quinta-feira, 31 de outubro de 2013


31 de outubro de 2013 | N° 17600
ARTIGOS ZH - David Medina da Silva*

O tornozelo e o calcanhar

Depois de observar tantos crimes praticados pelos portadores de tornozeleiras eletrônicas, não tenho dúvida quanto ao acerto da decisão do Ministério Público de não participar do termo de cooperação para implantação do programa no Rio Grande do Sul. Nunca fomos contra o emprego dessa tecnologia. Apenas não concordamos com a sua implantação em situações fora das hipóteses legais, como aconteceu.

O programa prevê a concessão de prisão domiciliar, com monitoração eletrônica, para presos em regime semiaberto. Ocorre que o regime semiaberto abriga toda sorte de delinquentes, incluindo assaltantes e traficantes, para os quais a prisão domiciliar constitui verdadeiro incentivo à prática de crimes.

Tão certo quanto líderes comandam o crime de dentro das casas prisionais, é verdade que o fazem com muito mais desenvoltura em suas próprias casas. Então, razões de segurança não justificam adequadamente o programa em nosso Estado.

Talvez se concebam razões humanitárias, focadas na falta de vagas nas prisões. Sendo assim, uma solução que esvazia presídios e superlota as ruas de criminosos não atentaria igualmente contra direitos fundamentais da população brasileira?

Enfim, a monitoração eletrônica não disse a que veio. Enquanto presos não condenados esperam encarcerados suas sentenças, os condenados vão para casa usufruir de prisão domiciliar. E os crimes praticados pelos portadores do aparato revelam que a falsa ideia de uma “fiscalização pelo tornozelo” é mais um “calcanhar de aquiles” da nossa segurança pública.

*PROMOTOR DE JUSTIÇA



31 de outubro de 2013 | N° 17600
EDITORIAIS ZH

A CRÍTICA SUFOCADA

O governo argentino desferiu um golpe mortal na liberdade de expressão ao enquadrar o Grupo Clarín na chamada Lei de Meios, chancelada esta semana pela Suprema Corte do país. Sob o rótulo de democratização dos meios de comunicação, a legislação desestrutura e fragiliza a independência do principal grupo do país num momento em que o governo da presidente Cristina Kirchner, em queda de popularidade, direciona investimentos publicitários para as empresas alinhadas com sua administração.

A referida lei, promulgada em 2009, teve claramente um objetivo bem menos nobre do que a alegada tentativa de pulverizar o controle dos veículos e evitar monopólios. O que o governo pretendeu foi atingir especificamente o Clarín, que atua de forma independente e não se alinha aos interesses da Casa Rosada.

O constrangimento criado tem exemplos na vizinhança e segue a lógica de regimes incapazes de conviver com o questionamento da imprensa e das mais variadas formas da liberdade de expressão. Por isso a situação argentina não pode ser desvinculada de um contexto de democracias autoritárias da América Latina, como Venezuela e Equador, que também tentam sufocar seus críticos, estando ou não nos meios de comunicação. O argumento do kirchnerismo, de que a lei evita monopólios, não se sustenta.

Há, sim, concorrência no setor na Argentina, e essa tem sido potencializada, ali e em todo o mundo civilizado, pelas novas mídias virtuais, que desafiam modelos consagrados, constrangem regimes antidemocratas e facilitam a produção e a transmissão de informação e entretenimento.

É evidente que o incômodo do qual o governo tenta se livrar é o da imparcialidade e da diversidade, ao mesmo tempo em que, como alertam organismos internacionais ligados ao jornalismo, contempla com fartas verbas da propaganda oficial e outros afagos os setores alinhados às suas ambições. A lei que atingiu o Clarín é a expressão do poder discricionário do Estado contra uma empresa punida por sua independência.

A decisão da Suprema Corte deve ser acatada, como todas as deliberações da Justiça, o que não significa obediência sem questionamentos. O grupo estuda a possibilidade de recorrer a cortes internacionais, como último recurso para a preservação não só de sua estrutura e da sua história, mas do direito de continuar atuando com autonomia e imparcialidade.


A tentativa de silenciar parte da imprensa, antes de provocar prejuí-zos econômicos a um determinado grupo empresarial, significa uma afronta a todos os que buscam informações, em quaisquer veículos, como exercício permanente da liberdade de expressão.

31 de outubro de 2013 | N° 17600
PAULO SANT’ANA

Que sofrimento aqui em Curitiba

Bárbaro e chocante crime no Rio de Janeiro foi verificado ontem. A cabeça decepada de um homem foi deixada dentro de uma mochila na frente da casa de sua esposa, que é PM no Rio de Janeiro e serve numa UPP.

Criminosos extirparam os olhos do marido da mulher e todos os seus dentes. E deixaram ali na mochila a cabeça do marido para que ela a vislumbrasse.

É um crime inominável. Não há castigo na lei brasileira proporcional a esse horrendo atentado à vida e dignidade humanas. Só a pena de morte poderia indenizar penalmente esse terrível assassinato.

Por isso é que, depois de não ser adepto da pena de morte durante quase toda a minha vida, aderi à ideia de que o Brasil tem de adotar essa pena máxima em seus estatutos.

Um crime revoltante. E certamente os seus autores o praticaram porque sentem-se impunes e livres da ameaça de virem a ser enforcados ou eletroplessados. O homem foi morto pelos bandidos somente porque os autores tomaram represália contra sua mulher, que é PM da Unidade de Polícia Pacificadora.

Um sogro invadiu a casa de um genro em Caxias do Sul e matou o marido de sua filha com cinco tiros.

E se os filhos do genro, se é que existem, crescerem e passarem a culpar o avô pelo brutal assassinato? Que terrível tragédia familiar!

Vim para Curitiba, onde estou hoje, para ver de perto a partida decisiva que o Grêmio disputou ontem contra o Atlético Paranaense.

Não tenho dúvida de que dias antes dos jogos o Renato Portaluppi não divulga a escalação do seu time para não ser antecipadamente criticado.

Se tivesse anunciado a escalação do Grêmio antes do jogo contra o Coritiba, o mundo desabaria sobre ele por ter escolhido Biteco e Adriano para atuarem naquele jogo.

Eu seria um que poria a boca no trombone por esse gigantesco absurdo. Olhem, queridos leitores, a derrota do Grêmio por 0 a 1 ontem foi dos males o menor.

Com 1 a 0 apenas, o Grêmio pode reverter o resultado na Arena, basta que o time jogue bem e a torcida invada o nosso estádio e leve o time tricolor à frente com vontade.

Um a zero é pouco, dá para virar.

Mas agora o Grêmio precisa se voltar para o Brasileirão, onde decide tanto ou mais que na Copa do Brasil.

Eu estava aqui em Curitiba, sofrendo como um bicho junto com a torcida Geral.

Mas valeu a pena, com o Grêmio onde o Grêmio estiver.


Que pena, que pena aquele gol que o Grêmio perdeu no penúltimo minuto de jogo. Se aquela cabeçada entra, a história seria outra.

31 de outubro de 2013 | N° 17600
MARIO CORSO

Os sem-gravata

Sou avesso a rituais. Nada me aborrece mais do que casamentos, formaturas, missa para qualquer coisa, aniversários pomposos, tudo o que pede protocolo e roupa apropriada. Vou, mas como gato no cabresto. Admito que sou um chato, que dificilmente entro na frequência das emoções alheias. Pelo menos não estou sozinho, meu desconforto traz algo da minha geração, ou pelo menos, parte dela. Deixem dizer algo em nossa defesa: não se trata de misantropia gratuita.

Quem nasceu nos anos 50 e 60 viveu, fez, ou sofreu a revolução dos costumes. Depois dessa revolução, o mundo nunca mais foi o mesmo. Graças a ela, a vida ficou menos hipócrita, mais transparente, mais livre da opinião alheia. Mas num quesito esse movimento tomou um rumo que não imaginávamos: os rituais. Pensávamos que eles iriam declinar, que o importante era viver e não representar.

Nos anos 70 e 80, eles andaram em baixa. Eu recusei a crisma, minha formatura foi em gabinete e, para os padrões de hoje, meu casamento foi espartano. Mas voltaram redobrados, hoje temos formatura togada de 1º e 2º graus... quiçá de jardim de infância. Qualquer aniversário de criança é principesco, os casamentos são todos apoteóticos. A simplicidade foi esquecida.

Para usar uma gíria antiga, o mundo voltou a ser “careta”? Não creio, aliás, foi só nesse quesito que parece que engatamos a ré. Questões sobre igualdade de gênero, ou melhor, a dissolução das certezas sobre os gêneros seguem avançando. Para meu gosto, o mundo não é lá grande coisa, mas está mais arejado. O que aconteceu então?

A minha geração não levou em conta os avisos de Guy Debord quando escreveu A Sociedade do Espetáculo. Ele abordava a espetacularização da política, e a mídia tratando tudo como um show. Ora, o desdobramento disso para a vida privada é uma decorrência lógica desse processo. Para o autor, a vida esvaziou-se de sentido e inflacionou-se de imagens.

Creio que os rituais não esmoreceram, e até ganharam mais prestígio, por fornecer essas imagens que atestam que a vida acontece. Inclusive a palavra ritual nem deveria ser usada, pois eles já não marcam uma passagem, não fazem uma descontinuidade na vida, um antes e um depois diferentes. Talvez sejam feitos em uma dose mais forte até para fazer valer algo que não consiste.

Minha geração se sente traída ao ver essas cerimônias desmedidas e por isso fica tão mal-humorada quando nos exigem a gravata. Eu já estou mais conformado, talvez esses eventos não estejam esvaziados de sentido e, sim, sejam uma nova forma de experiência, nem melhor nem pior, outra. O mundo segue, não vou deixar de viver as emoções de meus amigos e familiares. Tento deixar de ser casmurro, já comprei as gravatas, mas ainda não sei dar nó.

quarta-feira, 30 de outubro de 2013


30 de outubro de 2013 | N° 17599
MARTHA MEDEIROS

Meus favoritos

Estarei fora de Porto Alegre durante todo o período da Feira do Livro, mas para não me sentir totalmente afastada do evento, deixo aqui minha seleção de favoritos do ano, advertindo que nunca li tão pouco como em 2013, portanto, muita coisa boa ficou de fora. Um toque: antes de adquirir algum livro citado, dê uma folheada e leia a orelha – você sabe, gosto é gosto.

Melhor livro que daria um ótimo filme: Barba Ensopada de Sangue, de Daniel Galera. Foi lançado no verão passado e ainda não saiu da minha cabeça.

Melhor livro que virou filme: Eu e Você, de Niccolò Ammaniti. Estreará em novembro, com direção de Bernardo Bertolucci.

Melhor livro de crônicas: Um Operário em Férias, de Cristóvão Tezza, um autor que circula com desenvoltura por todos os gêneros e merece o título de um dos maiores escritores em atividade.

Melhor livro que encerra a discussão sobre a diferença entre literatura masculina e feminina: o excelente Partir, da carioca Paula Parisot. É um road book: um homem vive uma série de experiências na estrada, ao deixar São Paulo rumo ao Alasca – pois é, logo ali, o Alasca. Escrevendo na primeira pessoa, Paula dá vida a um cara convincente, que em nenhum momento é traído pela feminilidade da mulher que o inventou.

Melhor livro de esposa de autor consagrado: O Verão sem Homens, de Siri Hustvedt, que vem a ser a senhora Paul Auster.

Melhor romance: Philip Roth, sempre ele, com seu magnífico O Professor do Desejo.

Melhor livro de bolso: Carta ao meu Juiz, de George Simenon.

Melhor livro que reli: O Apanhador no Campo de Centeio, que virou musical em cartaz atualmente em Porto Alegre. Mais um exemplo do amadurecimento do nosso teatro. Direção, coreografia, elenco, adaptação – a turma arrasa, e ainda tem as canções especialmente compostas para a peça pelo Thedy Corrêa. Assista logo, a temporada está quase acabando. É imperdível.

Melhor livro experimental, o que for que isso signifique: Miranda July com seu interessante O Escolhido foi Você.

Melhor livro divertido e com ótimos diálogos: O Substituto, de David Nicholls.

Melhor livro lançado em 1923, mas que só fui ler agora: A Consciência de Zeno, de Italo Svevo.

Melhor livro gaúcho: bom, em terra de Fabrício Carpinejar, Cíntia Moscovich, Leticia Wierzchovski, Paula Taitelbaum, dos veteranos Armindo Trevisan, Verissimo, Lya Luft, Assis Brasil, do patrono Luis Augusto Fischer, dos jornalistas David Coimbra, Mariana Kalil, Cláudia Laitano, do médico e colunista J.J. Camargo e de tantos outros talentos com livro na praça, não me atreverei a escolher um só. Mas o prêmio de mais hilariante relato sobre a praga que é telefonar para os serviços de atendimento ao consumidor vai para o conto “Hormônio do Demônio II”, que está em Sangue Quente, de Claudia Tajes.

Como se vê, tem para todos os gostos, inclusive (espero) para o seu.

Boa Feira!



30 de outubro de 2013 | N° 17599
EDITORIAIS ZH

A polícia que mata

Fatos ocorridos em São Paulo são representativos da violência exacerbada nas ruas do país. Os assassinatos de dois jovens por policiais militares, em bairros da capital paulista, devem ser repudiados, assim como a agressão covarde sofrida por um oficial da corporação, durante protestos na mesma cidade. As mortes, domingo e ontem, podem ter ocorrido em abordagens desastradas, expondo o despreparo combinado com a prepotência de setores das forças de segurança, que tem exemplos também em outros Estados.

O primeiro episódio mereceu o repúdio público da presidente da República. Disse textualmente a senhora Dilma Rousseff, em postagem no Twitter, que a violência contra a periferia é a manifestação mais forte da desigualdade social no Brasil.

É elogiável que a presidente procure reforçar um sentimento de todos, mas isso certamente não basta, ou todos ficaremos apenas lamentando casos como esses. A indignação é tanta, que moradores do Jaçanã e do Parque Novo Mundo, bairros em que os rapazes residiam, também reagiram com violência, queimando ônibus, bloqueando rodovias e depredando bens públicos.

São atos igualmente condenáveis, mas que devem ser compreendidos em seu contexto, ou as autoridades e a sociedade estarão ignorando o fato de que expressam desesperança. Há na reação dos moradores a repetição de outras ações articuladas emocionalmente com o mesmo objetivo de dizer à polícia, aos governos, à Justiça e a todas as instituições que o sentimento generalizado, em especial entre as camadas mais pobres da população, é de que fracassarão todas as tentativas de punição e de reparação.


Por dia, morrem no Brasil mais de 20 crianças e adolescentes, nas mais variadas formas de violência, entre as quais as operações policiais. E a grande maioria das vítimas são moradores das periferias. As autoridades têm a missão de oferecer respostas a esse e a tantos outros episódios semelhantes, para que a violência não continue gerando mais violência.

30 de outubro de 2013 | N° 17599
PAULO SANT’ANA

Celular nos presídios

E assim vou vivendo a vida aos trambolhões, uma luz no caminho aqui, uma escuridão espessa ali, a vida de todos tem esses solavancos.

E eu vou indo, ora tímido, ora intrépido, igual se vive.

Quando gritei as injustiças, logo me fizeram calar.

Durante décadas, clamei contra o esmigalhamento dos doentes e contra a também escuridão espessa dos presídios, parece-me que ninguém me ouviu.

E sinto que vou continuar gritando. Igual se vive.

E presumo que tenho feito mais pelos outros do que por mim. E me surge uma dúvida esplêndida: quando faço pelos outros, não estou fazendo por mim? Seja qual for a resposta, igual se vive.

Sinto que sou o mais lido não pelo que escrevo, mas pela expectativa dos leitores do que eu possa vir a escrever.

O mais espetacular, por exemplo, é essa nova moda de os traficantes de drogas e assaltantes comandarem as ações criminosas de dentro dos presídios.

Diante disso, as polícias restam estupefatas: elas não têm de prender os chefes das quadrilhas. Afinal, eles já estão presos.

É incrível que, preso, o chefe da quadrilha tenha mais liberdade de ação do que se estivesse solto.

Por sinal, o Cláudio Brito tem uma sugestão: ele acha que ficaria muito melhor e menos complicado que, ao ser preso, seja entregue ao novel detento um celular novinho em folha. E eu afirmo que, se fosse assim, pelo menos se evitaria o delito de venda de celulares aos presos.

É incrível mas até hoje não se descobriu como os celulares entram nos presídios, já que os visitantes são rigorosamente revistados.

E eu fico cismando em que o fato de o crime ser chefiado de dentro dos presídios se deve a que a sociedade exatamente não conseguiu administrar os presos aqui de fora.

Se nós não mandamos nos presos, eles acabaram mandando em todos nós.

Disseram-me, e eu não duvido, que a Claro, a Vivo e a Tim já providenciaram para instalar dentro de todos os presídios lojas de atendimento para venda ou conserto de aparelhos celulares. Esse fato se deveu a que as autoridades fracassaram redondamente em interceptar as ligações de celulares no interior das cadeias.

Então liberou geral. Até para o comércio in loco.

Dizem-me que esses dias um diretor de presídio mandou um guarda ir buscar um preso na galeria. Queria interrogá-lo.

E o preso mandou dizer ao diretor, pelo guarda, que em 20 minutos estaria lá no seu gabinete, porque teria que responder a 15 ligações telefônicas que recém tinha recebido.

30 de outubro de 2013 | N° 17599
LUCIANO ALABARSE

No embalo das polêmicas

Sou de um tempo em que homem era homem, mulher era mulher, e gays eram gays. Nem todos foram felizes para sempre, mas o mundo girava, nítido e funcional. Agora não. Artistas como Perfume Genius e Conchita Wurst embaralham o ambíguo tabuleiro sexual contemporâneo, misturando gêneros e disseminando confusões. Esqueça Boy George e Antony Hegarty (se você nunca ouviu Antony Hegarty, não sabe o que está perdendo!).

A androginia desses dois cantores parece coisa de um passado ultrapassado. Conchita Wurst, símbolo da nova onda, nasceu homem, adotou esse nome estranho – referência aos órgãos sexuais feminino e masculino, é uma linda mulher barbada, tem uma voz incrível e, soube pelo jornal, faz questão de manter a barba rala, ser homem e mulher ao mesmo tempo. “Nosso futuro é imprevisão”, como diria o Duca Leindecker.

Responderia com um singelo “eu” à velha pergunta tropicalista “quem lê tanta notícia?”, pois ler jornais é um vício do qual sou adicto. Acompanho polêmicas e críticas culturais, convicto de que precisamos delas. Entre os ecos dos discursos destemperados de Frankfurt e as controversas argumentações do Procure Saber, foi um comentário da Folha de S. Paulo sobre Embalar, o último CD da Ná Ozzetti, o que me tirou do sério. Ná nunca cantou tão bem, um repertório luxuoso, arranjos e ousadias vocais que, para o crítico, resultaram em um trabalho racional e sem emoção. Jesus! O disco me arrepiou do começo ao fim, e o cara dizendo que o disco era “frio”.

Vulcânico como os incendiários trabalhos de Elis, sempre acusada de privilegiar a técnica em detrimento da emoção, Embalar é um dos melhores discos do ano. Escrever críticas, sabemos, é flertar com o fio da navalha. Há que conjugar análise técnica com capacidade de verbalizar emoções, e transitar com precisão de um estado para o outro. Sem crítica, não existe maturação do trabalho artístico. Mas, sem maturidade emocional, não há boa crítica. A Carta a um Crítico Severo, do Deleuze, ainda é tudo o que se poderia dizer sobre o assunto.

Numa sociedade contaminada pela barbárie das banalidades, Medeia Vozes, a nova peça do Oi Nóis, nos oferece um teatro radicalmente transformador e uma atuação inesquecível de Tânia Farias no papel-título. Se você mora em Porto Alegre e nunca acompanhou um espetáculo do grupo, saiba que é uma experiência obrigatória, um orgulho real para a nossa cidade.

O teatro gaúcho vive um ano de ouro, uma das melhores temporadas das últimas décadas. Deixe a preguiça e o preconceito de lado, e “ouça um bom conselho que lhe dou de graça”: vá conferir o trabalho dos nossos artistas, pois o teatro gaúcho é muito bom.

terça-feira, 29 de outubro de 2013


29 de outubro de 2013 | N° 17598
ARTIGOS ZH - Gilberto Schwartsmann*

E como ficam os pacientes do SUS?

A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) decidiu pela obrigatoriedade da incorporação de mais de 80 procedimentos para beneficiários de planos de saúde individuais e coletivos a partir de janeiro do próximo ano. Com isto, mais de 30 novos medicamentos de uso oral, utilizados no tratamento de pacientes com câncer, bem como vários exames diagnósticos, passarão a ter cobertura pelos chamados planos de saúde.

Diz o ministro da Saúde que se trata de uma “mudança de paradigma, que dará ao paciente com câncer melhor qualidade de vida!”. É óbvio que devemos comemorar esta conquista, pois isto significa um inestimável benefício aos pacientes com câncer que possuem seguros privados.

Infelizmente, a medida deixa de fora ao menos 75% dos pacientes com câncer do país, que dependem exclusivamente do Sistema Único de Saúde (SUS). Estes continuarão humilhados, nas longas filas de espera, onde tudo é difícil. E com direito a apenas um número restrito de medicamentos que o governo hoje oferece.

Minha experiência no atendimento de pacientes com câncer não é pequena. São décadas dedicadas ao serviço público. Muitos pacientes passam por uma verdadeira via-crúcis até iniciar o tratamento. As estruturas administrativas da saúde são lentas, burocráticas e impessoais. Perde-se um tempo precioso com a falta de eficiência do sistema.

O pobre, que já passou por esta experiência com alguém da família, sabe bem a que me refiro. No Brasil real, depois de uma longa e sofrida espera, os exames e tratamentos oferecidos pelo SUS aos pacientes com câncer nem sempre são tão acessíveis e os mais modernos. Além disto, a remuneração paga pelo governo aos hospitais públicos é muito abaixo do necessário, com reflexos na qualidade do atendimento e obrigando os gestores a fazer milagres para não ter de fechar suas portas.

Chega-se ao ridículo de médicos renomados, em instituições acadêmicas, buscarem a participação dos pacientes em tratamentos experimentais, não tanto pelo entusiasmo com as novas perspectivas científicas, mas pelo fato de a pesquisa garantir ao paciente, de forma gratuita, o acesso a um medicamento já disponibilizado pelos planos de saúde privados, mas ainda indisponível pelo SUS.

Sugiro que o Ministério da Saúde estenda esta nova vantagem aos brasileiros mais pobres, que dependem exclusivamente do SUS. Do contrário, estes continuarão vivendo a humilhação de sempre. É impossível comemorar essa conquista tão importante da minoria, sem pensar no sofrimento da maioria.

Por que não aproveitar o momento e melhorar o atendimento de todos os pacientes com câncer? Dizem os economistas que isto significaria, mensalmente, um acréscimo de custo de apenas R$ 0,39 por usuário. Não seria prejuízo para o governo. Pelo contrário, seria investimento. E reforçaria o seu compromisso de realmente melhorar a vida das pessoas.

Que bela bandeira exigir igualdade de tratamento para a maioria mais pobre e sofrida que depende unicamente do SUS!


*MÉDICO E PROFESSOR

29 de outubro de 2013 | N° 17598
PAULO SANT’ANA

Agressão à bolsa popular

Zero Hora de ontem acertou na mosca e na manchete: enquanto a inflação dos últimos 18 anos da moeda chamada de real aumentou em 261%, contas como as de luz, telefone, transporte público e planos de saúde tiveram aumento exagerado de 474%, em média.

Ou seja, o bolso do brasileiro foi agravado por quase 100% de aumento a mais, no que se refere à inflação divulgada pelo governo.

Eu não sei como é que o povo brasileiro resiste a essa espoliação.

Desde sexta-feira passada, clientes residenciais da CEEE estão pagando a mais pela conta da luz 13,3%, depois que se saudou que a presidente Dilma tinha congelado no ano passado os preços da tarifa de energia elétrica.

E agora a CEEE elevou os seus preços em 13,3%.

Isso que esses preços da luz, do telefone, do transporte público e dos planos de saúde são controlados adicionalmente pelo governo. Pois ainda assim sobem desproporcional e superiormente à inflação.

E, assim, a bolsa popular se vê assaltada pelo custo de vida, o que quer dizer que os brasileiros ganham cada vez menos.

Imaginem se vão calcular esses preços em relação aos aumentos salariais dos brasileiros, então o alarma e a espoliação serão ainda maiores.

Não tem explicação que Renato tenha anteontem deixado no banco Zé Roberto e Elano e tenha escalado no time titular Matheus Biteco e Adriano, que não jogam nada e que por isso não jogaram nada durante a partida em Curitiba.

Não tem explicação.

Como não tem explicação que Renato tenha poupado para o jogo de anteontem Rhodolfo, Ramiro e Souza, quando se sabe que o Tricolor está jogando todas as chances de classificar-se para a Libertadores, através do Brasileirão, tanto que caímos, em face da vergonhosa goleada sofrida para o Coritiba, do segundo para o terceiro lugar na tabela e no G-4.

E não sei de onde o Renato foi tirar que ao iniciar-se o Brasileirão havia prognósticos de que o Grêmio seria rebaixado.

Não sei de onde Renato tirou isso. Simplesmente porque ninguém, absolutamente ninguém, disse tal absurdo.

Renato entrou nos últimos dias em surto delirante.

Este presidente Fábio Koff é mesmo competente.

Pressionado insistentemente para renovar com antecipação o contrato de trabalho do treinador Renato, Koff não renovou o compromisso até agora.

E faz muito bem. Renato tem de renovar o seu contrato com o Grêmio para 2014 somente em duas hipóteses: se for classificado para a Libertadores do ano que vem ou se vencer a Copa do Brasil.

Não desejamos que Renato não leve o time à Libertadores nem que ele não seja campeão da Copa do Brasil. No entanto, são possibilidades viáveis as duas. E, se elas acontecerem, caso Koff antecipasse para já a renovação de Renato, como ficaríamos?

Ficaríamos atrapalhados com a precipitação.

A renovação de um contrato milionário como seria o de Renato tem de ter bases sólidas: no caso, que Renato seja vencedor ao final deste ano.


Enquanto não ganhar nada, então não se tem de renovar nada.

29 de outubro de 2013 | N° 17598
DAVID COIMBRA

Eu, ridículo

Uma das poesias de Fernando Pessoa de que mais gosto é o Poema em Linha Reta, que ele assina sob o heterônimo de Álvaro de Campos.

Nunca conheci quem tivesse levado porrada.

Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.

E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,

Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,

Indesculpavelmente sujo,(...)

Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,

Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,

Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,

Que tenho sofrido enxovalhos e calado,

Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;(...)

Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,

Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo

Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,

Nunca foi senão príncipe – todos eles príncipes – na vida...(...)

Poderão as mulheres não os terem amado,

Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!

E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,

Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?

Eu, que tenho sido vil, literalmente vil,

Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.

Tenho apreço especial por este poema porque, para mim, ele serve de consolo. Afinal, já fui tantas vezes ridículo na vida... Já fui humilhado por mulheres que amei, demitido de empregos dos quais não pretendia pedir demissão, já levei porrada, como diz o poeta, já passei muita vergonha, e sei que todos os dias corro o risco de passar por isso de novo.

Realmente não me acho grande coisa. Queria ser um dos campeões, um dos príncipes citados por Fernando Pessoa. Vejo tanta gente a se jactar dos seus talentos, dos seus sucessos, e eu aqui tão... normal.

Mas tem o seguinte: ao fazer essa confissão, não significa que passo por alguma crise de amor-próprio. Nada disso. Não desgosto de mim e sei que tenho meus méritos. Um deles é que consigo me recuperar dessas ridicularias e dessas humilhações. Já voltei para empregos de que havia sido demitido, e voltei por cima. Já tive de volta mulheres que amei e que me maltrataram, e elas voltaram me amando de verdade. Ou então consegui empregos melhores e mulheres melhores. Ou simplesmente fui em frente e suplantei os reveses com bom humor.

O fato é que me reergui, tenho me reerguido.

Fernando Pessoa poderia ter escrito um poema sobre isso, sobre a sobrevivência, sobre a resistência, sobre a bravura da alegria. Você perde hoje, ganha amanhã. O futebol dá essa lição todos os dias. É verdade: o Grêmio foi ridículo em Curitiba. Foi humilhado e enxovalhado. Mas amanhã vai ser outro dia. 

29 de outubro de 2013 | N° 17598
FABRÍCIO CARPINEJAR

Questão de pele

Há uma distinção fundamental entre o homem e a mulher.

A mulher prefere transar quando está à vontade, disposta, leve, com a cabeça boa. Entende o sexo como inspiração, merecimento de um momento.

Não adianta vir quente se ela estiver fervendo de raiva.

Com um problema ou um aborrecimento a resolver, não vestirá o roupão e entrará na arena. Nem por decreto. Ainda por cima, chamará você de insensível.

Se tomada de preocupação ou sobrecarregada do trabalho, não cederá aos apelos da carne. Se machucada por alguma frase ou com orgulho ferido, não assumirá o enlace. Se estiver comendo chocolate ou se sentindo gorda, nem tente convencê-la de que seu corpo é bonito.

A qualidade do contexto determinará sua vontade – antes de fazer sexo, a mulher pergunta “Onde? Como? Quando? Por quê?”. Não é de qualquer jeito e em qualquer lugar.

Já o homem é o oposto. Quer transar principalmente quando não está bem. Transa para se recuperar, para sair do desespero, para abandonar a tristeza. Pode perder o emprego e transar como antídoto, poderá estar falido e transar como esperança, pode estar acabado e transar como ressurreição. Enfrenta divórcios e separações com sexo. A ala masculina acredita que o sexo acalma mais do que cachaça e antidepressivo.

São dois extremos de comportamento.

Para a mulher, sexo é argumento. Para o homem, sexo é desculpa.

Para a mulher, sexo é eleição. Para o homem, é golpe.

Para a mulher, sexo é virtude. Para o homem, sexo é vício.

Para a mulher, sexo é resultado do dia. Para o homem, é uma nova noite.

Para a mulher, sexo é julgamento. Para o homem, sexo é perdão.

Para a mulher, sexo é concentração. Para o homem, é distração.

Para a mulher, sexo é literatura. Para o homem, é televisão.

Para a mulher, sexo depende de 100% de entrega. Para o homem, não depende de nada.

Para a mulher, sexo é comemoração. Para o homem, é salvação.

Para a mulher, sexo é escolha. Para o homem, é catarse.

Para a mulher, sexo é caminho. Para o homem, é fuga.

Para a mulher, sexo é transparência. Para o homem, é confusão.

Para a mulher, sexo é confiança. Para o homem, é provocação.

Para a mulher, sexo é confirmação de expectativas. Para o homem, é reversão do quadro.

Para a mulher, sexo é sinceridade. Para o homem, é fantasia.

Para a mulher, sexo é parte da vida. Para o homem, é o sentido de toda a vida.


E haja sexo para anular as diferenças.

segunda-feira, 28 de outubro de 2013


28 de outubro de 2013 | N° 17597
LIBERATO VIEIRA DA CUNHA

Uma ciência esquecida

Estava eu posto em sossego num restaurante, em doce enlevo com umas trufas, quando notei que me achava na alça de mira de uma deusa de idade indefinida – aposte em qualquer escore entre os 30 e os 45 anos e você acerta. Como ela se encontrava acompanhada de seu dono e senhor, concentrei-me primeiro no prato e em seguida na recordação desta despretensiosa teoria (e por que não prática?) da secada, pois é disso que volto a tratar: há muito descobri que é inesgotável.

Sou estudioso dessa esquecida ciência há décadas. Se meu leitor é vítima da infinita dissimulação das mulheres, algo que elas aprendem desde o berço, sabe do que estou falando. Você desce por exemplo uma escada rolante e, bem ao lado, só que no sentido contrário, sobe uma daquelas perfeições que só existiam na Grécia antiga ou em filmes franceses proibidos até 18. Ela o coloca bem no foco de seu olhar e aí vai se distanciando, sem dó nem piedade, para o nunca mais.

Tem a dissimulada, uma criatura magnífica, que te fita como me fitou a deusa do restaurante das trufas, mas mantêm a mão na do marido (Fred Bongusto compôs uma esplêndida canção sobre esse secreto triângulo). Há a que te olha intensamente, quase como numa intimação, em uma rua movimentada, e aí percebes que ela desapareceu na entrada de uma imensa loja, de uma galeria, de um shopping, e jamais tornará a encontrá-la.

Existe a que fala por gestos: ela não apenas te olha, mas mexe nos cabelos e, por alguma estranha razão, toca a própria nuca, como se esta fosse a sede e o foro de todos os seus interditos desejos. E não esqueço a tímida, que concede não mais que um canto de sua atenção, em miradas súbitas e logo envoltas em fingimento.

Quando eu era adolescente, havia algo que se chamava reunião dançante. Era assim: os rapazes, com seus ternos de nycron e gravata e suas cubas libres, ficavam de um lado da sala da qual fora retirado previamente o tapete; as meninas se postavam na outra breve extremidade, com seus sapatos altos, seus penteados esculpidos em laquê e seus refris. Você jamais se atrevia a transpor aquele território de assoalho, que brilhava graças à cera Parquetina, sem estar absolutamente convicto de que a eleita de seu coração correspondia às suas secadas.

Eram outros tempos, em que a gente não ousava sequer tocar em certos temas ou em certas regiões da natureza humana.

Eram tempos em que, ao som de The Platters, de Sinatra ou de Perry Como, rapazes e meninas exercitavam suavemente sobre o parquê, além da teoria e prática da secada, o brando esporte do rosto colado, e se você não sabe o que é isso perdeu metade de sua vida.



28 de outubro de 2013 | N° 17597
ARTIGOS - Paulo Brossard*

Deixando cair a máscara

Oleilão do campo de Libra, o primeiro pré-sal a ser ofertado à iniciativa privada, provocou reação cuja importância não pode ser menosprezada, basta dizer que cerca de 300 manifestantes procuraram impedir a operação oficial, e o governo, por sua vez, distribuiu 1,1 mil homens das Forças Armadas, em ruas da Barra da Tijuca, na vizinhança do Hotel Windsor, para evitar que o ato deixasse de realizar-se.

Tenho manifestado minhas inquietações acerca de expediente que vem se tornando habitual, e que consiste em converter opinião em violência, a ponto de levá-la às lindes de luta civil, embora a denominação seja cuidadosamente evitada; não fosse assim, não seria compreensível levarem-se às ruas 1,1 mil homens das Forças Armadas gratuitamente.

Em sua nudez o dado, em si vulgar, revela de maneira implacável a existência de uma força, propositadamente anônima, capaz de arrostar o poder do Estado. E, queira-se ou não se queira, ele é de indisfarçável gravidade. Qualquer que seja sua real expressão, não pode ser visto mediante comentários furta-cores, pois se ainda não enfrenta o Estado sirva-se de guerra de guerrilhas, a fim de melhor preparar-se para enfrentá-lo, o que em nada reduz sua perniciosidade, sem falar no fato de o Estado movimentar mais de mil homens armados em razão da ocorrência.

Vale lembrar que tudo começou quando da vaia à chefe do governo e não cessou de externar-se em ritmo crescente. Na época, a senhora presidente, minimizou o fenômeno ao denominá-lo de “a voz das ruas” e hoje ele legitimaria o deslocamento de 1,1 mil homens das Forças Armadas na Barra da Tijuca. Diga-se o que se disser, a história não está bem contada; nela falta alguma coisa e sobra o estilo do enigma.

Saio do assunto porque outro, diferente do apreciado, mas de imperiosa relevância, não poderia ser silenciado. A importação de cubanos para, sem a revalidação de suas graduações, aqui exercerem a medicina sem observância das normas historicamente vigentes entre nós tem gerado generalizado desagrado. Ao demais, a simples distribuição de cubanos em lugares carentes não resolverá o problema, pois em São Paulo, e me limito a falar no grande Estado, há numerosos lugares sem as condições materiais de funcionamento de serviço médico; não falo um hospital, nem mesmo em modesto centro de saúde necessário ao elementar serviço médico.

Diante dessa realidade, aliás, fartamente noticiada, a candidata à reeleição, confirmando declaração anterior de que na sua campanha eleitoral era uma “fera”, a senhora presidente passou todos os limites a ponto de infringir em cheio a Lei de Responsabilidade. De um médico formado em nossas faculdades de Medicina exige-se a observância de condições gerais para exercer a medicina, aos médicos importados, aliás, em condições de discutível e supostas credenciais, as portas são abertas sem as necessárias exigências aos profissionais brasileiros.

Deixando de lado as sucessivas notícias acerca do “exame” dos importados, a senhora presidente quer pressa. Na longa Medida Provisória nº 621, tem a pretensão de estabelecer “novos parâmetros para a formação médica no país”. E não fica aí; depois de irritar-se com a relutância dos Conselhos de Medicina, a senhora presidente encomendou nova MP com o objetivo de retirar do Conselho Federal de Medicina e dos Conselhos Regionais a atribuição de emitir os registros para que médicos estrangeiros possam atuar no país; é aviltar mais de dois séculos de paciente esforço de aperfeiçoamento de que se tornou desde muito inerente à civilização.


*JURISTA, MINISTRO APOSENTADO DO STF

28 de outubro de 2013 | N° 17597
LUIZ ANTONIO DE ASSIS BRASIL

Cícero

O melhor livro sobre a velhice é de Cícero. Aliás, o título é este mesmo: A Velhice (De Senectute). Escreveu-o há dois mil anos, e, se resiste ao tempo, é porque ainda diz algo às pessoas. Esse prestígio decorre da naturalidade e da simplicidade de seus argumentos, que radicam nas experiências do autor quando confrontado com seu próprio envelhecimento.

Para entendê-lo, temos de considerar a época em que foi escrito. Não havia nada do que nos cerca, nem cabe enumerar as criações na área da ciência e da tecnologia que transformaram o mundo num espaço de conforto – para os que dele podem desfrutar, evidentemente.

Imaginemos um mundo sem comunicações instantâneas, e um mundo em que a doença, qualquer doença, era a antessala da morte. Um mundo, também, em que pessoas de 40 anos podiam considerar-se felizes por terem chegado a essa idade. Fazia sentido falar em velhice num momento em que hoje a pessoa está no máximo de sua capacidade.

Cícero utiliza um método retórico atraente: formula argumentos contra a velhice e os responde. Em geral, são as queixas habituais dos velhos (nisso não mudamos nada). Os velhos, diz ele, queixam-se da perda da memória – certo, diz Cícero, mas até hoje eu não soube de algum velho que se tenha esquecido de onde enterrou o seu tesouro (sim, não havia bancos). Sem o querer, Cícero vem apoiar os estudos atuais sobre o fenômeno: as questões relevantes permanecem na memória, a qual sabe livrar-se do supérfluo.

Que o diga o nosso Dr. Ivan Izquierdo, um dos melhores cérebros do nosso país. Mas Cícero apresenta outra queixa dos velhos: a da perda da capacidade que ele tinha nos tempos da juventude. Claro, diz Cícero, há perdas, sim, mas ninguém espera que um velho faça coisas que fazia quando jovem, não é mesmo?

O autor romano faz outras considerações importantes, e destas a mais valiosa é: devemos aprender a ser velhos logo, para que desfrutemos por mais tempo da velhice. Essas palavras podem soar estranhas para os dias de hoje, de franca invisibilidade do velho na vida social, exceto pelas filas de atendimento expresso, ou pela precedência na hora de embarque num avião.


Talvez nosso mundo ainda não saiba bem o que fazer com os velhos, e confere-lhes algumas vantagens simbólicas, que são úteis enquanto não acontece a plena integração. Mas chegaremos lá.

28 de outubro de 2013 | N° 17597
PAULO SANT’ANA

Renato: subiu pra cabeça

Renato Portaluppi decepcionou redondamente. Inventou à última hora e secretamente um tal de Matheus Biteco, que não sei de onde ele tirou. Não tem explicação o que Renato fez, deixar Zé Roberto e Elano no banco é uma demonstração de que o treinador gremista estava delirante.

Aliás, suas últimas declarações, de que quando iniciou o campeonato havia gente que opinava que o Grêmio seria rebaixado, essas declarações foram delirantes. Nunca ninguém disse que o Grêmio seria rebaixado, não sei de onde Renato tirou esse absurdo. E foram repetidas durante três dias, o que demonstra que Renato, nos últimos dias, inclusive ontem, entrou em surto.

É uma pena. Caiu a máscara da face diante da vergonhosa goleada sofrida ontem.

Só falta ele, na quarta-feira próxima, na Copa do Brasil decisiva, deixar Zé Roberto e Elano novamente no banco.

Zero Hora estampou ontem um editorial sobre o bárbaro trucidamento do pedreiro Amarildo de Souza por PMs do Rio de Janeiro.

Mas submeteu seu editorial aos leitores antes de sua publicação. E pediu sua opinião.

Dezenas de leitores apoiaram as torturas sofridas por Amarildo antes de morrer, a saber, choques elétricos, afogamento e asfixia com saco plástico.

Pasmem, dezenas de leitores opinaram e aprovaram as torturas. Disseram que assim têm de ser tratados os criminosos.

Mas que criminosos? Amarildo não era criminoso, era só pedreiro. Mesmo que fosse criminoso – e não o era – tinha de ser torturado?

Olhem, meus leitores, aqueles leitores que aprovaram as torturas se equiparam aos bárbaros torturadores do pedreiro.

Decididamente, não há salvação para a espécie humana depois que inúmeras pessoas, identificadas, aprovam a tortura sobre uma pessoa direita. Não temos mais salvação.

É porque grassam entre o público essas opiniões que aprovam as torturas, que elas se verificam, são os salvo-condutos para a tortura.

Se a sociedade por inteiro condenasse a tortura, ela não se verificaria.

Mas, como parte da sociedade aprova a tortura, ela acaba se institucionalizando.

Não é de se admirar. O ex-presidente Ernesto Geisel, respeitável general, certo dia espantou o Brasil ao declarar que em certos casos é aconselhável torturarem-se presos para arrancar deles confissões.

E não houve em nenhuma parte do Brasil qualquer protesto contra a declaração do respeitável general. Então esse é o meio social em que convivemos. Viva a tortura!


Desde, é claro, que não sejam torturados quaisquer parentes dos que aprovam a tortura.

28 de outubro de 2013 | N° 17597
ALERTA LIGADO PARA QUARTA-FEIRA

Abalo na confiança

Após uma rodada em que tudo deu errado para o Grêmio no Brasileirão, Renato Portaluppi tem pela frente um grande desafio: remotivar a equipe goleada por 4 a 0 pelo Coritiba para que, na quarta-feira, na mesma cidade, no jogo de ida da semifinal da Copa do Brasil, o resultado seja bem diferente contra o Atlético-PR.

– Tem muita equipe que tem acidente todo o fim de semana, todas as quartas. Já comecei a conversar com o grupo e vou fazer esse trabalho na parte psicológica. Vou ter meu grupo inteiro, 100%. O Grêmio vai ser um Grêmio totalmente diferente na quarta-feira – sentenciou o técnico após a derrota que fez com que o time caísse para o terceiro lugar no campeonato nacional.

O treinador classificou o insucesso no primeiro jogo da semana no Paraná como um “acidente de percurso”. Embora tenha pedido desculpas ao torcedor pelo desastroso resultado contra o Coritiba, Renato tratou de defender o grupo, destacando que seus comandados têm crédito pelos resultados obtidos no Brasileirão e na Copa do Brasil:

– Acima de tudo, o que vamos precisar na quarta-feira é de atitude. Ninguém gosta de perder como perdemos hoje. É uma pressão grande, cada vez que entramos em campo é uma decisão. Mas estamos no G-4 há 20 rodadas. E também estamos na semifinal da Copa do Brasil. Essa derrota, como veio, ninguém gosta. Mas o lado bom é que temos como corrigir. Melhor ter acontecido hoje (ontem) do que na quarta. Seria uma diferença muito difícil de tirar.

Mesmo que, no discurso externo, o clube insista em dizer que trata com igual prioridade o Brasileirão e a Copa do Brasil, as escolhas do treinador deixam clara a preferência do clube pelo torneio mata-mata. Poupar três jogadores fundamentais como Rhodolfo, Souza e Ramiro evidenciam tal ponto de vista. E, claro, a goleada sofrida para o Coritiba, combinada com a vitória do Cruzeiro sobre o Criciúma, deixou o time de Renato a 12 pontos do líder. Com 21 pontos em disputa nas últimas sete rodadas, o título é um objetivo possível apenas em mirabolantes contas matemáticas.

Apesar de contar com o retorno dos poupados na quarta-feira, Renato terá o desfalque de Vargas, Kleber e Barcos. A tendência é de que o treinador opte por uma formação mais cautelosa, com três zagueiros, três volantes, um articulador, que pode ser Maxi Rodríguez ou Elano, e um centroavante, que será Lucas Coelho ou Yuri Mamute. A confirmação, no entanto, só deve vir minutos antes de a bola rolar na partida da Copa do Brasil.

– Não vou dar qualquer dica em relação ao time de quarta. Quem não quer pressão, vá para escritório. Aí não tem pressão de ninguém, no máximo do chefe. No futebol, tem pressão e tem que saber lidar com ela. Se está no grupo do Grêmio, tem que ter compromisso. Os jogadores ganham bom salário e precisam se entregar em campo. Confio totalmente no meu grupo. Será uma batalha aqui (em Curitiba) e outra lá em Porto Alegre.


ADRIANO DE CARVALHO

domingo, 27 de outubro de 2013


Bom Fim De Semana!
Receba esta linda rosa,
representando meu carinho!
A amizade é fundamental
em nossas vidas...
por isso agradeço a Deus
pelas pessoas
que ocupam um lugar especial
em meu coração...
você é uma delas."






Bom Fim de Semana Anjo!

De onde for
Venha de onde vier
por terra, mar e ar...
Chegue quando chegar
de qualquer lua, de qualquer rua...
As portas do meu coração
estarão escancaradas
pra te abrigar...


Pra você, aqui sempre
haverá um lugar!




ELIANE CANTANHÊDE

Crescimento já!

BRASÍLIA - Já que Eduardo Campos e Marina Silva anunciam seu programa comum amanhã em São Paulo e se colocam como terceira via contra a polarização PT-PSDB, vamos ao que interessa: como garantir o desenvolvimento econômico?

A campanha presidencial corre solta a um ano das eleições, mas o que se tem até aqui é uma exibição desenfreada de Dilma, a tentativa de acomodação de Campos e Marina e o esforço de afirmação de Aécio Neves. De conteúdo, nada.

O debate fundamental, sobre o desenvolvimento, reduz-se, constrangedora ou dramaticamente, a uma guerra verbal que faz a festa dos jornais. Não sobre quem é melhor, mas sobre quem é menos pior.

Aécio classificou o crescimento do PIB com Dilma de "medíocre". Mantega rebateu no Painel, dizendo que nos tempos de FHC foi de 2,3% ao ano e, nos dez anos de PT, de 3,6%. A tréplica tucana veio rápida. Na sua contabilidade, o índice de FHC foi 2,3% ou 2,5%, em média, quando o da América do Sul ficou em 1,3%. Já o de Dilma é de 1,8%, quando a região pula para 5,1%.

Em qualquer hipótese, porém, o crescimento é pífio, compatível com a falta de estratégia brasileira e incompatível com a imensa potencialidade do país. E é isso, e não salamaleques e sacadas geniais de marketing, que deveria estar posto num momento tão crucial.

Uma questão central é a dos capitais privados e internacionais para trazer à tona as riquezas --como o petróleo das profundezas do pré-sal-- e, com elas, bem-estar, tecnologia, inovação e competitividade.

O debate é pobre, atrasado, enviesado, envergonhado e antipedagógico. O leilão dos aeroportos é um escândalo, o de Libra ficou num único consórcio, e ninguém põe a cara para falar do aumento de estrangeiros no BB. Pega mal... O que diriam os companheiros sindicalistas que protestam nas ruas?


Faltam coragem e honestidade de propósitos. O Brasil paga o pato.
ELIO GASPARI

O mundo encantado da Doutora Dilma

As fantasias do governo produzem uma euforia que desemboca na síndrome do sítio: estão todos contra nós

No Brasil encantado em que vive o Planalto, as obras do trem-bala estariam adiantadas e ele rodaria em 2016, para a Olimpíada. Felizmente, continua no papel. Depois do Enem deste fim de semana haveria outro (ou já houvera). Infelizmente, foi só promessa da doutora Dilma e do ministro Fernando Haddad.

Seu substituto, o comissário Mercadante disse que prefere gastar construindo creches. Por falar em creche, durante a campanha eleitoral a doutora prometeu mais seis mil (quatro por dia). Em abril ela disse o seguinte: "Queremos mais, muito mais. (...) Vamos chegar a 8.685 creches." A repórter Maria Lima fez a conta e mostrou que seria necessário entregar 31 novas unidades a cada dia até julho do ano que vem (13 por dia até o fim do governo). A doutora zangou-se: "Minha meta é 6.000 creches. Quem foi que aumentou para 8.000?" Ela.

Sua conta era a seguinte: em abril, havia 612 creches prontas, 2.568 em obras e 2.117 contratadas. Somando, chegava-se a 5.397. Se obras em andamento e contratadas são obras concluídas, 2010 foi um grande ano. Terminaram-se as obras da refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, e as águas do rio São Francisco foram transpostas. Promessas.

Para ficar na conta da meta de campanha, admitindo-se que a doutora já entregou 3.000 creches, até o fim do seu mandato precisa entregar pelo menos oito por dia.

O mundo encantado do Planalto desencadeia uma compulsão mistificadora. Se o governo terminar só 4.000 creches, atire a primeira pedra quem acha esse programa um fracasso. Será um grande resultado, que partiu de uma promessa exagerada. Trocando o mundo real (a obra entregue) pelo virtual (a promessa, ou o contrato), o comissariado intoxica-se numa euforia que desemboca na irritação.

A última bruxaria do encantamento partiu da doutora Magda Chambrard, diretora da Agência Nacional do Petróleo. Ela anunciou que nos próximos 30 anos o campo de Libra renderá R$ 1 trilhão. Em maio passado a mesma doutora disse que "gostaria de ter mais Eikes" no setor petrolífero. Uma semana depois, começou o inferno astral de Eike Batista e de quem acreditou nele.

O encantamento desenvolve nos governantes uma síndrome de sítio, como se o mundo estivesse contra ele. De onde Maria Lima tirou a referencia às 8.000 creches? De uma fala da doutora.

AVISO AMIGO

Há sinais de que será necessária uma chacoalhada de pessoas e políticas na condução da economia.

Depois da repercussão dos leilões aguados e das dificuldades de Eike Batista, dividem-se os empresários em dois grupos: um torce por um novo quadro, outro quer que fique tudo como está, para continuar tirando fatias do presunto de um governo atrás de credibilidade.

ALSTOM

Ou o tucanato paulista tem uma estratégia capaz de causar inveja ao comissariado petista que pretende livrar seus caciques das penitenciárias pelo mensalão, ou está numa tática suicida, jogando o escândalo do propinoduto denunciado pela Siemens para dentro da campanha eleitoral do ano que vem.

Pelas provas, depoimentos e cifras, esse caso ultrapassa, de longe, o mensalão. Ali não há domínio do fato, o que há são fatos dominantes.

EM SILÊNCIO

A Arquidiocese do Rio tirou a sorte grande por trabalhar em silêncio. Há cinco anos ela fez uma faxina nas suas contas, afastou um padre que administrava seus bens e transferiu para uma casa em São José dos Campos o cardeal Eusébio Scheid, substituído por d. Orani Tempesta. Scheid deixou o apartamento de 500 metros quadrados (R$ 2,2 milhões) que fora comprado no Flamengo. O administrador, padre Edvino Steckel, foi acusado de ter gasto R$ 14 milhões em móveis, carros e enfeites. Em 2010 seu substituto foi detido no Galeão quando embarcava para Portugal com 52 mil euros nas roupas e nas malas.

Agora o papa Francisco detonou publicamente o bispo da Diocese alemã de Limburg, que torrou 31 milhões de euros num palácio episcopal.

JOHN KENNEDY

Começa na semana que vem a avalanche dos 50 anos da morte, no dia 22 de novembro, do presidente americano John Kennedy. Juntando mito e mistério, girará em torno de dois grandes temas: foi Lee Oswald, sozinho, quem o matou? E se ele não tivesse ido a Dallas, como ficariam os Estados Unidos?

O mistério do crime prosseguirá e metade dos americanos continuarão acreditando que houve uma conspiração. Chegará às livrarias a tradução de "11/22/1963", de Stephen King. (Na rede, em inglês, sai por US$ 12,38.) Conta a história de um sujeito que viajava no tempo e foi a Dallas para impedir que Oswald atirasse. Seu melhor momento está na conclusão, escrita com a ajuda de Richard Goodwin, que foi assessor de Kennedy. Ele especula como ficaria o país se a viagem a Dallas tivesse sido cancelada.

Existem 40 mil livros sobre o presidente. Os melhores estão mais para o estilo Roberto Carlos, e a maioria é ruim. Muito acima da média, está na rede por US$ 15,20 o "Camelot's Court - Inside the Kennedy White House" (A Corte de Camelot - Por dentro da Casa Branca de Kennedy"), de Robert Dallek.

Dallek, um moderado devoto da tese segundo a qual os tiros vieram de Lee Oswald, acrescenta mais um "se".

Kennedy teria sobrevivido "se" não estivesse com o colete ortopédico que mantinha-o com o tronco erecto. Por quê? Porque, ao levar o primeiro tiro, que entrou pelas costas e saiu pelo nó da gravata, teria se curvado e o novo tiro não lhe explodiria o crânio.

UMA AULA DE FHC PARA OS COMISSÁRIOS

Em agosto de 1995, na mesma arapuca em que caiu a doutora Dilma, o programa "Café com o Presidente", Fernando Henrique Cardoso disse o seguinte:

"Passados seis meses de governo, eu quero anunciar os primeiros resultados positivos dos esforços que nós estamos realizando para combater uma triste realidade brasileira: a mortalidade infantil. E quero começar falando do município de Jaramataia, que fica lá no interior do Estado de Alagoas. Até o ano passado, 333 crianças, de cada mil que nasciam, morriam antes de completar um ano de idade. De janeiro para cá, este número caiu para 3. Vou repetir, é isso mesmo, caiu para 3 crianças em cada mil."

Lorota do mundo encantado. Três crianças mortas para mil nascidas vivas, nem na Suíça. Esse era o número de mortes por diarreia em Jaramataia, onde a mortalidade caíra de 333 para 249. Quando a fraude foi revelada, a máquina do encantamento mobilizou-se, e uma médica recebeu um telefonema intimando-a a "não deixar o presidente passar por mentiroso".

FHC paralisou a máquina, dizendo mais ou menos o seguinte: "O número estava errado? Então estava errado, e nós não temos que responder à crítica".


No caso da doutora Dilma, o Planalto explicou que entre as 8.685 creches mencionadas por ela havia obras contratadas por Lula. Fica combinado assim.