto, 365 pessoas assaltadas por ano.

Eu, durante todos esses tempos, nunca atinei por que me escrevem. Mas, matutando, descobri.

Estas pessoas correm risco de vida nos assaltos, pensam que vão ser baleadas, temem morrer.

Para elas, é o maior acontecimento de suas vidas. No entanto, quando abrem o jornal, não vêem nada noticiado. Ficou tão banalizado o assalto à mão armada, que não interessa mais ao jornal.

Então elas me escrevem e escrevem para o jornal (ainda ontem ZH publicou um relato de assalto desse tipo), na esperança de que obtenham repercussão para um fato que lhes impactou profundamente.

Elas não conseguem compreender como um episódio que lhes causou terror e grande prejuízo não seja noticiado.

Então, elas me escrevem num desabafo, achando que podem me impressionar. Na verdade, eu também atuo tocado pela indiferença geral quanto aos assaltos, eles são tantos, são milhares, que já não chamam a atenção.

Mas para quem foi assaltado é o fato mais importante de sua vida.

Foi por isso que me penalizei com o jovem publicitário que foi vítima de um assalto à mão armada e tenho a certeza de que com a publicação de seu e-mail, abaixo, ele se sentirá indenizado pelas perdas psicológicas e materiais que sofreu.

“Olá, Sant’Ana, gostaria de contar uma história que, infelizmente, é verídica. Faço-o na infantil esperança de quem é jovem, de que a divulgação possa redundar em positiva conseqüência.

Eram exatamente dez horas da manhã, já tinha estacionado meu carro numa esquina da Rua Eduardo Chartier, um Peugeot 206 (ano 2005, cor prata e placa IMK-7281), e saía deste em direção ao estúdio de som, onde pretendia gravar algumas músicas.

Foi quando pegava meu violão que avistei um rapaz que dobrava a esquina seguindo em minha direção, fiquei olhando para ele, um rapaz de estatura baixa, pele morena, olhos grandes e finos nas pontas, com um cabelo curto e ondulado.

As roupas eram largas, de estilo muito característico àqueles dos que freqüentam a praça conhecida como IAPI para andar de skate.

Ele passou ao lado do automóvel, cruzou a frente do carro e se dirigiu à porta quando, bloqueando a minha frente, levantou a camisa e sacou um revólver. Antes que ele pudesse apontá-lo para mim, saí do carro com as mãos erguidas, e deixei-o livre para pegar o que quisesse.

Quando ele saiu com meu carro e dobrou a esquina rumo à Assis Brasil, veio o alívio. Nos primeiros minutos seguintes ao assalto, nada faz sentido, o coração disparado, as mãos trêmulas e a mente sem conseguir entender direito toda a gravidade do momento vivido. Sentei-me na calçada ao lado da mulher que calmamente varria a rua.

– Ele te assaltou? – Sim...

Nessa quarta-feira, fazia uma semana que havia voltado para Porto Alegre, depois de seis meses estudando em um país da Europa. Antes de voltar, meus pais já haviam me alertado:

– Quando chegar a São Paulo (aeroporto), te lembra que estás no Brasil e toma cuidado.

Era a segunda vez que dirigia meu carro desde que voltara e deste modo não o tinha segurado, não tive tempo suficiente de fazê-lo. Azar? Talvez...

Nos últimos três anos, meu carro foi alvo de furtos por quatro vezes, até que acabou sendo roubado de vez.

É horrível ter de admitir que a terra que se ama, onde você tem as suas raízes, a sua família, os amigos, enfim, a sua identidade, não te oferece condições dignas de viver ou até sobreviver.

Estamos em guerra, os bandidos atacam uma sociedade indefesa e com medo, quem vencerá? Tento pensar que tive sorte de sobreviver, mas é difícil não temer o próximo. Esse foi o meu ‘Seja bem-vindo...’ (ass.) Alexandre, 22 anos, publicitário”.

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